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NOTA 1,0 Comédia procura dar cara nova ao batido argumento da babá desajeitada cuidando de pestinhas, mas resultado é constrangedor |
Quando uma comédia tenta unir
temática adulta e piadas protagonizadas por crianças já temos a ideia de que
algo de ruim estar por vir. Um universo não é compatível com o outro e tal mistura
pode no máximo render alguns sorrisos amarelos e muita decepção. O
Babá(ca) confirma o problema tentando reciclar o clichê da pessoa
atrapalhada que se mete a cuidar de um bando de fedelhos, diga-se de passagem,
tão irresponsável quanto eles. A trama tem como protagonista Noah (Jonah Hill),
um gordinho que se acha o melhor dos amantes, além de ser um folgadão que só
pensa em diversão. Certo dia ele é convocado de última hora para cuidar dos
três filhos de um casal de vizinhos e a grana alta e fácil o seduzem rapidinho,
afinal o que poderia acontecer de mal em algumas poucas horas? Absolutamente
tudo! Logo de cara ele não consegue se entender com as crianças e deixa claro
que está na casa delas apenas por interesses financeiros e de quebra comer e beber
de graça enquanto assiste TV de pernas para o ar. Todavia, seus planos mudam
completamente quando recebe uma ligação de Marisa (Ari Graynor), uma garota que
ele está paquerando e que lhe promete loucuras sexuais caso ele consiga para
ela drogas com o violento traficante Karl (Sam Rockwell). Como só pensa
naquilo, Noah não pestaneja e decide pegar emprestado o carro dos patrões e
leva as crianças à tiracolo em uma verdadeira aventura na qual ele próprio se
mete em muitas confusões, mas a galerinha não fica atrás. A começar pelo
desastre que é no volante, Noah vai viver a noite mais alucinante de sua vida
até então, com direito a bombas em banheiro, acusação de pedofilia e sequestro
e porte de entorpecentes. A essência da trama é um tanto batida, mas com esforço
e criatividade seria possível driblar os clichês. Os roteiristas Brian Gatewood
e Alessandro Tanaka felizmente escreveram um roteiro enxuto, mas em
contrapartida tentaram escamotear a previsibilidade recorrendo a piadas
vulgares, a maioria envolvendo sexo e escatologia. Aliás, onde estava o juízo
dos pais das crianças que participam do filme? Cegos por alguns trocados fáceis
e provavelmente projetando nos filhos seus sonhos frustrados eles não devem ter
lido sequer a sinopse.
Chega a ser constrangedor ver menores
de idade literalmente acobertando as peripécias sexuais de um marmanjo bobalhão
e conversando a respeito de drogas sem pudor algum. Antigamente quando eram
necessárias crianças em produções com temáticas adultas havia certo cuidado em
filmar separadamente as suas cenas para evitar polêmicas e problemas aos atores
mirins e a obra completa, incluindo as sequências mais fortes, ficava a
critérios de seus pais permitirem ou não que seus filhos assistissem. Dessa
forma, ao menos das experiências nos sets de filmagens elas não guardariam
lembranças duvidosas que poderiam desvirtuá-las no futuro. Tudo bem, nem sempre
essa regra é válida caso contrário não teríamos clássicos como O Exorcista e A Profecia, mas no filme em questão boa parte das piadas protagonizadas
ou presenciadas pelos jovens atores é desnecessária e mesmo que houvesse o
cuidado de não ceder a eles texto com piadas sexuais explícitas, qual deles não
teria curiosidade em ver como o filme ficou depois de editado? Os pais que se
arriscam a assistir esta fita junto com os filhos atraídos pelos rostinhos
traquinas que estampam o material publicitário devem ficar atentos que logo na
introdução o constrangimento será inevitável e possivelmente algumas perguntas
cabeludas irão surgir. Papai o que é sexo oral? Mamãe o gordinho está mordendo
as pernas da moça e ela geme porque está doendo? Prepare-se para questões do
tipo. O diretor David Gordon Green, cujo trabalho mais conhecido é a comédia Segurando as Pontas (por aí você já tem
ideia de seu potencial para criar bombas), tentou modernizar a relação babá
versus menores pestinhas, mas não soube equilibrar seu trabalho de forma a
agradar o público infantil e ao mesmo tempo chamar a atenção dos adultos. Ele
até tenta dar algum sentido para a existência desta produção abordando o
conflito de Slater (Max Records), um garoto com tendências homossexuais, mas
coloca justamente seu depravado protagonista para dar lições de vida e dizer
hipocritamente que cada um deve ser feliz como desejar e ninguém tem nada a ver
com isso. Será que o gordinho mulherengo aceitaria numa boa a cantada de um
homem? De qualquer forma, a inserção do tema é um lampejo de serenidade em meio
ao caos. O que Slater tem de sério seus irmãos menores tem de peraltas. Blithe
(Landry Bender) é uma irritante garotinha metida a periguete e que almeja a
fama enquanto Rodrigo (Kevin Hernandez) é um moleque ligado no 220 volts que
sofre com incontinência urinária ou usa tal desculpa para detonar explosivos em
sanitário.
É claro que as crianças, diga-se de
passagem, um tanto estereotipadas, vão colocar o babá em maus lençóis,
inclusive encrencá-lo com a polícia, mas sabemos que o happy end está
garantido. As caras e bocas de Noah entregam antecipadamente tudo que está para
acontecer. Aliás, o personagem não tem nenhum atrativo que lhe traga algum
diferencial, exceto não ser um cara atraente, mas que se acha o último biscoito
do pacote. Fora isso, é o típico bobão de sessões da tarde, porém,
protagonizando um longa que de censura livre não tem nada. Certamente esta
produção mais parece uma mancha no currículo de Hill que no mesmo ano deste
lançamento foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante pelo drama esportivo O Homem que Mudou o Jogo, mas vamos
pegar leve com o rapaz. Conhecido por papéis de jovens que só pensam em curtir
a vida com todos os podres possíveis em filmes cujos enredos parecem cópias uns
dos outros, esta seria a primeira vez que atuaria em um projeto levemente
diferenciado e com seu nome na dianteira dos créditos, inclusive como produtor,
todavia, também seria provavelmente sua última produção de gosto duvidoso.
Realizado antes do citado longa que projetou seu nome como ator sério e lhe
rendeu elogios, O Babá(ca), embora tenha feito sucesso entre o público ianque
ávido por lixo cinematográfico, só deve ter chegado a alguns países como o
Brasil após a passagem de Hill pelas premiações, badalação que em nada alterou
a avaliação desta comédia execrada por praticamente todos que a assistem. Depois
de uma segunda indicação ao Oscar também como coadjuvante por O Lobo de Wall Street e a relativa
qualidade da mescla de humor e ação de Anjos
da Lei, ao que tudo indica o rapaz tem talento, só é preciso saber escolher
melhor seus trabalhos. Levando menos a sério o roteiro, quem se sai melhor é
Rockwell no papel de vilão. Percebendo a tempo a fria em que se meteu,
simplesmente deixou as coisas rolarem e embarcou na loucura de seu personagem e
do ambiente que o cerca, extravasando todos os seus demônios e colaborando para
deixar o filme ainda mais esquisito. Improvisos ou obras de um roteiro mal
feito? Provavelmente as duas coisas. No final das contas, ao menos existe um
coisa para se elogiar: o título nacional. Poucas vezes a escolha tupiniquim foi
tão certeira.
Comédia - 85 min - 2011
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Um comentário:
Belo blog.
Cumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
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