Nota 2,5 Terror espanhol abusa dos clichês e acaba se tornando uma obra confusa e sem identidade

Já faz alguns anos que a Espanha
é reconhecida como o berço do gênero terror. De lá vieram excelentes produções
como
Rec que além de sequências também gerou interesse de Hollywood em
fazer seu remake e também em emigrar cineastas hispânicos para dar um gás ao
seu universo de horror. Contudo, o país também tem lá seus tropeços como é o
caso de
Influência, longa de
estreia do diretor Denis Rovira von BoeKholt que, apesar de apresentar alguns bons
momentos esporádicos, deixa notar suas dificuldades para conduzir a obra.
Baseado no romance do britânico Ramsey Campbell, o longa conta a história de
uma família desestabilizada por algo sobrenatural. Alicia (Manuela Vellés) se
muda com o marido Mikel (Alain Hernández) e a filha Nora (Claudia Placer) para
a antiga casa em que viveu quando era criança e de onde não guarda boas
recordações. Ela vai para ajudar a cuidar da mãe Victoria (Emma Suárez) que
está já há alguns anos em estado vegetativo presa a uma cama, mas deixa claro
que faz isso em consideração a irmã Sara (Maggie Civantos). O retorno a faz reviver
dolorosas lembranças do passado e as coisas se complicam quando uma série de
eventos inexplicáveis passam a colocar a vida de todos em perigo e a afetar principalmente
o comportamento de Nora. O primeiro ato do longa é dedicado a estabelecer a
relação entre os personagens e oferecer pequenos detalhes sobre o sinistro
passado da família e o que levou a moribunda matriarca a flertar com o
satanismo e outras forças ocultas. Nesse ponto o longa é bastante direto e
razoavelmente bem feito, caprichando na exploração do cenário aterrorizante da residência
onde praticamente toda a ação acontece. Contudo, o roteiro, escrito pelo
próprio cineasta, vai apresentando os fatos do passado e do presente da família
de forma aleatória, sem continuidade ou transição entre uma cena e outra, o que
pode gerar certa confusão e até mesmo desinteresse. Quem decide encarar até o
fim também acaba se decepcionando com a avalanche de clichês que estão por vir.
Não que eles sejam o real problema, afinal de contas é difícil ser original
neste tipo de produção, mas BoeKholt poderia ter evitado anunciar os
acontecimentos dosando efeitos sonoros e sua própria câmera.

Fica nítida a pretensão de se
aproximar de um estilo hollywoodiano a fim de atingir um público mais amplo. A
estratégia acabou chamando a atenção da Netflix que adquiriu o longa para seu
catálogo, ainda que a empresa de streaming tenha produções independentes do
gênero muito superiores. BoeKholt parece ter medo de ousar e prefere seguir a
linha do horror tradicional apostando em uma casa rústica e antiga, símbolos
demoníacos, um provável amigo imaginário, família problemática e em uma fotografia
escura e iluminação baixa, como se os próprios personagens vivessem na penumbra
propositalmente como se clamassem por energias negativas. Todavia, nada que
possa assustar, a não ser os momentos em que o silêncio é quebrado pela lenta
respiração de Victoria que é mantida viva por intermédio de aparelhos. Ficamos
na expectativa de que a qualquer momento sua fragilidade seja desmascarada,
obviamente uma cena reservada para o clímax, diga-se de passagem, nada
impactante apesar de investir no gore, despejando muitas cenas sanguinolentas
para compensar todo o marasmo. Provavelmente a maior parte do orçamento foi
gasto no ato final com maquiagens, sangue falso e finalmente a materialização
de todos os demônios que o longa conjura. O grande problema de
Influência é não ter estopo para se manter por
cerca de uma hora e meia. O diretor demora quase uma hora para desenvolver o
drama familiar reciclando situações para esticar a trama, assim como a inserção
de alguns personagens que não acrescentam nada, entram e somem de cena sem
dizer a que vieram. Vale destacar o bom trabalho da atriz mirim Placer responsável
pelos momentos mais violentos e conseguindo tornar crível a transformação do perfil
de sua personagem de menina dócil para vingativa. Ela é diretamente influenciada
pela avó que mesmo em coma transmite todo sua energia negativa para a garota e
para o desespero de Alicia que sabe que a única forma de salvar a filha é matando
a mãe. O resultado é um filme frio e que desde o início deixa uma incômoda
sensação de deja vu e, pior ainda, de algo que você não tem vontade alguma de
rever.
Terror - 99 min - 2019
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário