sábado, 25 de setembro de 2021

PULSE (2006)


Nota 2 Obra deixa de abordar a solidão ou o contato com os mortos para focar em vão em sustos


A produção de horror e suspense de Hollywood tem um problema crônico de falta de criatividade. Quando surge alguma ideia nova rapidamente outras dezenas de filmes são realizados seguindo a mesma cartilha, assim inevitavelmente esgotando a fórmula. Foi o que aconteceu quando descobriram que refilmar produções orientais, que dificilmente encontrariam mercado fora de seus territórios, seria algo muito lucrativo. Pulse, refilmagem de uma fita homônima japonesa, foi produzido já como um dos últimos suspiros da corrente e não atende as mínimas expectativas. Do início ao fim o filme é desastroso, mesmo tendo como roteirista o experiente Wes Craven que conseguiu revitalizar os slashers movies com Pânico, por exemplo. Nem todo seu conhecimento no campo do terror foi capaz de dar alguma sustância ao longa, ainda que sua premissa seja literalmente conectada aos novos tempos.  A obra apresenta uma versão modernizada do apocalipse, ou ao menos o objetivo era esse quando diretor Jim Sonzero resolveu colocar em prática tal projeto. 

A trama, coroteirizada por Ray Wright, aposta em fantasmas que espalham o caos por meio de computadores conectados à internet ou celulares. Josh Ockmann (Jonathan Tucker) é um jovem hacker que ao invadir o sistema de um colega toma conhecimento de um sinal misterioso vindo de uma realidade paralela. Depois disso, o rapaz passa um tempo sumido e quando seus amigos o reencontram percebem que ele está com um comportamento bastante mudado. Ao investigarem as razões disso, o grupo descobre que o tal sinal é um vírus demoníaco capaz de infectar engenhocas eletrônicas e com o poder de dominar pessoas, conseguindo pouco a pouco lhes tirar a vontade de viver e sugar sua energia vital. Ockmann é a mais recente vítima dessa espécie de maldição e chega a se suicidar na frente da namorada, Mattie Webber (Kristen Bell), uma jovem estudante de psicologia que não encontra razões plausíveis para tal atitude até que toma conhecimento do misterioso vírus que se espalha rapidamente por sua cidade. O computador do namorado foi vendido após sua morte para Dexter McCarthy (Ian Somerhalder), a quem ela se une para tentar barrar tal força do além antes que o rapaz  também se torne uma vítima. 


A trama em si é muito rasa, o que implica na adição de situações enfadonhas e previsíveis para rechear uma produção que testa a paciência do espectador com as inúmeras voltas que o enredo dá para chegar a lugar algum. Em uma hora no máximo essa baboseira poderia ser desenvolvida, podendo ser um razoável telefilme. Sonzero até tenta construir momentos de tensão, mas todas as suas tentativas são frustradas. O que interessa nesse tipo de filme são as mortes e em que circunstâncias elas vão acontecer e até nisso este trabalho é falho. Não há empatia do espectador com os personagens, nem mesmo com os protagonistas, ainda mais vendo o modo forçado como Mattie e McCarthy se envolvem. Mais esquemático impossível. Dificilmente duas pessoas até então desconhecidas se tornariam tão próximas em pouco tempo de convivência, mesmo unidas por conta de um problema em comum. Os coadjuvantes batem ponto apenas para criar a dúvida de qual deles será o próximo a sumir, mas nenhum chega a contribuir com algum momento que sirva como ponto forte da produção. 

A possibilidade de seres do além invadirem a realidade através da internet ou telefones poderia render uma obra regular, mas a ideia original desde o filme japonês não era abordar um viés mais científico e plausível como foi o caso de Vozes do Além, por exemplo, fita que apesar de não ser grande coisa tem embasamento em estudos sérios a respeito de fenômenos sobrenaturais nos quais desencarnados entram em contato com parentes e amigos para deixar uma mensagem para confortá-los ou, em casos mais raros, para avisar sobre problemas que podem vir surpreendê-los. Na realidade o filme oriental tinha sim uma temática relevante que merecia ser preservada: a solidão, tanto em vida quanto após a morte, cabendo inclusive uma metáfora quanto ao excesso de tecnologia no cotidiano que passa a falsa impressão de unir as pessoas, sendo que na verdade as separa constantemente. Já a versão americana passa raspando por esse tema para não brigar com seu público-alvo, jovens que em sua maioria são dependentes de redes sociais e aplicativos.


Pulse poderia ser até um pouco acima da média caso fizesse uso de algum dos temas relevantes citados, mas Sonzero optou pelo caminho fácil e buscou aterrorizar a todo custo, mas sem sucesso. Visualmente a produção é interessante, mas perde pontos por não trazer nada de novo, apenas reciclar trucagens já conhecidas. Até os vilões não convencem, sendo espectros que mantêm o aspecto pálido e as olheiras tão características dos fantasminhas orientais somadas ao estilo de andar e se comportar dos zumbis conforme o cinema americano estereotipou. Inicialmente podem chamar a atenção, mas o impacto não dura muito. Privilegiando os tons escuros e pouca iluminação, a maior parte do tempo na base de luzes azuladas ou esverdeadas, até mesmo a forma de edição de cenas segue o estilo oriental do gênero, porém, copiando erros comuns como cortes abruptos que dão a sensação de que os próprios responsáveis por esta tarefa não estavam com paciência e deixaram de lado momentos importantes. Em suma, esta é uma opção só para aficionados por fitas do estilo... E somente em último caso.

Terror - 90 min - 2006

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