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NOTA 6,5 Apesar do início estranho, romance encontra seu caminho, embora previsível e deixando piadas de lado para apostar no drama |
É comum que as pessoas consolem
alguém que está sofrendo por amor ou por nunca o ter experimentado de verdade
dizendo que quando menos se espera uma grande paixão pode surgir em seu
caminho. Quem se apega a tal pensamento pode achar ridículo, mas
inevitavelmente passa a idealizar o momento desse encontro com toda pompa de
filme hollywoodiano, sendo capaz até de se imaginar vivenciando situações e
diálogos um tanto clichês. Alimentadas por essas fantasias, milhares de pessoas
vão tocando suas vidinhas até que o grande dia chega. O amor da sua vida
finalmente está próximo, mas você nem percebe devido as circunstâncias que não
lembram em nada seus sonhos. É dessa forma que começa o amor do casal protagonista
de Ironias
do Amor, baseado no romance de Ho-sik Kim que investe no humor sutil
para conquistar o espectador, mas na reta final apela para o melodrama. O filme
começa nos apresentando a Charlie Bellow (Jesse Bradford), um jovem que está
sozinho em meio a uma paisagem outonal dizendo que para entender como ele
chegou até lá é preciso conhecer sua história desde o início. Ele cresceu em
uma pacata cidade e seus pais fizeram de tudo para lhe dar uma boa educação a
fim dele ingressar em uma universidade de renome para estudar administração e
quem sabe seguir os mesmos passos profissionais do pai. Educado em ambiente
tradicionalista e com seu futuro parcialmente traçado, não havia muito com o
que Charlie se preocupar, mas e quanto a sua vida pessoal? Ele deixa os pais no
interior de Indiana e vai morar sozinho em Nova York sonhando com uma colocação
melhor no mercado, mas ao contrário da maioria dos solteiros não é um cara
namorador e tampouco adepto do sexo casual, o que soa estranho para muitos como
seu amigo Leo (Austin Basis) que tenta incentivar o rapaz a se divertir e ser
mais descolado. Certa vez questionado sobre qual tipo de garota o faria perder
a cabeça sem pensar duas vezes, coincidentemente Charlie bate os olhos
aleatoriamente em Jordan Roark (Elisha Cuthbert), uma loirinha que parece cheia
de atitude e personalidade. Já diz o ditado popular que os opostos se atraem,
assim ela seria a garota perfeita para um jovem mais pacato e pé no chão.

Até aí ficamos nos perguntando
que raios de romance é esse? Como alguém pode se apaixonar por uma figura tão
estranha e de temperamento tão inconstante? Muitos podem já estar entediados ou
confusos, mas os adeptos de romances podem gostar dos rumos da trama. Chega um
momento em que Charlie percebe que ao mesmo tempo em que Jordan lhe faz bem ela
também parece inclinada a destruí-lo, mas mesmo enumerando todos os seus
defeitos acaba chegando a conclusão de que está realmente apaixonado pela
doidinha. Entre encontros e desencontros, só vamos saber o real motivo do
comportamento da garota e sua fixação pelo atual namorado quando a narrativa
volta ao ponto inicial, o parque no qual Charlie se encontra aos pés de uma
árvore de imagem peculiar e de grande importância para o casal. São previsíveis
tais segredos ainda mais quando o pai da moça procura o possível genro para
pedir desculpas e assumir que o tratou mal pensando que ele era apenas mais um
que se aproveitou da fraqueza de sua filha que constantemente voltava para casa
na companhia de estranhos por estar embebedada, tentativa de afogar as mágoas
quanto ao fim de um romance. Um simples pé na bunda não a deixaria tão
transtornada. É difícil entender porque Ironias do Amor foi lançado
diretamente em DVD tanto no Brasil quanto nos EUA. Obviamente passa longe de
ser um filmaço, mas não chega a ser tão medíocre como tantas bobagens do gênero
romântico que chegam aos cinemas. Exibidores e afins que não costumam ver os
produtos do início ao fim certamente não se empolgaram com a estranha
introdução e a mesma possibilidade pode acontecer com os espectadores, mas quem
tiver disposição pode se sentir satisfeito com o conjunto, isso se não for
muito crítico e cheio de expectativas. Está é a refilmagem de Yeopgijeogin Geunyeo, um filme da Coréia
do Sul lançado nos EUA como My Sassy Girl
que foi rejeitado pelo público que não queria ler legendas, mas o roteiro de
Victor Levin não traz inovação alguma e tampouco mantém algum resquício de
clima de produção asiática, algo acentuado pela direção de Yann Samuell que
adotou uma edição arrojada em alguns momentos (ora apostando na rapidez, ora
valorizando a suavidade para captar emoções através de olhares e gestos) e que
procurou paisagens urbanas para desenvolver várias cenas, talvez uma forma
implícita de mostrar como as grandes metrópoles tratam seus habitantes. Eles
estão presentes em grandes quantidades, mas poucos sabem o que acontece com o
seu próximo. Mesmo assim, ironicamente, laços amorosos nascem e muitas vezes de
forma e com pessoas inesperadas.
Romance - 95 min - 2008
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