terça-feira, 18 de agosto de 2020

ESCORREGANDO PARA A GLÓRIA


Nota 6 Longa sarcástico tira proveito do estilo oposto de fazer humor de seus protagonistas


Quando escolhemos assistir a uma comédia com Will Ferrell já sabemos o que esperar: muito humor físico, caretas e temáticas bizarras. Em Escorregando Para a Glória o ator literalmente se joga, e por várias vezes, para arrancar gargalhadas apostando no politicamente incorreto para tirar sarro de um esporte mais restrito a cultura norte-americana, o que explica o fato de em muitos países o longa nem chegar a ser lançado em cinemas mesmo com o apelo do nome de Ferrell encabeçando o elenco. Ele dá vida à Chazz Michaels que, além de ser viciado em sexo, também é reconhecido como um dos melhores na patinação no gelo, mesmo com suas coreografias exageradas e feitas de improviso ao som de hard rock. No mesmo grau de avaliação está Jimmy MacElroy (Jon Heder), descoberto enquanto morava em um orfanato e adotado pelo interesseiro Darren Jimmy (William Fichtner), e dono de um estilo completamente avesso ao do rival, preferindo apresentações em estilo clássico e com movimentos bem calculados e perfeitos. Depois de empatarem na primeira colocação de um campeonato, os patinadores extrapolam os limites da rivalidade e iniciam uma briga corporal diante de uma multidão e para o deleite da mídia ávida por escândalos. Devido ao ocorrido, ambos são banidos das competições para sempre, porém, após três anos, eles descobrem uma brecha na legislação esportiva que os permite participarem de disputas entre duplas. 

Cansados dos rumos que suas vidas tomaram, sendo obrigados a se dedicarem a subempregos, os inimigos resolvem se juntar, criando assim a primeira dupla até então formada por dois homens. Isso tira do sério os irmãos Van Waldenberg, Fairchild (Amy Poehler) e Stranz (Will Arnett), acostumados a prêmios e fama que veem seus status ameaçados pela junção que julgam arbitrária de duas feras no esporte que passam a ser treinadas, e porque não dizer domadas, pelo paciente Robert (Craig T. Nelson). A graça é ver duas pessoas do mesmo sexo tendo que se adaptar a coreografias feitas sob medida para serem executadas por casais, como giros e saltos no ar nos quais as mulheres exalam leveza enquanto os homens lhes oferecem segurança. As piadas em torno dessa situação podem até ser encaradas como preconceituosas, inclusive a própria modalidade esportiva é taxada como uma das preferidas por homossexuais masculinos, contudo, a produção também pode ser vista como uma ferramenta de combate a essa ideia, afinal, mesmo usando o humor sarcástico, o filme mostra que dois homens podem realizar juntos tarefas de contato muito próximo, mas não necessariamente despertarem atração um no outro. 


A amizade que nasce entre os adversários é a grande mensagem da produção. É o espírito esportivo falando mais alto e deixando as desavenças de lado, afinal, neste caso, o sucesso de um também é a glória do outro. Aparentemente a ideia era ter apenas um pretexto para reunir a fama de Ferrell ao carisma de Heder que então começava a despontar. Contudo, ambos mostram-se limitados ao roteiro de John Altschuler, Dave Krinsky e dos irmãos Craig e Jeff Cox que apoia-se completamente sobre seus protagonistas, não demonstrando esforços para criar situações interessantes e divertidas. A produção brinca o tempo todo com a breguice do universo da patinação artística, mas os excessos visuais, como os brilhos dos colantes dos atletas e suas coreografias debochadas, são os principais alvos de piadas que destilam acidez para cima da aclamada modalidade esportiva. É quase impossível não rir com os protagonistas vestidos com malhas coladíssimas ao corpo deixando certas partes propositalmente volumosas para evidenciá-las. Quando a dupla está ensaiando ou se apresentando, a diversão está garantida. Os atores foram submetidos a treinos intensos de patinação no  gelo para estarem o mais natural possível em cena, embora em muitas delas eles se articulem com a ajuda de fios de sustentação apagados na edição. O filme perde um pouco a graça quando está em cena a dupla adversária, a do premiado casal de irmãos que assumem a posição de vilões que jogam sujo e bolam planos para atrapalhar os rivais, assim a narrativa segue uma fórmula manjada para ao final exaltar os esforços dos mocinhos. 

Os diretores Will Speck e Josh Gordon conseguem trazer certo frescor com o humor que aplicam aproveitando-se das características próprias de Ferrell e Heder para agregar a seus personagens. Unir duas figurars de estilos cômicos e portes físicos opostos permite diversas variações de fazer comédia usando desde as linguagens corporais diferenciadas até o modo de se expressarem verbalmente, assim os diálogos são sarcásticos, mas a grosseria também pode ser amenizada. Na verdade trata-se de um projeto no qual os envolvidos parecem se divertir até mais que o espectador. Ferrell está copletamente à vontade em um papel que parece sob medida para o ator extrapolar e usar e abusar de seu característico olhar que flerta com a surpresa e o deboche. Já Heder parece mais contido, mas nem por isso deixa que seu parceiro o engula em cena, e tira proveito de seus atributos físicos, ou a falta deles, assim faz questão que seu corpo magro e seu rosto de traços angulares, adornado por uma cabeleira oxigenada, virem piada. 


As coreografias e acrobacias que os protagonistas encenam são um show à parte. Patinação artística implica em técnica e força para realização de certos movimentos, mas também graça e leveza para giros e pulos serem executados. Michaels e MacElroy, às suas maneiras, colocam esses preceitos em prática, mas carregam nos estereótipos, respectivamente o grandalhão que se acha o máximo e o franzino que tem em seu talento a sua melhor qualidade. Escorregando Para a Glória é hilário usando na medida certa o humor negro e a escatologia conseguindo fazer o espectador dar boas risadas sem se chocar ou se sentir ofendido por algo. Nonsense ao máximo, é uma produção despretensiosa para fazer rir sem pudores de bizarrices e do politicamente incorreto, ainda que pegue mais leve que muitas outras comédias que mandam às favas os escrúpulos.

Comédia - 93 min - 2007

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