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NOTA 5,0 Terceira parceria entre Adam Sandler e Drew Barrymore mostra sinais de desgaste da dupla, mas estilo de humor do ator ainda domina a fita |
Adam Sandler e Drew Barrymore
trabalharam juntos pela primeira vez em 1998 no pouco lembrado Afinado no Amor, interpretando dois
jovens de perfis completamente opostos que se apaixonam à primeira vista. Com uma premissa batida destas o
ostracismo da fita é perfeitamente justificável. Mais sorte a dupla teve no
reencontro seis anos mais tarde em Como
Se Fosse a Primeira Vez. Com seus nomes já valendo peso de ouro e uma
história bem mais elaborada, a do cara que precisa diariamente reconquistar uma
garota que sofre de um estranho tipo de amnésia, essa comédia romântica caiu no
gosto popular e se tornou campeã de reprises na televisão. A química do casal
sem dúvidas é o grande trunfo da fita, não menosprezando o enredo levemente
diferenciado. Se o passar de alguns poucos anos os beneficiou em termos de
amadurecimento, tanto pessoal quanto profissional, que tal mais um reencontro,
agora uma década depois? Sandler certamente deve ter pensado nisso quando
convidou a atriz para dividir as atenções em Juntos e
Misturados, mas o resultado não mostra avanços e sim retrocessos
para seus currículos. A história começa com o primeiro encontro a sós de Jim
(Sandler) e Lauren (Barrymore), mas o jantar mais parece uma aula prática de
como fugir de um relacionamento. Da escolha do local, um restaurante famoso por
suas garçonetes gostosonas vestindo roupas insinuantes, passando pela atenção
especial dedicada ao que está passando na TV e até chegar ao prato principal
com camarões apimentados que culmina em um escatológico fim de noite, a
introdução não é nada convidativa. Depois disso eles acabam se cruzando vez ou
outra por acaso, sempre em meio a situações embaraçosas, até que se veem
obrigados a dividir uma mesma suíte em uma viagem para a África. Por uma
daquelas estranhas coincidências roteirísticas, somos forçados a engolir que o
passeio a um resort de luxo com tudo pago caiu dos céus para ambos. Detalhe, o
público-alvo do lugar são casais a fim de curtir uma segunda lua-de-mel, a
maioria levando a tira-colo os filhos, uma peculiaridade que vem a calhar ao
casal-torto. Jim é um pai viúvo que não tem o menor traquejo para cuidar de
suas três filhas, oferecendo uma criação masculinizada, o que inclui cortes de
cabelo em barbearia e roupas esportivas que compra com desconto na loja em que
trabalha.
Hilary (Bella Thorne), a filha
mais velha, costuma ser chamada de Larry pelo próprio pai e por conta de seu
visual é sempre confundida com um menino, o mesmo problema que persegue Espn
(Emma Fuhrmann) que ainda carrega o fardo de ter sido batizada com o nome de um
canal esportivo e acredita que a falecida mãe está sempre acompanhando a
família e se comunica com ela. Por fim, Lou (Alyvia Alyn Lind), a caçula, é a
mais sensata e normal do clã, pelo menos por enquanto. Se a elas falta uma
figura feminina como referência, aos filhos de Lauren falta um espelho paterno,
já que seu ex-marido Mark (Joel McHale) faz o que pode para fugir de qualquer
compromisso com os meninos. Brendan (Braxton Beckham), o primogênito, está na
fase da puberdade e se sente atraído pela babá enquanto Tyler (Kyle Red
Silverstein), o caçula, sente-se inferior aos colegas devido a sua falta de
aptidão com atividades físicas. Todos os personagens são dotados de
características facilmente aplicadas a perfis manjados, assim de antemão já
temos ideia das piadas que estão por vir e como tudo vai acabar. O próprio
Sandler como ator é um estereótipo ambulante, sempre vivendo um protagonista
infantilizado, curtindo a vida adoidado e cercado de figuras que lhe paparicam
conquistadas por sua carinha de cachorro manhoso e maneira ingênua de ver o
mundo. Repetindo esse mesmo tipo de personagem, o ator conquistou uma
inexplicável conexão com o público, assim não importa a qualidade do texto.
Qualquer coisa que venha a lançar automaticamente ganha a chancela de seus fãs,
afinal ele é "o cara". Uma pena, já que provou ser bom ator de
verdade em outras oportunidades, inclusive para enredos mais dramáticos ou que
lhe exijam humor na declaração de suas falas, não sua comédia física. Prova
disso são Embriagados de Amor ou Reine Sobre Mim. Já Barrymore construiu
sua carreira basicamente com mocinhas sonhadoras e engraçadinhas, mas o tempo
passa. Como mãe enérgica de dois guris ela até pode enganar, ainda que exagere
nos ataques de nervos, mas suas falas soam artificiais, não está acostumada ao
humor escrachado de seu companheiro, tanto que até a metade sentimos a atriz
pouco à vontade. Conforme o gancho romântico ganha força ela vai se soltando
mais, porém, um pouco tarde para salvar a atenção do espectador que até então
não tem uma experiência muito satisfatória com o primeiro ato marcado por
piadas grosseiras, muita confusão, trocadilhos infames e por aí vai. Ainda
assim, a atuação de Barrymore é o que o longa tem de melhor a oferecer.
Outra coisa que incomoda bastante
é a maneira como a África é retratada, quase como uma escola de samba, tudo
muito alegórico. Animais selvagens, tribos subdesenvolvidas e submissivas,
costumes exóticos e um ambiente multicolorido. Completando o espetáculo, o
cantor Tatoo (Terry Crews) invade a trama por diversas vezes acompanhado de
seus dançarinos para números musicais constrangedores. Acreditando que os
protagonistas formam um casal de verdade, ele funciona como uma espécie de
cupido tentando manter a harmonia entre eles ou, em outras palavras, faz as
vezes daqueles monitores chatos de viagens que pagam os maiores micos para
divertir os hóspedes. Detalhe, em nenhum momento é revelado em qual país
exatamente fica situado o tal resort. São dezenas de pátrias distintas que
compõem o continente africano, mas o diretor Frank Coraci despreza a
diversidade de culturas e povos e generaliza tudo. Isso sem falar que as
mazelas da região que são muitas, todos sabemos, não são nem mencionadas. A
África é lugar de festa e ponto final. Uma visão medíocre, mas Juntos e Misturados não pretende ensinar nada
a ninguém, a não ser reforçar no final que, não importe o quão excêntrica, a
família é sempre importante. Essa é a terceira parceria entre Coraci e
Barrymore e a quarta com Sandler, assim o longa tem meio que aquele jeitão de
brincadeira entre amigos. Liga-se a câmera e estejam a vontade para fazer o que
quiserem. Ao menos muitas cenas dão a impressão de terem sido improvisadas
durante as filmagens, mas brincar é alma do negócio. O roteiro de Ivan Menchell
e Clare Sera constrói personagens rasos e de forma agressiva, perde muito tempo
com os primeiros encontros dos protagonistas para evidenciar que a repulsa inicial
é mútua e permite que Sandler em curtos espaços de tempo repita piadas. No
final das contas quem leva a melhor é o elenco infanto-juvenil, não por seus
conflitos, mas pelo carisma que imprimem na tela. A mesma simpatia nossos
protagonistas também exalam, mas sendo essa a terceira parceria da dupla
podemos perceber sinais de desgaste. É como um relacionamento amoroso. Na
primeira vez que contracenaram juntos estavam se conhecendo, criando certa
intimidade assim como seus personagens. O segundo encontro mostrou
amadurecimento, química total entre os dois. Já na terceira a relação soa
truncada, não falam mais sobre os mesmos assuntos. Barrymore quer romance e
Sandler Besteirol e Coraci não conseguiu equilíbrio entre os interesses. Haverá
uma quarta parceria dos atores? Bem provável, mas esperamos que assim como um
casal que reata na expectativa de recuperar a harmonia, os astros escolham um
texto que permita o mesmo.
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