segunda-feira, 7 de março de 2016

SEXY BEAST

NOTA 4,0

Ben Kingsley é a alma de
produção que brinca com os
esterótipos dos gângsteres,
mas uma obra esquecível
Ben Kingsley é um dos atores mais renomados do cinema, carrega um título de nobreza, tornou-se famoso mundialmente após o Oscar pelo papel-título de Gandhi e é conhecido por escolher com cautela os seus projetos (há controvérsias), mas será que apenas sua presença pode salvar um filme ou ao menos torná-lo razoavelmente tolerável? A resposta é sim, basta tomarmos como exemplo a mescla de suspense e ação Sexy Beast, longa-metragem de estreia do cineasta britânico Jonathan Glazer que futuramente dirigiria Nicole Kidman no drama Reencarnação. Com um tempo de arte enxuto e usando a ironia como muleta, o diretor preparou uma história de gângster sem se preocupar em renovar o subgênero, apenas apostando na simplicidade. O roteiro de Louis Mellis e David Scinto começa de uma forma inusitada, que pode tanto aguçar a curiosidade quanto também fazer o espectador desistir de seguir adiante logo pelos cinco primeiros minutos de projeção. Durante os créditos iniciais conhecemos o ex-criminoso Gal (Ray Winstone), um homem que está longe de ter um belo corpo, mas mesmo assim ele está usando uma pequena sunga amarela, literalmente tostando sob o sol escaldante e em seus pensamentos narrados em off ele próprio se cobre de elogios e faz algumas piadas toscas como dizer que seu barrigão está tão quente que poderia fritar um ovo em cima dela. Parece brincadeira, mas a parada começa assim mesmo. Nessa introdução ainda fica no ar a impressão de que ele explora o trabalho de um menor de idade que realiza as tarefas domésticas, conhecemos sua esposa Deedee (Amanda Redman) no melhor estilo perua, imagem posteriormente revertida, e uma imensa pedra cai de um barranco e faz um super buraco na piscina do bon-vivant. Sabendo de antemão que é um filme protagonizado por um antigo fora-da-lei podemos deduzir que tal situação estapafúrdia seria a vingança de algum desafeto dele. Errado. O lance do rochedo não agrega nada a trama ou apenas serve literalmente para tapar um buraco lá no final. Bem, se você não achar ridículo tal início pode até ser que ache alguma graça no restante do enredo. Após anos dedicados aos crimes, Gal juntou uma boa quantia de dinheiro e trocou a fria Inglaterra pela ensolarada Espanha, onde agora curte a vida numa boa e não pensa mais voltar a sua antiga “profissão”. Contudo, uma vez bandido sempre bandido.

Apesar dos esforços para se manter longe de negócios ilícitos o azar parece estar batendo a sua porta. Aproveitando as coisas boas da vida na tórrida Costa de Almería, um paraíso espanhol, ao lado da esposa e do casal de amigos Atich (Cavan Kendall) e Jackie (Julianne White), o sossego de Gal é quebrado por conta de um telefonema noturno de um antigo comparsa, o perigoso e autoritário Don Logan (Kingsley) que o convoca para uma missão especial em Londres, um golpe comandado por um chefão do crime organizado, Teddy Bass (Ian McShane). O bandido aposentado não terá nem mesmo tempo de tentar fugir. Logan chega no dia seguinte já mostrando que não está lá para brincadeiras e não aceita a desculpa de que Gal abandonou a vida de crimes. Para tentar convencê-lo, este gângster com cara de poucos amigos começa a atingir seu antigo parceiro disparando críticas agressivas a sua forma física, estilo de vida e sobra até para Deedee que procura não perder a cabeça para não fazer besteiras. O grande momento do filme acontece justamente no ápice do conflito entre Gal e Logan, mas fora isso o restante da obra não empolga, inclusive a conclusão é um tanto desinteressante, mesmo com cenas bem captadas de um inusitado assalto embaixo d’água. Sem dúvidas é Kingsley quem carrega o filme nas costas com uma leve ajuda de Winstone, este que embora seja o protagonista acaba tendo sua atuação bastante comprometida devido ao desempenho extremamente superior do colega. O eterno Gandhi há anos mantém sua careca característica, mas ainda assim consegue convencer o público a cada novo papel que interpreta. Após anos vivendo tipos de pouca repercussão em produções de projeção semelhante ou até mesmo obscuras, o ator voltava a ficar em evidência com um personagem curioso que alterna momentos de selvageria, outros levemente sentimentais e em algumas situações até com um lado sarcástico acentuado. Baseando-se em suas próprias memórias afetivas, lembranças que tinha da personalidade de uma de suas avós, Kingsley conseguiu fazer uma criação que de certa forma conquista a simpatia do espectador que custa a enxergá-lo como um vilão, no fundo sua verdadeira essência. O desempenho arrasador o levou a conquistar diversos prêmios em festivais de “menor” importância e culminou a uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Foi justamente a projeção do personagem Logan que levou o trabalho do marinheiro de primeira viagem Glazer ganhar certo brilho na temporada das premiações 2001/2002. As indicações e prêmios conquistados por Kingsley ajudaram um filme pequeno a escapar do ostracismo, embora no Brasil o longa tenha estreado após a temporada do Oscar e em casos assim a baixa repercussão seja algo comum. Bem, mesmo com uma forcinha de festivais e premiações a própria temática já seria um empecilho para grandes bilheterias ou sucesso em DVD. Os filmes de gângster já tiveram seu período apoteótico, mas já faz tempo que o subgênero anda mal das pernas, provavelmente um reflexo do cotidiano violento. São poucos os que se interessariam em gastar seu tempo livre acompanhando uma história na qual bandidos desfrutam de uma vida de luxos e os palavrões e agressões estão presentes na maioria das cenas. Já basta a realidade nua e crua. Além do fantasma da rejeição natural, o boca-a-boca também é uma arma letal. Embora exista um número significativo de críticas positivas, em proporção semelhante ou talvez até maior surgem os comentários negativos afinal este trabalho passa longe da perfeição. Embora bem realizado e com ângulos de câmera e cortes de edição eficientes, provenientes da experiência do diretor na área de publicidade e videoclipes, a trama não sustenta a produção. A premissa não é nada original, alguns diálogos e situações são sofríveis e embora enxuto o filme ainda soma alguns pares de cenas totalmente descartáveis, o que o transformaria em um curta-metragem interessante. Todavia, da maneira como foi finalizado, Sexy Beast não diz a que veio, tornando-se uma opção de lazer rasteira e que pode não agradar nem mesmo aos fãs de ação e suspense. Quando nos deparamos com o já citado clímax da relação entre Logan e Gal até botamos fé que na reta final alguma surpresa nos fará rever os conceitos até então fomentados, mas no conjunto o longa é no máximo regular. Há momentos de humor mal inseridos, personagens sem função (Atich está em cena, e pouco, apenas para comer mexilhões e tomar bebidas), o passado de Deedee não traz grandes desdobramentos à narrativa, gancho que poderia ser mais bem explorado, assim como a paixão declarada de Logan por Jackie que não colabora em nada dramaticamente, entre outros tantos probleminhas que só tomamos consciência ao analisarmos a obra posteriormente e como um todo. A quem interessar bom proveito. 

Suspense - 87 min - 2000

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