Nota 9 Robin Williams rouba a cena como uma simpática senhora em comédia atemporal
Existem filmes que foram concebidos para serem automaticamente clássicos para entreter toda a família e marcarem gerações. Alguns não marcam apenas por causa de uma história bem contada que agrada crianças e adultos, mas os personagens bem construídos e críveis também extrapolam os limites da tela e invadem a mente dos espectadores. Quando a criação é alegórica, ou seja, não aparece de cara limpa e precisa de figurinos e maquiagens especiais para ganhar vida, o sucesso é ainda maior. Na década de 1990 tivemos muitos personagens marcantes no cinema como o Batman, o Máskara e os membros da família Addams, mas uma simpática senhora idosa se transformou no sonho que muitas famílias desejavam ter em suas casas. Prendada, organizada, ótima para lidar na cozinha e defensora das boas maneiras, a senhora Euphegenia Doubtfire, uma babá muito experiente, poderia fazer a alegria de muitos pais, mas tirar o sossego de seus filhos exigindo horários rígidos de estudo, para ver TV e ir para a cama dormir. Seu único problema é que ela não é mulher e sim um homem travestido. Essa é a premissa do clássico atemporal Uma Babá Quase Perfeita.
O responsável pela criação de um personagem tão verossímil e longe de ser caricatural é Robin Williams vivendo um dos papeis mais significativos de sua carreira. Embora sua veia cômica já tivesse sido testada e aprovada em vários outros trabalhos, foi com este filme que o ator virou ídolo do público infantil. A sintonia com essa plateia se deve muito também a experiência do diretor Chris Columbus, um especialista em obras açucaradas e com apelo familiar, como os dois primeiros títulos da franquia Esqueceram de Mim, e que aqui se baseou no livro infantil britânico "Alias Madame Doubtfire", de Anne Fine, para criar um marco do cinema, embora sempre exista um crítico chato para tachar a obra negativamente e desvalorizá-la sem levar em consideração os objetivos do longa e o seu público-alvo. Para uma comédia familiar, nada melhor do que ter realmente uma família no centro das atenções, assim somos apresentados aos Hillards, um tradicional clã da classe média americana que aparentemente vive muito feliz, mas os chefes dessa família vira e mexe estão às turras. Daniel (Williams) é praticamente uma criança no corpo de um adulto. Ator desempregado e com um dom incrível para criar personagens e disfarçar sua voz, ele adora se divertir com seus três filhos, os adolescentes Christopher (Matthew Lawrence) e Lydia (Lisa Jakub) e a pequena Natalie (Mara Wilson).
Se com a relação com os filhos vai as mil maravilhas o mesmo não acontece com a esposa. A gota d’água para Miranda (Sally Field) foi ver sua casa ser transformada em um verdadeiro caos, com direito a animais e som no último volume, durante uma festa de aniversário promovida pelo marido. Daniel se vê então desempregado e abandonado pela esposa, mas não deixa a depressão bater à sua porta e tenta uma ideia arriscada com a qual mataria dois coelhos com uma cajadada só. Para ficar perto dos filhos e ainda garantir um salário, ele se candidata a vaga de babá oferecida por Miranda. Disfarçado como uma respeitável velhinha com sotaque irlandês, a senhora Doubtfire, Daniel conquista a confiança da ex com alguns truques como recorrer a um restaurante para oferecer um jantar delicioso e impondo disciplina rígida aos filhos, algo que ele próprio nunca ligou. Para compensar a rotina regrada, a babá também sabia recompensar a turminha com alguns momentos de lazer inusitados como passeios de bicicletas e jogos de futebol. Enfim, uma profissional exemplar e que sabe conquistar a todos com sua simpatia e bom humor. Pouco a pouco, os filhos de Daniel também são conquistados e passam a respeitar e se entrosar com a bondosa senhora sem nem desconfiarem de sua real identidade.
Entre apuros para sustentar a personagem para os filhos e sua ex-esposa e situações mirabolantes para driblar a Sra. Sellner (Anne Haney), a assistente social a quem tenta convencer que se tornou um pai mais presente e dedicado, Daniel ainda terá que lidar com o ciúmes quando Miranda surge com Stuart (Pierce Brosnan), seu novo namorado e que parece disposto a roubar o lugar de paizão e marido fiel. São várias as cenas hilariantes que Williams protagoniza aprendendo na marra a cuidar dos filhos e das atividades domésticas, incluindo uma divertida sequência em que ele queima os enchimentos de sua roupa. O riso também é garantido pelo troca-troca de figurino do personagem e suas confusões e mentiras para despistar aqueles que não deveriam saber da existência dessa babá, como em um encontro de trabalho no qual sua criação acaba lhe rendendo um novo emprego na TV. A maquiagem da respeitável senhora consumia aproximadamente três horas de cada dia de filmagem, sacrifício recompensado por um merecido Oscar para a equipe responsável, porém, a Academia de Cinema ficou devendo a indicação para o protagonista mesmo com ele já tendo em mãos o Globo de Ouro da categoria Melhor Ator de Comédia. No elenco também vale destacar a presença da graciosa Wilson como a criança-xodó do longa. Com um impressionante talento, a garotinha vivia uma época gloriosa emplacando outros sucessos como Matilda e a refilmagem do clássico natalino Milagre na Rua 34, mas em paralelo passava por problemas pessoais e até mesmo em relação a fama, situações que pouco a pouco foram a afastando dos holofotes.
Caminho diferente fez Brosnan que aparece aqui como um coadjuvante bem apagadinho, mas que conquistou seu espaço no cinema, principalmente após encarnar o famoso agente 007 a partir do final da década de 1990, apesar de seu talento ser considerado limitado. Já Field, apesar de muito competente, amargava pequenos papeis mesmo tendo conquistado no passado dois Oscars de Melhor Atriz, mas a situação não mudou. Até hoje sua interpretação como a preocupada e metódica mãe de três filhos é seu trabalho mais reconhecido. Todavia, no conjunto todos os atores se saem bem e estão em sintonia, mas não tem jeito, Williams é a alma e o coração de Uma Babá Quase Perfeita, uma comédia que continua atualíssima. Quem dera existissem várias senhoras Doubtfire espalhadas pelo mundo, garantia de disciplina, compreensão e mimos na medida certa. Quem sabe com essa fórmula simples muitos problemas juvenis seriam evitados e o mundo não seria o caos que é hoje.
Vencedor do Oscar de maquiagem
Comédia - 126 min - 1993
3 comentários:
Belo trabalho para relaxar e que adoro.....
Realmente o protagonista merecia uma indicação ao Oscar. Falha, mais uma, do Oscar.
Eu me lembro bastante desse filme por causa das inúmeras vezes que o vi na Sessão da Tarde. Trata-se de um "feel-good" bem humorado que me agrada, mesmo que eu não me sinta engajado no universo humorístico do cinema. Mas, sinceramente, adoro a interpretação de Robbin Williams, e, qual o Renato, do comentário acima, penso que Williams poderia conquistar uma indicação - o que seria interessante!
Um dos filmes que mais assisti na minha infância!
Parabéns pelo blog, já estou seguindo :)
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