Nota 6,5 Química dos protagonistas, ou talvez sua ausência, eleva comédia previsível e batida

Relações familiares. Está aí uma
temática que não sai de moda e que rende muitos argumentos interessantes, mas
ao mesmo tempo em que é bom ter várias produções do tipo também é prejudicial
para elas mesmas. A repetição de assuntos prejudica suas avaliações e acirra as
comparações. Quantos filmes você já não viu a respeito do abismo existente na
relação entre um pai e um filho? É nesse resultado que
Coisas de Família perde
muito, sendo até uma produção descartável. Agora se você assistir sem ficar se
lembrando que este ou aquele outro filme era melhor pode até se divertir, mesmo
com toda a previsibilidade. O que torna o projeto mais interessante é saber que
ele foi criado especialmente para homenagear o saudoso Peter Falk. Quem? A
turma mais vivida ou adepta de nostalgia deve se lembrar deste nome por conta
do seriado “Columbo” no qual ele interpretou o personagem-título por mais de
três décadas. Com uma carreira praticamente toda dedicada à televisão, suas
poucas atuações no cinema não são muito famosas, mas tudo o que fez certamente
inspirou o ator Paul Reiser a seguir o mesmo ofício. Conhecido pela série de TV
“Mad About You”, o próprio ator assina o roteiro que felizmente pôde contar com
a presença do veterano intérprete em seu derradeiro trabalho. Falk interpreta
Sam Kleinman, um idoso que aparece de surpresa no apartamento do filho, o
escritor Ben (Reiser), para informar que a esposa fugiu sem mais nem menos
deixando um simples bilhete de despedida. O marido tenta minimizar o problema,
mas o filho imediatamente começa a ligar para suas irmãs para saber se elas têm
alguma notícia e até se surpreende ao perceber que para uma delas agrada se a separação
realmente aconteceu. Nitidamente incomodado com a presença do pai, Ben ia
desistir de uma viagem rápida que faria para encontrar uma casa no campo para
comprar, mas Rachel (Elizabeth Perkins), sua mulher, o convence a levar o idoso
junto para distraí-lo, no fundo torcendo para que eles voltassem a ter um bom
relacionamento. No entanto, o que era para ser um dia agradável acaba se
tornando uma viagem prolongada e com muito assunto a ser esclarecido.

Logo na introdução fica
perceptível que relação entre pai e filho nunca foi das melhores. Com ironia,
Ben se lembra que irritava a mania de Sam abusar do talco após o banho, uma
bobagem, mas que já evidencia que qualquer coisa seria motivo de implicância
nesta relação. No entanto, o rapaz não desejava a separação dos pais. Por
ironia, justamente quando o pai viveria o pior período de sua vida o filho
considerou a melhor fase que viveram juntos. Mal colocaram o pé na estrada e a
dupla já está brigando, mas desta vez a discussão é mais séria. Além de bater o
carro em uma árvore, apenas um susto sem ferimentos, Ben entrega ao pai uma
carta que guardou durante anos em segredo, algo que a mãe escreveu poucos dias
antes dele nascer e que o filho só encontrou quando já era adolescente. A
revelação de que sua esposa já estava decidida a abandoná-lo há anos choca Sam,
mas ele não perde o rebolado, ou melhor, os cacoetes. Cheio de trejeitos para
falar e gesticular ele assume o estereótipo clássico do chefe de família, o
homem que se dedica demais ao trabalho e justifica sua ausência no lar com bens
de consumo, mas que isso não o tornaria um insensível a ponto de sua mulher se
sentir tão angustiada. De qualquer forma, o baque foi benéfico. Imediatamente
Sam muda seu jeito de agir e quer tentar recuperar os bons momentos que perdeu
com seu filho. Assim, decididos a passarem algum tempo juntos, o filme ganha
ares de road movie. O pai quer espairecer para ver os rumos que dará à sua vida
e o filho quer aproveitar a viagem para se inspirar a escrever um novo livro.
Paradoxalmente, o diretor Raymond De Felitta parece não saber como desenvolver
o argumento a partir deste ponto e limita-se a alinhavar situações previsíveis,
como a tradicional pescaria, e outras desnecessárias, como a sequência passada
dentro de um bar de beira de estrada com direito a uma dancinha country. O
genérico título
Coisas de Família combina com o porte da produção que na reta
final apela para o chororô. Mesmo não sendo memorável, a obra é uma bonita
homenagem à Falk. Poucos atores
conseguem essa dádiva em vida, mesmo que seu personagem corriqueiramente seja
vítima de piadas de flatulência felizmente compensadas com falas deliciosamente
insanas, algo típico da idade.
Comédia - 96 min - 2005
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