quinta-feira, 4 de novembro de 2021

PRONTA PARA AMAR


Nota 5 Tragicomédia ligeira não aprofunda conflitos e romance dos protagonistas não empolga


Existem dois tipos de filmes que costumam garantir boas bilheterias ou repercussão mesmo quando lançados diretamente para consumo doméstico e ainda demonstrar força para se tornarem aquelas produções que ficam eternizadas nas mentes do público. Dramas acerca de doenças e comédias românticas sem dúvidas são paixões universais e a junção destes gêneros só poderia trazer resultados positivos. Bem, Pronta Para Amar prova que nem sempre tal fórmula mágica funciona. O grande problema se encontra no roteiro da então estreante Gren Wells que cria uma protagonista carregada de conflitos, mas a maioria mal explicados, pouco explorados e vistos até com certa naturalidade pelas pessoas que a cercam. Marley Corbett (Kate Hudson) é realizada profissionalmente e vive a vida intensamente. Ela faz questão de propagar a ideia de que a mulher poder ser muito feliz sozinha e ter os mesmos direitos que os homens de se divertir o quanto quiser, incluindo rápidos relacionamentos, mesmo que eles durem apenas uma noite. Sua vida muda completamente quando descobre estar com câncer de cólon e que a doença está se espalhando rapidamente por seu corpo todo. 

Marley se submete a sofridos tratamentos e sua doença a aproxima mais dos amigos e da família, inclusive de seus pais que estão separados, mas a grande mudança é o fato de finalmente ela se apaixonar de verdade por alguém. O problema é que o tal homem é seu próprio médico, Julian Godstein (Gael Garcia Bernal), que além da timidez coloca como barreira para esse amor o fato de sua profissão proibir o envolvimento mais íntimo com seus pacientes. A premissa é piegas, mas um drama verossímil e atemporal, afinal de contas infelizmente todos os dias novas pessoas se encontram na mesma situação que a protagonista. Simplesmente de uma hora para a outra podem ser diagnosticadas com uma doença que por mais boa vontade que se tenha para encará-la com valentia inevitavelmente ela trará sempre algum pensamento triste. Abordar tal tema é importante, mas a forma de conduzir a narrativa é algo ainda mais preocupante. A diretora Nicole Kassell tentou fazer uma espécie de filme de autoajuda colocando em foco o amadurecimento e as mudanças sofridas por uma pessoa quando ela recebe um grande baque, mas tentou contornar o peso da história com discussões de relacionamento que não chegam a lugar algum e algumas piadas grosseiras, umas inclusive deixando a entender que a doença de Marley seria um reflexo de todos os exageros que cometeu até então, principalmente quanto a sua vida sexual. 


Hudson estourou para a crítica e grande público no cultuado Quase Famosos, mas, como diz o ditado, filho de peixe peixinho é, e a herdeira da atriz Goldie Hawn encontrou seu porto seguro nas comédias românticas, projetos bem menos ambiciosos onde ela pode interpretar simplesmente o mesmo papel sempre. Salvo um ou outro detalhe de personalidade ou conflito, parece que ela está sempre reciclando o perfil da garota feliz em busca de um amor perfeito. Neste caso ela novamente reinventa tal tipo, agora se tornando o estereótipo da independência feminina. Porém, quando está fragilizada, dá um passo para trás e decide ter um homem com quem possa dividir seus momentos alegres e tristes, talvez como forma de se redimir da vida promíscua que levava e da qual o próprio destino de certa forma se encarregou de castigá-la. Embora em alguns momentos sua personagem pareça bipolar, a atriz se equilibra bem entre os momentos dramáticos e de humor de sua personagem, mas seu par romântico decepciona. Bernal se sai muito bem em produções independentes e estrangeiras em papeis difíceis e com peso dramático acentuado, mas quando é recrutado para viver um simples mocinho de uma fita água-com-açúcar mostra-se um tanto inseguro, assim como já havia demonstrado em Cartas Para Julieta

No conjunto, o casal protaginista até funciona razoavelmente, mas já existiram pares românticos bem mais cativantes. No quesito emoção eles decepcionam e desta forma o romance soa falso, como se fosse um relacionamento baseado em interesses e com prazo de validade. Os dois estariam vivendo pela primeira vez uma experiência diferente no campo amoroso, ela se entregando ao amor de verdade pela primeira e talvez última vez e ele provando uma espécie de caso proibido devido ao real motivo que os aproximou. O elenco coadjuvante soa bem mais interessante, ainda que nem todos os participantes colaborem para dar sustento à trama. Kate Bates e Treat Williams interpretam os pais de Marley, a veterana atriz sempre emocionando o público, mas seu companheiro tendo sua participação diminuída devido a fraca atenção dada ao gancho do pai ausente que tenta reconquistar a confiança e o amor da filha.  Romany Malco diverte fazendo o amigo gay da jovem, um clichê básico do gênero,  enquanto Lucy Punch vive a espevitada melhor amiga da protagonista. Vale destacar também a rápida presença de Peter Dinklage responsável por uma das melhores sequências do longa, ainda que sua participação não interfira no enredo drasticamente. 


Whoopi Goldberg também consegue uma ponta interpretando Deus (ou seria um enviado dele?), personagem que foi agregado à história para introduzir humor numa situação triste. Como um anjo caído do céu, tal aparição surge do nada para Marley em diversos momentos lhe trazendo sempre mensagens positivas, inclusive as duas estão juntas na última e surreal cena que, diga-se de passagem, não encerra a obra de modo convencional ao gênero. Não há muito que se esperar de um filme cujo próprio título já desvenda todo o enredo em poucas palavras. Pronta Para Amar é rápido e clichê. No fundo, é uma variação do tema da mocinha que passa da fase adolescente para adulta, período marcado por amadurecimento e pela vontade de experimentar um relacionamento amoroso sério. O diferencial é que aqui a protagonista já tem seus trinta e poucos anos, não acredita a um bom tempo em príncipes encantados e forçosamente precisa fazer a transição natural na vida de qualquer ser humano. De qualquer forma, garante umas horas de distração e o final alto astral, dentro das possibilidades, deve fazer bem a muita gente.

Romance - 106 min - 2011
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2 comentários:

Luís disse...

Não consigo de modo algum enxergar químmica na junção Hudson-Bernal, os dois atores parecem simplesmente não combinar, não sei bem explicar. Quanto ao filme, não penso tratar-se mesmo de algo aprofundado, mas também não tão raso assim, como você aponta. Enfim, vou passar longe dele.

renatocinema disse...

Gosto dos dois atores. Porém, não sei existe uma química para aturarem juntos.

Tentarei assistir ao filme para analisar.

Vou arriscar.