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NOTA 4,0 Tentando desdobrar a ideia que fez do primeiro filme algo original, longa perde o impacto do inesperado e se rende ao estilo serial killer |
Nunca é tarde para uma
continuação, mas as vezes a demora denuncia que não há necessidade para tanto. Os Estranhos foi lançado em 2008, mas
não se tornou um sucesso. Como representante da categoria dos filmes sobre
"home invasion", sua história em suma não difere em nada de tantas
outras produções da seara colocando pessoas ameaçadas por desconhecidos
perversos e sem limites que se divertem torturando física e psicologicamente
suas vítimas. O clima da fita era seu melhor predicado. Com ação desenvolvida
totalmente em uma única noite dentro de uma casa de campo afastada com
iluminação baixa em seu interior e o breu quase total do lado de fora, algo
intensificado pela densa floresta que cerca o terreno, difícil alguém não se
imaginar na pele dos protagonistas vividos por Liv Tyler e Scott Speedman. Se
já é amedrontadora a ideia de ser encurralado por criminosos, o medo é
redobrado quando se percebe que a ameaça não tem como finalidade o roubo de um
bem material e sim pura e simples maldade. Não é dada qualquer justificativa
direta para o casal ser o alvo, apenas deram o azar de estar no lugar e na hora
errada. Isso é o mesmo que acontece à família que fica na mira dos sádicos em Os Estranhos - Caçada Noturna, ou melhor,
aparentemente já que tudo parece milimetricamente calculado nesta emboscada a
começar pela ambientação propícia. Kinsey (Bailee Madison) é uma adolescente
problemática que será levada para um distante colégio interno, mas seus pais
Cindy (Christina Hendricks) e Mike (Martin Henderson), além do irmão mais velho
Luke (Lewis Pullman), decidem fazer uma pausa na viagem e passar a noite em um
acampamento de trailers de propriedade de um casal de tios mais velhos.
Curiosamente, não há sombra de uma pessoa sequer no local, nem mesmo dos donos,
mas o clã parece nunca ter visto um filme de terror na vida e praticamente
deixam a porta aberta para serem atacados. Não demora muito e eles recebem a
visita de uma garota cujo rosto não é mostrado perguntando se uma fulana está.
Poucos minutos depois ela volta e faz o mesmo questionamento. É o bastante para
colocar os pais em estado de alerta e se atentarem que seus desmiolados filhos
estão fora e bem longe do trailer. A essa altura os jovens já terão descobertos
dois corpos e que o camping não está vazio.

Sem acrescentar absolutamente
nada à ideia original, pelo contrário, talvez até a esvaziando ou
ridicularizando, fica claro que este segundo filme existe unicamente pela
cultura hollywoodiana de explorar qualquer mínima possibilidade de gerar uma
franquia. É uma tentativa arriscada, pois ao mesmo tempo que pode enaltecer e
gerar curiosidade pela matriz também pode denegri-la irremediavelmente. O
roteiro de Ben Kentai busca um estilo mais próximo ao de um slasher movie e por
várias vezes evoca lembranças de expoentes deste subgênero, como a ambientação
estrategicamente deserta e o fato dos mocinhos parecerem seguir um roteiro
pré-planejado pelos vilões, estes que ganham uma aura de imortais, chegando ao
absurdo de um deles sobreviver a um carro em chamas. São pequenos detalhes que
o espectador tomado pela tensão e expectativa do momento pode não perceber, mas
basta subirem os créditos finais para cair a ficha de que a ideia brilhante do
primeiro filme foi totalmente desconstruída a favor de um tradicional jogo de
gato e rato. Ao menos somos poupados de cenas com sangue esguichando pela tela.
Já basta a crueldade dos ataques. Se antes tínhamos um casal em crise encontrando
em um episódio de fobia a chance de reavaliarem seus sentimentos, aqui temos
uma família também com problemas, mas não fica claro o peso que isso tem em
suas vidas e muito menos se existe afeto real entre os membros. Sem
características para cativarem a plateia, quando o perigo os cerca a sensação é
que vale a máxima do cada um por si, embora como de praxe tomem atitudes
estúpidas e se coloquem facilmente em risco. Contudo, destaca-se a participação
do jovem Pullman não por sua atuação em específico, mas pela cena de emboscada
que lhe ofereceram. Na área do clube do acampamento, o ambiente inóspito e
escuro inesperadamente ganha luzes de neon e uma trilha sonora dissonante ao
que está para acontecer. Aliás, muito boa a sacada da utilização de canções populares
da década de 1980 acompanhando os atos dos mascarados. A nostalgia despertada por
elas em contraste à violência explícita causam uma sensação difícil de
explicar, hipnotizante. Bastante genérico, Os Estranhos -
Caçada Noturna serve com um passatempo, não está no patamar de
lixo total, muito pelo contrário. Entretanto, frustra violentamente quem foi
tomado pelo clima aterrorizante e anarquista do primeiro.
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