terça-feira, 14 de julho de 2020

AS PANTERAS - DETONANDO


Nota 4 Sem história coesa a narrar, sequência erra ao ampliar os exageros do primeiro filme 


Derivado de um seriado de TV, era óbvio que os Anjos de Charlie iriam protagonizar um segundo filme, afinal atirando para tudo quanto é lado história era o que não iria faltar, ou melhor, desculpa para o trio de beldades desfilarem pela tela e distribuírem alguns sopapos. Tudo era questão de ver os números de bilheterias e a produção lançada em 2000 não decepcionou. Assim, foi com grande expectativa aguardada três anos depois a estreia de As Panteras – Detonando, mas desta vez a decepção foi inevitável. Ainda sem seguir uma linha lógica de raciocínio para a trama, o longa se sustentou mais pela publicidade de resgatar Demi Moore para o papel da vilã Madison Lee, o que invalida uma das cartas da manga do roteiro já que ela seria uma ex-pantera que agora usa tudo que aprendeu para fazer maldades, e para nós brasileiros ainda tinha a curiosidade em torno da participação de Rodrigo Santoro em sua primeira produção hollywoodiana. Contudo, ambos decepcionam, restando o carisma e alto astral de Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu para segurar a canoa furada. Seduzidas por alguns milhões de dólares a mais que o oferecido para o primeiro filme, elas voltam a interpretar Natalie, Dylan e Alex, respectivamente. Desta vez as garotas devem resolver um caso envolvendo dois anéis que, quando reunidos, oferecem a lista de nomes de todas as pessoas que participam do programa de proteção à testemunha dos EUA. Os detentores dos artefatos foram capturados e cabe às beldades regatá-los e evitar que as informações sigilosas caiam em mãos erradas. 

A ação começa em uma Mongólia um tanto fake com as panteras resgatando o político americano Ray Carter (Robert Patrick) capturado por mercenários por estar de posse de um dos anéis. O outro encontra-se com William Rose, uma participação relampado de Bruce Willis. Para consegui-lo, as destemidas detetives mais uma vez vão usar e abusar de seus dotes físicos e de um vasto acervo de figurinos e entre um golpe e outro olhar para a câmera e balançar seus cabelos de modo sensual. A continuação segue os moldes do primeiro As Panteras, mas desta vez tudo soa muito mais exagerado. A gritaria e os efeitos especiais estão em maior quantidade seguindo o compasso das lutas coreografadas. Novamente no comando, o diretor McG deixa claro desde o início que não quer compromissos com a realidade e quanto mais exageros e situações inverossímeis melhor. O longa acaba oferecendo momentos de puro nonsense garantindo boas gargalhadas tanto do texto quanto visuais e as meninas continuam com a língua tão afiada quanto seus treinos de lutas marciais.  As cenas de ação oferecem situações que desafiam a gravidade e outras tantas leis da física e chama atenção os ares fetichistas da produção. Desta vez, as bonitonas realizam fantasias do universo masculino e se vestem como lutadoras, surfistas, noviças, soldadoras e até batem ponto em uma boate de strip-tease, tudo para incrementar e dar mais charme às investigações. 


Não há explicações para como em tempo recorde as panteras bolam seus planos, mas mande a lógica às favas. O negócio é focar no troca-troca de figurinos e cenários que ajudam a movimentar a trama. Ao fim de cada esquete você pouco estará lixando para o que as meninas foram fazer em determinado local e já estará satisfeito com o humor oferecido. Falando nisso, Matt LeBlanc e Luke Wilson retornam seus papeis cômicos do primeiro longa como Jason e Pete, respectivamente os namorados de Alex e Natalie. Já para Dylan um novo interesse amoroso surge, ou melhor, um ex-namorado do passado, Seamus O’Grady (Justin Theroux), que sai da cadeia obstinado a acertar as contas com a moça que o denunciou. Uma pena que Bill Murray com seu senso de humor peculiar e refinado não volta na continuação como uma espécie de vigia e conselheiro das heroínas. Em substituição entra em cena o jeito malandro de Jimmy Bosley (Bernie Mac), o novo porta-voz do misterioso Charlie que continua somente dando ordens e acompanhando o desempenho das pupilas à distância. Temos ainda as caras e bocas do Sr. Munday (John Cleese) que diverte a cada aparição embasbacado ao saber meios detalhes sobre o trabalho da filha Alex que acaba por confundir com prostituição. Por fim ainda temos pontas de Carrie Fisher, como uma madre superiora, de Jaclyn Smith, uma das panteras do seriado reinterpretando sua personagem de outrora, e nosso Santoro que não tem uma fala sequer, tendo apenas seu corpo sarado e beleza requisitados pela câmera.

Há ainda espaço para reverenciar o mundo cinematográfico com referências à, por exemplo, Flashdance – Ritmo Quente, Cantando na Chuva, Homem-Aranha, A Noviça Rebelde, Cabo do Medo e obviamente à Matrix cujo primeiro filme já bebia da fonte descaradamente. Neste universo fantasioso tudo se encaixa, mas nem por isso deixa de ser incômoda a sensação de que o roteiro não passa de uma forçosa colagem de esquetes. As Panteras – Detonando quer abordar uma infinidade de ganchos, mas não se aprofunda em nenhum. Defeito para alguns, provavelmente a seu público-alvo isso não incomode nem um pouco. A produção é uma ode a diversão descompromissada e se sustenta graças ao carisma e beleza do trio protagonista que, desmentindo boatos sobre brigas, deixam transparecer a cada take a alegria de novamente se reunirem e poderem brincar e se divertir a vontade trabalhando. Preocupando-se apenas com o fator entretenimento, o roteiro de John August e de Cormac e Marianne Wibberley não faz a menor questão de desenvolver o argumento decentemente e chega a criar personagens apenas para ocupar tempo de tela não agregando absolutamente nada. A trinca de autores é quem assina o roteiro oficialmente, mas por uma brincadeira do personagem Jason, tirando sarro do próprio longa, acredita-se que o texto passou por nada mais nada menos que treze roteiristas, o que explica a falta de unidade do conjunto todo. 


A sensação é de que vários esquetes foram forçosamente amarrados na sala de edição. McG parece não ter tido consciência de que para tudo há um limite, inclusive para o absurdo, beirando o constrangimento próximo ao clímax com Madison saltando do alto de um prédio e conseguindo voar simplesmente por estar usando uma espécie de capa. Todavia, por que o espanto já que as próprias panteras também dão cambalhotas no ar em slow motion e voltam ao solo em posições milimetricamente coreografadas e montadas em saltos agulhas? Talvez por exigir demais a complacência dos espectadores é que o longa fracassou nas bilheterias e se a crítica não foi tão dura com a primeira aventura das gatas desta vez ela foi implacável ajudando a enterrar as possibilidades de novas continuações da franquia... Bem, ao menos com este trio de panteras.

Aventura - 106 min - 2003

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