quarta-feira, 19 de maio de 2021

FORA DE RUMO (2005)


Nota 6 Suspense previsível flui bem, mas peca no ato final ao forçar a absolvição de protagonista


A traição é um dos temas mais corriqueiros e ao mesmo tempo um dos pecados mais punidos do cinema. Muitas histórias acabam em divórcios amigáveis ou no mínimo que ambas as partes procurem seguir seus caminhos independentes, mas existem casos de adultérios que podem resultar em grandes problemas e até mesmo tragédias, mesmo que fossem apenas passatempos ligeiros. Fora de Rumo conjuga numa mesma trama arrependimento, perdas financeiras e morte, tudo por conta de um momento de fraqueza do publicitário Charlie Schine (Clive Owen), um homem acostumado a uma pacata rotina, mas que vê sua vida perfeita desmoronar a partir de certa manhã em que simplesmente perde o trem que costuma pegar para ir ao trabalho. Atrasado, ele ainda percebe que está sem sua carteira na hora de pagar a passagem e eis que surge em seu caminho Lucinda Harris (Jennifer Aniston) que lhe oferece o bilhete da viagem. Agradecido, o rapaz começa a conversar com a desconhecida e não demora muito a perceber que ambos vivem casamentos infelizes, que estão com seus cônjuges apenas para não fazerem seus filhos sofrerem com a separação. O marido não dá mais atenção a ela e possivelmente a trai com inúmeras mulheres, enquanto Schine não quer complicar emocionalmente o quadro da filha pequena cuja saúde é debilitada.

A dupla então começa a se encontrar com frequência para conversar até que certa noite eles resolvem ceder a seus desejos e vão para um hotel, mas o que era para ser um momento de puro prazer acaba se transformando em um grande pesadelo. Eles mal se deitam na cama e o quarto é invadido por um criminoso que atende pelo nome de La Roche (Vicent Cassel). Ele espanca Schine que acaba desacordado e não presencia o momento em que a moça é violentamente estuprada. Quando recobra a consciência, a essa altura o bandido já mexeu nos pertences das vítimas e sabe que ambos são comprometidos, o que certamente os impediria de prestar queixa para não passarem por constrangimentos. Contudo, ele não se dá por satisfeito e passa a chantagear o publicitário que precisa até mesmo abrir mão das economias para o tratamento da filha Amy (Addison Timlin). As coisas só pioram quando Lucinda reaparece com a notícia de que acabou engravidando naquele ato hediondo, fazendo seu amante se sentir ainda mais culpado. A tentação tem um preço e o qual eles estão pagando é dos mais caros, mas será que a conta é a mesma para os dois adúlteros?


Estreia no cinema hollywoodiano do sueco Mikael Hafström, após concorrer ao Oscar de filme estrangeiro por Evil - Raízes do Mal, o diretor comete um grande erro: se propõe a fazer um suspense que não causa tensão alguma. Praticamente acompanhamos um drama protagonizado por um homem tentando apagar um pecado de seu passado recente sem prejudicar seu presente e tampouco seu futuro em família. Todavia, inserir seu trabalho num determinado gênero e acabar enveredando por outro não significa necessariamente algo ruim. O longa prende atenção do início ao fim, mesmo com a sensação de que tudo é muito previsível, talvez porque a atmosfera construída deixa no ar a esperança que até o último minuto poderemos ser surpreendidos. O final até pode enganar alguns, mas para quem é escolado no gênero não há surpresa alguma. Após uma sucessão de eventos infelizes, é óbvio que chegará o momento que Schine vai querer fazer justiça com as próprias mãos, mas sem sujar seu nome. Baseado no livro "Derailed", de James Siegel, que na tradução literal significa descarrilhado, o roteiro de Stuart Beattie de fato mostra a vida de um homem comum saindo dos trilhos, a transformação de um indivíduo pacífico em um investigador capaz de arquitetar um engenhoso plano para pegar seu algoz. 

Na pele de um homem angustiado, Owen entrega uma performance competente, tendo o cuidado de demonstrar o personagem arrependido do deslize e conformado ao desejar lutar por um casamento infeliz, mas nem por isso sentimos total compaixão de sua situação. Contudo, mesmo ficando boa parte do filme fora de cena, o vilão de Cassel eclipsa o herói com uma interpretação que não tem meio termo. LaRoche é violento, maldoso e egoísta sem deixar qualquer brecha para sentimentalismos, mas é uma pena que após o evento que desencadeia todos os problemas do protagonista o bandido só retorne para o ato final. E o que dizer da mocinha? Embarcando em um suspense, algo raro em seu currículo, Aniston tenta mostrar uma nova faceta de seu talento buscando fazer a transição de mulher vulnerável para pivô de um conflito, mas logo percebemos que de sofredora sua Lucinda não tem nada. Sem muito mistério em torno de sua personagem, a atriz também aparece relativamente pouco assim como Deanna (Melissa George), a esposa de Schine, que poderia ser apenas citada no texto como uma preocupação do publicitário que não faria a menor diferença. Sendo assim, Owen carrega a produção nas costas, mas dá conta do recado.


Apesar da previsibilidade, Fora de Rumo flui bem e prende atenção ao longo de sua duração, mas derrapa feio com uma conclusão equivocada e manipulada que pode gerar questionamentos. Como um suspense digno, um final feliz ao protagonista seria dispensável, ainda mais quando seu bem estar está atrelado a uma atitude criminosa, mas Hafström faz questão de reiterar que o mundo é dos espertos ou que hoje você é a caça e amanhã pode ser o caçador. O crime pelo crime neste caso não nos permite conhecer o lado do criminoso, embora dificilmente teríamos pena dele, mas o emaranhado de problemas também não deixa o espectador em um primeiro momento perceber que Schine não é nenhum santinho e está longe de ser um injustiçado. Como diz o ditado, quem procura acha. Ao aceitar trair a esposa, mesmo que o caso terminasse após matar a curiosidade na cama, o publicitário assumiu o risco de ser descoberto sem pensar nas consequências. Ajuda a afastar sua imagem da culpa o fato de sua esposa e filha pouco aparecerem, assim não havendo uma grande identificação com o real motivo de sua preocupação. Fica mais latente seu desejo de manter sua reputação pessoal e emprego sem nos darmos conta do egoísmo implícito na situação já que até a saúde da menina é rifada. Pode ter sido uma tentativa de fugir do caminho piegas, mas que se mostra em vão quando a redenção do protagonista é almejada até ele ter a completa certeza de que não seria mais chantageado. 

Suspense - 107 min - 2005

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