sábado, 22 de maio de 2021

AMALDIÇOADOS


Nota 5 Terror teen tenta reinventar o mito do lobisomem, mas acaba sobressaindo o humor


A figura do lobisomem já rendeu filmes realmente de arrepiar no passado, desde os tempos dos clássicos de terror dos estúdios da Universal até o período oitentista quando chegamos a ver uma impressionante e detalhada transformação de um homem em lobo em Grito de Horror. Depois disso houve outras tantas tentativas para dar sobrevida ao monstro peludo, mas os resultados foram insatisfatórios e nem mesmo o talentoso Jack Nicholson convenceu na pele do bichão no apático Lobo. Já na década de 2000, muito antes de Benício Del Toro protagonizar O Lobisomem, uma reinvenção do mito que fez muito barulho por nada, o cineasta Wes Craven, criador das séries A Hora do Pesadelo e Pânico, também tentou resgatar o conto a seu modo, ou seja, colocando um bando de adolescentes na mira da fera. Em Amaldiçoados o lobisomem está a solta na época contemporânea (lembrando que é uma fita de 2005) e com um louco desejo de atacar seres vivos e com sangue quente atendendo seus instintos de sobrevivência. A onda de ataques começa  com um acidente de carro envolvendo Ellie (Christina Ricci) e seu irmão Jimmy (Jesse Einsenberg) em uma estrada deserta na qual são atacados por um animal que não conseguem identificar. Pouco tempo depois, ambos começam a agir de forma estranha tendo vontade de comer carne crua, se sentindo mais fortes, entre outros indícios de que estariam infectados por algo desconhecido. 

Conforme investigam, diga-se de passagem, por uma rápida pesquisa na internet que em questão de minutos revela tudo que querem saber, ps irmãos descobrem que as mudanças ocorreram devido ao ataque de um lobo e que precisam encontrá-lo e sacrificá-lo antes que se tornem também monstros sedentos por carne e sangue fresco. Pela sinopse até podemos imaginar que este é um super filme de terror, mas seu diretor deve ter perdido a mão no meio do caminho ou quis assumir o risco de ser linchado optando por fazer um legítimo representante dos trash movies, ou seja, investindo em humor em algo que deveria causar arrepios e ainda contando com uma produção tosca. Na realidade o dinheiro falou mais alto. Craven, em comum acordo com o roteirista Kevin Williamson, abriu mão de sua ideia original para acatar as exigências dos produtores em troca do dobro do pagamento inicial. Maldita ganância! Bem, falar que este filme é péssimo é exagerar. Excepcional também não. Ele fica no meio termo, é regular, com um degrau acima ou abaixo desse patamar dependendo da visão de cada um. Para quem curte terror, certamente ele agrada, pois tem sim seu clima de mistério e cenas tensas, mas também conta com sequências hilárias, apesar de super rápidas, como uma confusão do garoto metido do colégio assumindo que é gay para Jimmy ou o próprio lobisomem mostrando o dedo do meio, gesto cujo significado conhecemos bem. 


A mescla entre terror e comédia em obras que desejam que o primeiro gênero prevaleça não é nenhuma novidade. Na década de 1980, praticamente este tipo de produção é que alavancou o mercado de vídeo no mundo todo e consequentemente o cinema. As locadoras bombavam com as fitas que eram procuradas por jovens que queriam se divertir com os amigos levando alguns sustos falsos e logo em seguida cair na gargalhada. Quem gosta desses produtos destinados ao público teen já sabe o que vai encontrar. É tudo muito previsível, por vezes constrangedor de tão bobo, mas ao mesmo tempo deliciosamente irresistível. Visto por esta ótica, o trabalho de Craven não merece ser crucificado e sim elogiado. Ele praticamente presta uma homenagem a um gênero que nunca foi catalogado oficialmente, porém, com um público cativo e amplo e que sente falta de produções do tipo. Pensando bem o cineasta não fez nada mais que uma variação de sua famosa e citada obra do mascarado Ghostface que adorava esfaquear jovens e que por sua vez é uma reinvenção do conto de Freddy Krueger, o homem perturbado que invadia sonhos. Reciclagem atrás de reciclagem, a diferença é que sem essa análise mais aprofundada podemos ver três trabalhos de formas bem distintas e não nos darmos contas das semelhanças entes eles. Trocando em miúdos, o lobisomem é a versão animal do assassino da máscara de fantasma e este é a encarnação em vida do cara dos pesadelos e garras afiadas. 

Seguindo a essência do conto clássico, o monstro na verdade a maior parte do tempo é uma pessoa comum. Caberia a Williamson ter habilidade para jogar pistas falsas para o espectador quebrar a cabeça tentando descobrir qual personagem é o lobisomem, mas a eliminatória de possibilidades constrange pela facilidade. Do início ao fim, este filme é uma sucessão de clichês que nos leva a um desfecho vexatório. A manjada confissão do vilão antes de bater as botas e a quebra da maldição se revelam um emaranhado confuso de palavras e imagens que nos leva a crer que o longa devia ter sido finalizado um pouco antes quando nos deparamos com uma sequência que renderia uma conclusão bem mais interessante. Mesmo com as cenas adicionais desnecessárias a fita acabou com um tempo de arte relativamente curto, mas isso não evitou que o foco na trama principal fosse desviado. Claro que também não faltam os personagens que estão lá claramente só para morrer a qualquer momento, todos bem apessoados como manda o figurino, e nem mesmo os protagonistas parecem entusiasmados com os rumos do enredo, com exceção de Einsenberg mais em função do tom humorado que seu papel carrega. O que se vê na tela são atores completamente desorientados que em alguns momentos parecem não saberem nem mesmo de que lado estava a câmera para se dirigirem. 


Desde a concepção do roteiro até a finalização das filmagens muita coisa rolou. O roteiro era reescrito conforme as gravações avançavam e cada vez mais a sanguinolência e a tensão eram dissipados. Ainda houve cortes na sala de edição para readequar o conteúdo para plateias mais jovens em uma tentativa em vão de fazer a fita ser um estouro. Muitos atores chegaram a gravar cenas, provavelmente poucas só para justificarem os assassinatos de seus personagens, mas acabaram totalmente desprezados na versão final, um verdadeiro desrespeito com os profissionais. O uso da computação para a criação do lobisomem também é para gargalhar. Ágil até demais, ele foi feito mesclando efeitos especiais com cenas de uma pessoa trajando uma fantasia para captura de movimentos corporais e faciais. Se dispensassem a tecnologia e assumissem a caracterização tosca do bichão certamente o resultado seria melhor e combinaria com o tom pastelão do conjunto. Enfim, não se espantem, mas Amaldiçoados merece até uma nota mediana. Iniciado de forma bacana (o ataque do lobo após o acidente dos irmãos não revela o animal, só sugestiona), deliciosamente ridículo em certas partes e previsivelmente tenso em tantas outras, este filme nasceu para ser um clássico dos trash movies. 

Terror - 97 min - 2005 

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2 comentários:

Ana Caroline disse...

Parece ser ótimo, adoro filmes desse gênero!

Silvia Freitas disse...

Obrigada pela semrpe presente visita ao blog Na Manha do Gato, estarei seguindo aqui tbm. bjs!