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NOTA 6,0 Brincando com chavões de contos-de-fadas, comédia tinha potencial de ir além aprofundando críticas à mídia e ditadura da beleza |
Um dos últimos a visitar a garota
foi Edward (Simon Woods), que ficou traumatizado com o que viu, mas ninguém
acredita em seus relatos. Pudera, ele fez um retrato-falado de Penélope a
descrevendo como um cruzamento de um lobisomem com a garota de O Exorcista! Puro exagero, mas sua
convicção envolve o jornalista Lemon (Peter Dinklage) que fica obcecado pela
ideia de ter uma foto da tal aberração estampando a primeira página de seu jornal.
Por ironia ele próprio está fora dos padrões ditos como normais pela sociedade
por ser um anão, mas ainda assim ficará no encalço de Penélope e para facilitar
as coisas arma um plano e contrata Johnny (James McAvoy), um jovem viciado em
jogos de azar que está devendo até a alma. Como os primeiros encontros são
sempre feitos com um espelho falso escondendo a moça, sua missão é conquistar a
confiança dela, superar o trauma de ver seu rosto revelado e convencê-la a
deixar tirar uma foto. Apresentando-se como Max, um apaixonado por música e que
demonstra não ter o menor receio pelos boatos que ouviu, ele consegue
rapidamente conhecer Penélope, mas as coisas não saem como ele esperava.
Arrependido de tê-la enganado, o rapaz desiste da farsa, mas a essa altura a
moça resolve mudar de vida radicalmente decidindo enfrentar o mundo. Ela
própria vende sua fotografia para o jornal para ter como sobreviver na selva de
pedras que rodeava sua mansão. Ela tentou esconder ao máximo seu defeito, mas
um acidente revelou seu segredo e para sua surpresa de uma hora para a outra passou
a ser adorada por desconhecidos. A mídia viu na excêntrica história de vida da
garota uma mina de ouro e explorou à exaustão. Com a superexposição logo ela
vira uma celebridade com direito a fã clube para desespero de sua mãe que não
se conforma que a filha tenha aceitado ser diferente dos outros e tirar
proveito disso. Assim o roteiro de Leslie Caveny faz uma razoável crítica à
ditadura da beleza, hipocrisia social e a força e manipulação dos meios de
comunicação, mas como é um trabalho voltado ao público infanto-juvenil ou uma
simples diversão familiar os temas não são aprofundados. De qualquer forma, o
que está na tela já serve para trazer à tona importantes discussões, além de
reforçar as boas e velhas lições de moral sobre respeitar o próximo, amar a si
mesmo antes de cobrar a atenção dos outros e valorizar a beleza interior de
cada um, temas um tanto clichês, mas ainda necessários para combater
preconceitos.
Apesar de assumidamente
água-com-açúcar, a estreia em longas-metragens do diretor Mark Palansky é acima
da média e demonstra um apuro técnico invejável. A direção de arte nos remete
com perfeição aos cenários de histórias de princesas, criando um interessante
contraste visto que o casarão no melhor estilo medieval dos Wilherns está
encrustado em meio à Londres contemporânea. É possível sentir o clima bucólico
da residência, apesar da movimentação dos pretendentes à príncipe, e essa característica
fica mais evidente quando conhecemos o quarto de Penélope, praticamente um
mundo à parte, extremamente colorido, com direito a uma árvore com balanço, mas
sem televisão ou computador, tudo meticulosamente pensado para a jovem se
entreter e não pensar em sair de casa. Contudo, mesmo com toda superproteção,
mais cedo ou mais tarde a fuga seria inevitável. Munida de um charmoso cachecol
para esconder seu focinho, o que lhe permite andarilhar pela cidade à vontade
com a desculpa de uma plástica frustrada, é certo que Palansky poderia ter se
estendido nas experiências da moça no mundo real, porém, ele prefere revelar
seu segredo prematuramente o que acaba prejudicando um pouco o clímax. O
interesse só não decai por conta do carisma de Ricci que consegue equilibrar a
doçura e ingenuidade típicas de princesas e a coragem e obstinação que marcam o
perfil de uma heroína. Sua parceria com McAvoy não chega a ser memorável já que
o personagem do rapaz é desperdiçado. Com duas identidades diferentes para
defender, o ator poderia render muito mais, porém, acaba apagadinho e seus
repentinos sentimentos amorosos não convencem a ponto de justificar o inerente
final feliz do casal. Todavia, apesar da pouca exposição do longa, é possível
se especular que seu lançamento se deve muito ao jovem ator que na época colhia
elogios por O Último Rei da Escócia e
Desejo e Reparação. Após o término
das filmagens foram quase dois anos de pós-produção e certamente a carona no
sucesso do rapaz ajudou a chamar a atenção de distribuidores interessados. Por
outro lado, havia também o chamariz Reese Witherspoon, produtora do filme e que
faz uma ponta como a despachada Annie, uma grande amiga que a protagonista
conquista em suas aventuras londrinas. Chega a ser contraditório uma produção
que critica os exageros da mídia e o culto por celebridades precisar de pelo
menos um nome em evidência para conseguir ser lançada. Apesar de uma longa
carreira e a eterna lembrança como a estranha e sádica garotinha de A Família Addams, Ricci não é o tipo de
atriz que leva multidões ao cinema ou apontada como exemplo de beleza e Penélope seria a sua grande de chance de
provar que poderia segurar um filme comercial. Seria ela vítima de algum tipo
de maldição de Hollywood?
Comédia Romântica - 101 min - 2006
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