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NOTA 3,0 Abusando de cenas apelativas e sem graça, comédia desperdiça boa premissa e nem o casal principal desperta interesse |
Quando um filme é lançado em DVD,
no verso existe um pequeno quadrado com um numeral e algumas palavras escritas
com letras bem pequenas. Esse é o informativo quanto a classificação indicativa
relacionando os motivos das inadequações do filme para determinada faixa
etária. O mesmo esquema serve para orientar os cinemas que devem barrar
clientes menores de idade que estejam desacompanhados para assistir filmes
proibidos para sua condição. Na teoria tudo é bem esquematizado, mas na prática
é uma grande bobagem que só chega a ser aplicada quando o filme é indicado a
maiores de 18 anos. A classificação existe em todo o mundo, sendo que cada país
adota seus parâmetros individuais para aplicá-las, mas o mesmo deveria ser
feito fiscalizando os próprios bastidores dos filmes. Quer coisa mais
constrangedora que uma produção com temática adulta contar com elenco mirim? É
logo na introdução que Maldita Sorte mostra a que veio e
faz o espectador mais consciente perder o interesse rapidamente. A trama
redigida por Josh Stolberg começa em 1985 mostrando uma típica e caseira
reunião de pré-adolescentes aparentemente inocentes, no entanto, o passatempo
deles é uma brincadeira “educativa” com uma garrafa que é girada de forma que um
dos lados aponte para um garoto e o outro seja direcionado a uma menina. Os
felizardos dos “sete minutos no paraíso” devem passar esse tempo trancados em
um armário onde tudo pode acontecer. Por mais que os diálogos tentem nos fazer
crer que os personagens mal sabem o que estão fazendo (me engana que eu gosto!)
a cena poderia ter o mesmo efeito se realizada com mais cautela. Bastava
mostrar que quis o destino que um dos garotos fosse contemplado a se juntar com
a esquisitinha da turma, porém, periguete. O visual gótico da menina já
deixaria implícita a repulsa do contemplado que ainda enfatizaria sua reação
com uma careta e em resposta ela lançaria a maldição de que toda a mulher com
quem ele se relacionasse amorosamente iria logo em seguida abandoná-lo e casar
com o próximo homem com quem ficasse. Simples assim, mas tiveram o mal gosto de
praticamente colocar a garota implorando para ser estuprada ou fazer o mesmo
com o virgenzinho. Tal sequência não coloca os atores jovens ligados
diretamente com o que vem a seguir, mas qual criança que teve a chance de atuar
no cinema não ia querer ver o resultado? Melhor que seus pais tenham as
proibido. O restante da história tem um ou outro momento divertido e sem
apelações, porém, o conjunto faz o filme de estreia do diretor Mark Helfrich
parecer um pornô-soft-picante.
Anos mais tarde, o dentista Charlie
“Chuck” Logan (Dane Cook), o rapazinho amaldiçoado, tem uma vida sexual
extremamente ativa e não lhe faltam parceiras, assim o episódio da adolescência
não o traumatizou. Elas fazem tudo que há de mais devasso para ouvirem um “eu
te amo” do cafajeste, mas ele não consegue falar de sentimentos com nenhuma
delas. Talvez justamente por usá-las apenas como objeto de prazer é que ele
nunca se deu conta da coincidência de que suas ficantes rapidamente se casavam
após o encontro. Sua ficha só cai quando vai ao casamento de uma delas e que
faz questão de agradecê-lo em público, pois graças ao seu pé na bunda ela
encontrou o amor verdadeiro nos braços de outro. Na festa ele conhece Cam Wexler
(Jessica Alba), uma bela e cativante jovem, mas extremamente atrapalhada, tanto
que em cinco minutos de conversa ela quase detona a “ferramenta de trabalho” do
rapaz com bebida quente. Contudo, ela não parece assanhada como as outras
convidadas solteiras, estas que a partir de então passam a frequentar
assiduamente o consultório dele em busca de seus trabalhos milagrosos... na
cama! Embora estranhe inicialmente, o galã do motorzinho (em duplo sentido
mesmo!) passa a se divertir com a fama de amuleto do amor e transa com tudo
quanto é tipo de mulher. Loiras, morenas, negras, gostosas, esqueléticas,
obesas, lindas, feias, não importa. Ele traça o que aparecer, afinal o lance é
curtir o momento e depois dispensar sem peso na consciência, todavia, chega um
momento que ele cansa dessa vida de gigolô e decide investir na paquera à Cam
que parece a única solteira que não está desesperada pelo dom do rapaz. Depois de
alguns encontros românticos e atrapalhados, finalmente a moça decide ir para a
cama com ele, mas eis que seu amigo de infância Stu Kaminsky (Dan Floger) lhe
telefona para dizer que há evidências que realmente sua praga traz o homem
ideal para as mulheres mais rápido que mandinga de cartomante. Se ele dormir
com Cam ele poderá perder a única mulher que amou de verdade para sempre. Agora
ele precisa tentar quebrar sua maldição para enfim viver uma vida normal e
sossegar o facho. A solução óbvia seria procurar a ninfeta assanhada do passado
e pedir para ela desfazer seu mal olhado, mas até o bobalhão ter essa ideia vai
sofrer muito, até fazer o sacrifício de ir para a cama com uma grotesca
solteirona, o que o obriga a tomar banho esfregando violentamente desinfetante
bucal. Aliás, tal gancho é sem propósito afinal para que mais uma prova de seu
feitiço? Somente para inserir cenas bizarras e que forçam para gargalharmos, no
fundo, do preconceito. Quem é menos favorecido em termos de beleza
necessariamente merece o repúdio e ser um catalisador das piores
características de um ser humano?
A essência deste roteiro teoricamente
não é das piores e até garantiria uma comédia romântica tradicional sendo até
perdoada a citada introdução levando-se em consideração que as crianças estão
amadurecendo cada vez mais precocemente, no entanto, a vulgaridade que permeia
toda a narrativa é seu calcanhar de Aquiles. Para contornar as limitações do
enredo, Helfrich tira leite de pedra na busca desesperada por situações
engraçadas, assim Biel tem seu papel reduzido a uma aspirante a palhaça metendo
os pés pelas mãos tantas vezes que até perdemos as contas de suas
escorregadelas que acontecem com tempo recorde de descanso entre uma e outra.
Para não desperdiça-la totalmente, a moça é inserida literalmente dentro de um
aquário de pinguins. Cuidadora desses bichos bonitinhos, é nesse cenário que
acontecem as piadas mais inocentes do longa, além de ser uma tentativa do
roteirista aliar seu trabalho ao período do lançamento do filme. Na época os
pinguins estavam na moda em animações que conquistavam também o público adulto.
Já as comédias com apelo sexual encontravam-se em pleno declínio e Maldita
Sorte não alterou em nada o quadro. Talvez até o piorou. Apesar de
algumas piadas visuais e nada originais, como trombadas e escorregões, o filme
procura mesmo se alicerçar sobre piadas sexuais e bem explícitas que não
funcionam, pelo contrário, constrangem e irritam. Em determinado momento o
filme apresenta uma longa sequência mostrando o quanto o protagonista foi
requisitado pelas solteironas de plantão, chegando a tela ser dividida em
vários pedaços para mostrar as diversas posições de atuação do rapaz com cada
uma delas em closes generosos de nudez, algo totalmente desnecessário, mas
certamente alguns adolescentes do sexo masculino devem guardar isso em suas
mentes com riqueza de detalhes. Pior ainda, devem idolatrar Chuck e o acharem
“o cara”, um modelo de homem bem sucedido. Cruzes! Bem, a adoração não chega
tanto, até porque o longa não foi sucesso e isso já deveria ser esperado por
seus produtores. Confundiram ousadia com devassidão. É diferente quando o sexo
é utilizado em dramas de forma a retratar uma patologia ou um problema
educacional do ser humano. Nesta comédia ele simplesmente é utilizado sem pudor
ou rigor de qualquer espécie, atingindo seus piores momentos quando Kaminsky
está em cena, um cirurgião plástico tarado e obviamente especialista em
cirurgias de aumento de seios. Só mesmo piranhas para aceitarem ser operadas
por esse maluco que só pensa naquilo. Em suma, é uma pena que um argumento
bacana tenha sido jogado fora e manchado o currículo de Helfrich logo em seu
debout como diretor. Especializado na montagem de filmes, realmente a edição
parece ser a única coisa correta neste caso... Ah, não! A vexatória cena
mosaico de Chuck mostrando suas habilidades na cama, no banheiro, na cozinha ou
até mesmo em seu consultório faz o filme perder pontos até neste quesito.
Comédia - 101 min - 2007
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