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NOTA 1,0 Com situações mal desenvolvidas e visual manjado, longa perde a chance de abordar a solidão ou a comunicação com os mortos |
Hollywood
já viveu sua fase áurea dos filmes de horror e suspense, passou por momentos de
caída de tais gêneros, se reinventou várias vezes, mas os primeiros anos do
século 21 certamente ficaram marcados pela falta de criatividade visto que os
produtores precisaram bancar continuações desnecessárias e remakes, muitos
deles inspirados ou totalmente copiados de produções orientais, o grande
sucesso da época. Pulse é um exemplo da segunda opção, mas com o agravante de não
atender as mínimas expectativas dos fãs do gênero. Refilmagem do terror homônimo de Kiyoshi Kurosawa lançado em
2001, mas praticamente desconhecido no Brasil, a obra apresenta uma versão
modernizada do apocalipse, ou ao menos o objetivo era esse quando resolveram
colocar em prática tal projeto. Cinco anos se passaram desde o lançamento
original e o diretor Jim Sonzero teve a infeliz ideia de refilmar o longa
quando a onda de horror oriental já dava sinais alarmantes de desgaste. De
qualquer forma, o produto final certamente fracassaria mesmo com alguns anos de
antecedência simplesmente porque falha não apenas em um ou dois aspectos, mas
do início ao fim a fita é desastrosa, mesmo tendo como roteirista o experiente
Wes Craven que conseguiu revitalizar os slashers movies com Pânico, por exemplo. Nem todo seu
conhecimento no campo do terror foi capaz de dar alguma sustância ao longa,
ainda que sua premissa seja literalmente conectada aos novos tempos. Estamos
acostumados a enredos que ligam o apocalipse a efeitos de radiação ou mutações
genéticas, por exemplo, ou em outras palavras a humanidade sendo colocada em
risco por suas próprias invenções. Neste caso, a história co-roteirizada por
Ray Wright, aposta em fantasmas que espalham o caos através das linhas de
comunicação por meio de computadores conectados à internet ou celulares. A
trama nos apresenta à Josh Ockmann (Jonathan Tucker), um hacker que ao invadir
o sistema de um colega toma conhecimento de um sinal misterioso vindo de uma
realidade paralela. Depois disso, o rapaz passa um tempo sumido e quando seus
amigos o reencontram percebem que ele está com um comportamento bastante
mudado. Ao investigarem as razões disso, o grupo descobre que o tal sinal é um
vírus demoníaco capaz de infectar engenhocas eletrônicas destinadas a
comunicação e com o poder de dominar pessoas, conseguindo pouco a pouco lhes
tirar a vontade de viver e sugar sua energia vital.
Josh é a
mais recente vítima dessa espécie de maldição e chega a se suicidar na frente
da namorada, Mattie Webber (Kristen Bell), uma jovem estudante de psicologia
que não encontra razões plausíveis para tal atitude. Logo ela descobre a
história do misterioso vírus que começa a se espalhar rapidamente por sua
cidade levando outros jovens a provocarem a própria morte ou os transformando
em pó literalmente. A moça descobre que o computador do namorado foi vendido
após sua morte para Dexter McCarthy (Ian Somerhalder), a quem ela se une para
tentar barra tal força do além antes que ele mesmo se torne a próxima vítima. A
trama em si é muito rasa, o que implica na adição de situações enfadonhas e
previsíveis para rechear desnecessários 90 minutos que testam a paciência do
espectador com as inúmeras voltas que o enredo dá para chegar a lugar algum. Em
uma hora no máximo essa baboseira poderia ser desenvolvida a contento, podendo
ser um razoável telefilme. Sonzero até tenta construir momentos de tensão, mas
todas as suas tentativas são frustradas. O que interessa nesse tipo de filmes
para muitos são as mortes e em que circunstâncias elas vão acontecer e até
nisso este trabalho é falho. Não há empatia do espectador com os personagens,
nem mesmo com os protagonistas, ainda mais vendo o modo forçado como Mattie e
Dexter se envolvem. Mais esquemático impossível. Dificilmente duas pessoas até
então desconhecidas se tornariam tão próximas em pouco tempo de convivência,
mesmo unidas por conta de um problema em comum. Os coadjuvantes batem ponto
apenas para criar a dúvida de qual deles será o próximo a sofrer com as consequências
da tal maldição virtual, mas nenhum chega a contribuir com algum momento que
sirva como ponto forte da produção. Aliás, no conjunto, não há uma cena sequer
memorável, tudo esquecível rapidamente. Até os “vilões” não convencem, sendo
espectros que mantêm o aspecto pálido e as olheiras tão características dos
fantasminhas orientais somadas ao estilo de andar e se comportar dos zumbis
conforme o cinema americano estereotipou. Inicialmente podem chamar a atenção,
mas o impacto não dura muito tempo.
Vale lembrar
que para injetar mais tensão ao enredo, alguns dias após sua morte, Josh começa
a entrar em contato com conhecidos através de mensagens eletrônicas pedindo
socorro, mais uma prova de que seu suicídio foi premeditado por forças
malignas. A possibilidade de seres do além invadirem a realidade através da
internet ou telefones poderia render uma obra regular, mas a ideia original
desde o filme japonês não era abordar um viés mais científico e plausível como
foi o caso de Vozes do Além, por
exemplo, fita que apesar de não ser grande coisa tem embasamento em estudos
sérios a respeito de fenômenos sobrenaturais nos quais desencarnados entram em
contato com parentes e amigos para deixar uma mensagem para confortá-los ou em
casos mais raros para avisar sobre algum problema que podem surpreendê-los. Na
realidade o filme oriental tinha sim uma temática relevante que merecia ser
preservada: a solidão, tanto em vida quanto após a morte, cabendo inclusive uma
metáfora quanto ao excesso de tecnologia no cotidiano que passa a falsa
impressão de unir as pessoas, sendo que na verdade as separa constantemente. Já
a versão americana passa raspando por esse tema. Provavelmente tendo como
público-alvo os jovens, tentar implantar reflexões a respeito da alienação que
o mundo virtual e os celulares oferecem seria o mesmo que insultá-los, afinal apenas
uma minoria dessa faixa etária não é refém das redes sociais. Se a situação já
era alarmante em 2006 imagine hoje em dia... Pulse poderia ser
diferente se optasse por uma das opções citadas neste parágrafo, mas Sonzero
optou pelo caminho fácil e buscou o terror a todo custo, mas sem sucesso. Para
não dizer que isto é um lixo total, visualmente a produção é interessante, mas
perde pontos por não trazer nada de novo, apenas reciclar trucagens já
conhecidas das fitas de horror protagonizadas pela turma de olhinhos puxados.
Privilegiando os tons escuros e pouca iluminação, a maior parte do tempo na
base de luzes azuladas ou esverdeadas, até mesmo a forma de edição de cenas
segue o estilo oriental do gênero, porém, copiando erros comuns como cortes
abruptos que dão a sensação de que os próprios responsáveis por esta tarefa não
estavam com paciência e deixaram de lado momentos importantes para manter a
cadência do enredo. Em suma, esta é uma opção só para aficionados por fitas do
estilo... E somente em último caso.
Terror - 90 min - 2006
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