![]() |
NOTA 6,5 Baseado em escandalosos fatos reais envolvendo uma problemática família, longa parece ter receio de chocar demais e explora polêmicas com cautela |
Drogas, homossexualidade,
incesto, libertinagem... São temas bastante pesados e se abordados
individualmente já são grandes fardos para serem trabalharem que dirá todos
eles juntos em uma mesma narrativa. Talvez por isso Pecados
Inocentes ganhou um título nacional tão condizente. O que é
mostrado no filme é relativamente leve perto do que de fato deve ter acontecido
na família Baekeland. Baseado em fatos reais, o filme começa de forma enganosa,
com toda pompa de um romance de época. O bem nascido Brook (Stephen Dillane) tinha
uma vida social bastante agitada em companhia de Barbara (Julianne Moore), esta
vinda de um berço menos abastado. Eles formavam aparentemente um casal
perfeito, imagem que sustentaram por um casamento que estranhamente durou anos.
Na intimidade, o marido revela-se egocêntrico, deixa claro que detesta o
convívio no high society e também repudia a extrema dedicação que a esposa
dispensa ao único filho do casal. Tony (Eddie Redmayne) cresceu vivendo uma relação
muito próxima à mãe e compartilhando de uma intimidade exagerada. Não teve um
referencial masculino presente, o que poderia explicar sua tendência
homossexual já percebida por seu pai desde a infância e mais um motivo para
conflitos entre os dois. O jovem até tenta se interessar por Blanca (Elena
Anaya), mas vive uma relação sem sentimentos, apenas baseada no sexo, algo
quase mecânico. Sua grande paixão atende pelo nome de Sam Green (Hugh Dancy)
com quem se relaciona com certa liberdade, já que o envolvimento é acobertado
por sua mãe que não quer vê-lo sofrer como ela. Obcecada pela ideia de fazer
parte das altas rodas da sociedade, ela sempre viveu insatisfeita em uma
relação de amor e ódio com Brooks, esse que nunca perdeu a chance de
humilhá-la, mas a gota d'água foi quando descobriu que ele a traía com outra
mulher. Pela vida que levavam, não era para surpreendê-la. Provavelmente o
baque foi maior pela ameaça em perder seu posto de socialite já que a revelação
da identidade da amante pode ser apontado como o primeiro escândalo do clã a
vir a público.
Se o aceite da homossexualidade e
a tolerância ao fato do filho usar baseados já pode causar certo abalo,
principalmente aos mais puritanos, o que dizer quando a certa altura Barbara
divide a cama com Tony e o namorado? Isso mesmo. A relação muito próxima entre
mãe e filho acaba gerando um desejo incestuoso, primeiramente por parte dela,
mas logo o rapaz também tem seus instintos despertados. Embora subentenda-se
que eles já se relacionavam sexualmente, o caso é revelado com mais detalhes em
uma provocadora cena em que ela toca o genital do filho por cima da roupa e
tece elogios à sua libido. Logo ela está sentada no colo do rapaz e mesmo sem
nenhum dos dois se despir totalmente fica claro o ato sexual para o prazer da
reprimida mulher que em seguida o masturba. Tony, embora confuso mental e
emocionalmente, parece aceitar o seu próprio comportamento bizarro e o de todos
que o cercam com passividade, mas tem inteligência para suprir suas carências
na base do fumo e adquirindo ternos de fino trato. Sem saber do que se trata e
baseando-se pela introdução, dificilmente alguém imaginaria que o drama
dirigido por Tom Kalin chegaria a tal ponto. Revelado no Festival de Sundance
em 1992 com Swoon - Colapso do Desejo,
este era apenas seu segundo longa. Neste intervalo de tempo dedicou-se a
lecionar sobre cinema e a realizar curtas-metragens tendo o homossexualismo
como um tema constante. Assim como em seu trabalho de estreia, o cineasta volta
suas atenções para uma história sórdida envolvendo membros de uma sociedade que
em geral vive uma felicidade de fachada, um caso registrado no livro
"Savage Grace" (homônimo ao título original do filme) publicado em
1985 e escrito por Natalie Robins e Steven M. L. Aronson. A trama acompanha a
trajetória da família Baekeland de 1946 à 1972, ano em que o clã foi
definitivamente abalado por uma tragédia e vieram à tona os fatos ligados à
intimidade devassa que compartilhavam, embora possa ser questionável como os
autores chegaram a tantos detalhes escabrosos. O verdadeiro Green chegou a
declarar publicamente que boa parte do conteúdo, principalmente no que diz
respeito a sua relação com o família, não condiz com a realidade, mas o roteiro
de Howard A. Roman procura amenizar os fatos de forma que a trama não girasse
em torno do tal caso incestuoso e tampouco ficasse refém das demais
libertinagens praticadas pelas personagens. Há um nítido esforço em
humanizá-las, porém, as boas intenções falham e o espectador não cria vínculos.
Não torcemos para que o desajustado clã encontre o equilíbrio ou que cada um
individualmente repense sua vida. Simplesmente acompanhamos a trama na
expectativa de ver qual será o próximo ato amoral e se o diretor será audacioso
a ponto de mostrar nu ou sexo explícito.
Contando assim por alto, pode
causar a impressão de Barbara ter sido pinçada do universo pornográfico sendo
uma pessoa condizente com todos os tipos de fantasias sexuais, mas tudo que
colocava em prática não eram meros caprichos e sim necessidades. Sua rotina
ociosa, a permanência em um casamento infeliz e a super proteção ao único filho
demonstram uma total falta de amor próprio e objetivos de vida, a não ser
manter-se no high society. Um exemplo disso é sua tentativa em evitar que Tony
seja discriminado por sua opção sexual. Ao mesmo tempo que se entrega a ele
para ajudá-lo a descobrir os prazeres carnais com o sexo oposto, a própria
realiza-se sexualmente suprindo a ausência que o marido lhe faz na cama e
parecendo acreditar que dessa forma não poderia ser acusada de traição. O
desempenho de Moore sem dúvida é o maior atrativo de Pecados
Inocentes mostrando a decadência moral de Barbara de forma
cadenciada e encarando difíceis cenas, contudo a escolha da atriz não foi por
acaso. Seu currículo conta com diversos trabalhos complexos e que lhe exigiram
se despir de pudores para simular cenas de sexo e beijar mulheres, mas nunca
descambando para o grotesco. Suas interpretações são sempre marcadas por certo
refinamento e total entrega, além do fato dos figurinos de época lhe caírem
como uma luva. Ela não apenas veste as roupas, mas as usas como importante
recurso para compor os perfis de suas personagens, algo que fica evidente no
ato final quando veste um tailleur vermelho vivo evocando o estilo mulher fatal,
mas uma cor que também remete o perigo que a ronda. Contudo, o magnetismo que
lança com sua figura nos primeiros minutos pouco a pouco vai minguando em
frente a promiscuidade prometida pelo
enredo, ainda que ao final fique a sensação que Kalin pegou leve apesar de
tudo. Para um caso que escandalizou à época, parece que houve um cuidado
excessivo para não transgredir o limite do aceitável deixando uma amarga
sensação de acusação moral como se o objetivo da produção fosse alertar que
quem caminha por vias tortas mais cedo ou mais tarde pagará por tudo. Bem, o
desfecho não foi uma inventividade do roteiro. O próprio destino escreveu cenas
bastantes cruéis. O saldo final é um filme morno e que caba decepcionando por
não cumprir as expectativas. Como curiosidade, tempos depois, Redmayne e Moore
foram vistos frequentemente em premiações, ele como vencedor do ano anterior
por A Teoria de Tudo entregando
troféus para a melhor atriz do ano seguinte pelo desempenho no drama Para Sempre Alice.
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário