sábado, 8 de maio de 2021

MINHA MÃE É UMA PEÇA 2


Nota 8 Sequência das peripécias de dona Hermínia é tão boa quanto o original mantendo a fórmula


Ela está em cena de novo! Minha Mãe é Uma Peça 2 traz de volta Dona Hermínia, a mãe superprotetora, falastrona e que não leva desaforo para casa, mas também uma mulher invariavelmente engraçada, carismática e de fácil identificação com o público. Não é a toa que seu primeiro filme foi a maior bilheteria do cinema nacional em 2013 e sua continuação praticamente dobrou o número de espectadores. O segredo de tanto sucesso atende pelo nome de Paulo Gustavo, um fenômeno popular. É curioso que o cotidiano de Hermínia, que criou com inspiração em sua própria mãe, conquiste desde crianças até velhinhos, mesmo com palavrões e algumas poucas piadas de duplo sentido. Todos tem alguma tia, prima, vizinha ou até mesmo uma mãe nesse mesmo estilo e é praticamente impossível não dar algumas gargalhadas com suas trapalhadas e jeito desbocado. Mais uma vez com roteiro do próprio ator em parceria com Fil Braz, a sequência também se apoia totalmente sobre a protagonista que continua com suas exageradas preocupações a respeito do que seus filhos fazem ou deixam de fazer. Mais velhos e ligeiramente menos imaturos, os pimpolhos agora querem deixar Niterói, no Rio de Janeiro, e desbravar novos horizontes, mais especificamente a cidade de São Paulo. 

Marcelina (Mariana Xavier) continua a mesma esfomeada de sempre, mas decide ocupar parte de seu tempo ocioso investindo em um curso de teatro. Já Juliano (Rodrigo Pandolfo) está batalhando um emprego em um conceituado escritório paulista de advocacia e em dúvida quanto a sua sexualidade. Se antes se assumia um gay convicto, agora acredita que pode ser bissexual ou até mesmo um hétero pegador. E Garib (Bruno Bebianno), o primogênito, mais uma vez não recebe atenção do roteiro e é acionado apenas para lembrar que agora Hermínia também é vovó, notícia que encerrou abruptamente o filme original. Deixando portas abertas para um novo capítulo das peripécias da mãezona de cabelos desgrenhados e altura chamativa, este comédia apesar de divertidíssima e apresentar um salto de qualidade técnica considerável, deixa no fundo a sensação de assistir mais do mesmo, até porque algumas situações se repetem, como uma longa sequência em uma balada na qual Hermínia vira o centro das atenções. Ela também continua demonstrando ciúmes de Carlos Alberto (Herson Capri), seu ex-marido, ainda discute bastante e troca afagos com a irmã Iesa (Alexandra Richter) e os problemas de memória e a saúde frágil da tia Zélia (Suely Franco) denunciam que um fato triste está para acontecer assim como também ocorre no outro filme. 


O problema é que muitos conflitos são oferecidos, mas nenhum desenvolvido adequadamente. Os coadjuvantes são totalmente dependentes da protagonista e todos os seus problemas gravitam em torno dela e servem apenas como justificativa à suas piadas. É óbvio que o filme existe por causa de Dona Hermínia, mas seu intérprete acaba sendo um pouco egoísta ao reservar para si mesmo as melhores tiradas, muito por confiar em sua cara-de-pau capaz de proferir os mais incríveis impropérios sem a menor preocupação com as opiniões alheias. Agora foi agregado ao time a atriz Patrícia Travassos conhecida também por um humor mais desbocado e sem papas na língua. Ela interpreta Lucia Helena, irmã mais velha da protagonista, que vive em Nova York e veio passar alguns dias no Brasil. Divertida e com ideias libertinas, logo de cara ela conquista os sobrinhos que sofrem com a repressão que vivem em casa, mas apesar de ficar claro que Hermínia não gosta de tal envolvimento o conflito não é levado adiante deixando a nova personagem sem função. O mesmo acontece com Valdéia (Samantha Schmutz), a empregada barraqueira, e Lourdes (Malu Valle), a amiga carente e que fala pelos cotovelos, ambas com participações descartáveis.

Acostumada a falar mais do que deve e ouvir o mínimo possível, Hermínia aproveita seu espaço na televisão com seu programa de debates  para colocar seus problemas pessoais em pauta, assuntos pertinentes ao universo de qualquer dona de casa e mãe de família. É essa fácil identificação que sustenta Minha Mãe é Uma Peça 2 cujas novidades mais significativas são acerca do novo estilo de vida da ex-suburbana. Agora ela pertence a classe média emergente, vive em um apartamento mais amplo e com decoração menos extravagante que sua antiga moradia e pode usufruir de prazeres que só o dinheiro pode oferecer. Ela se dá até ao luxo de controlar seu nível de humor através de um apetrecho eletrônico, ainda que o equipamento sirva apenas para mais uma gag e nada mais. No entanto, a essência desta mulher é preservada ou até mesmo apurada, ponto para o diretor Cesar Rodrigues, que assume a direção desta vez e não perdeu o fio da meada, e obviamente ao Paulo que com seu inegável talento consegue prender a atenção e o riso do espectador do início ao fim sem precisar fazer grandes esforços. A naturalidade com que veste roupas femininas, se maquia e equilibra uma peruca na cabeça é espantosa e aliada ao carisma e espontaneidade do ator nem ligamos para o fato de em cena ter um homem travestido. Os laços afetivos são imediatos. 


Provando que um raio pode sim cair em um mesmo lugar mais de uma vez, este segundo capítulo apesar de alguns problema é tão bom quanto o anterior, mas deixa acionado o botão de alerta. Se parar por aqui perfeito, porém, se derem sequência às peripécias de Hermínia sem investir em tramas mais consistentes a franquia corre o risco de azedar. Sabemos que projetos do tipo dificilmente chegam à terceira parte em boa forma. Menos é mais, já diz o sábio ditado. Apesar de ter a síndrome do ninho vazio como mote principal, de um modo geral, é como se fosse uma compilação de esquetes de um programa humorístico, porém, as situações não são finalizadas para dar lugar à outras. Tudo é jogado na tela e alinhavado meio que a toque de caixa, mas não chega a ser algo totalmente incômodo. Com uma ótima transição dos palcos para o cinema e com fôlego para uma continuação, a trajetória da personagem deve ser lembrada como uma prova de que comédia popular não precisa ser sinônimo de humor apelativo e de baixo calão. Produções do tipo são sempre bem-vindas e fazem a indústria cinematográfica se movimentar.

Comédia - 96 min - 2016

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