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NOTA 5,0 Apesar da expectativa gerada por ser russo, terror decepciona ao copiar estilo hollywoodiano, dos chavões aos deslizes |
É sabido que Hollywood produz
muitos filmes de terror e mesmo requentando ideias ainda mantém aquecida a
indústria do cinema americano. Países orientais tiveram sua fase de evidência
com o gênero enquanto da Espanha vez ou outra pipocam algumas produções de
arrepiar que carimbam o passaporte de diretores e roteiristas para trabalharem
nos EUA. Contudo, nos últimos anos, verifica-se que outros países sem tradição
com fitas de horror estão buscando explorar tal território, ainda que de forma
tímida. Só pelo fato de ser oriundo da Rússia, o longa A Noiva
já aguça a curiosidade, porém, justamente por criar expectativas acaba
decepcionando. Escrito e dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy, o filme usa como
argumento uma antiga lenda local a respeito de que os mortos podem sobreviver através
das fotografias que tem o poder de aprisionarem suas almas e assim mantê-las no
mundo dos vivos. Para explanar rapidamente tal tradição, a introdução se passa
em meados do século 19 quando, inconformado com a perda da pretendente às
vésperas do casamento, o noivo (Igor Khripunov) decide fotografá-la com uma
maquiagem sobre as pálpebras fechadas dando o efeito de olhos esbugalhados.
Porém, ele vai além e tenta transferir a alma da falecida para o corpo de uma virgem
sacrificada em um ritual, mesmo que o resultado não a traga de volta à vida por
completo. Ele poderia ter o espírito da amada novamente, mas jamais o seu
corpo. De início arrepiante, ficasse a trama ambientada neste período o longa
certamente seria bem mais interessante, porém, há um salto no tempo de dois
séculos para acompanharmos a história de Nastya (Victoria Agalakoya), uma jovem
que está prestes a realizar seu sonho de se casar com Vanya (Vyacheslav
Chepurchenko), aquele que acredita ser o homem da sua vida. Contudo, somente
após a cerimônia civil é que ela vem a finalmente conhecer a família do rapaz
em uma viagem até o vilarejo onde ele viveu. Ela é recebida de forma muito
amistosa por todos da casa (obviamente isolada), principalmente por Liza
(Aleksandra Rebenok), sua cunhada, mas aos poucos vai percebendo que a velha
residência esconde obscuros segredos.
Mesmo incomodada, Nastya aceita
participar de um antigo ritual de união afetiva que é uma tradição na família
do noivo, mas durante as preparações para a cerimônia estranhos eventos e
mudanças de comportamento dos anfitriões passam a atordoar a moça. Aqui e acolá
encontramos elementos que nos fazem relembrar de filmes como Os Outros, O Chamado, A Chave Mestra, A
Mulher de Preto, entre outros. Entre clichês e estereótipos, a trama perde
o fôlego rapidamente não conseguindo conectar coerentemente o presente e o
passado que insiste em se manifestar. Ninguém irá se surpreender com a
revelação que a tal noiva do prólogo fazia parte da família de Vanya e que o
seu casamento foi planejado para manter a tradição familiar. Se o início soava
promissor, quando a ação passa para os tempos contemporâneos o roteiro se
degringola pouco a pouco, embora mantenha certa coerência. Em seus pesadelos, a
protagonista consegue voltar ao passado e assim compreender os propósitos e
consequências do ritual que está prestes a ser submetida e dessa forma tentar
encontrar alguma forma de escapar. No limite entre a paranoia e a realidade, os
problemas que a jovem enfrenta em nada surpreendem. Para quem esperava algo
mais original pelo fato de ser uma produção russa, a decepção é inevitável
visto que, na ânsia de atrair um público mais amplo e não ter seu trabalho
rotulado como um produto elitizado, Podgaevskiy copia descaradamente todos os
chavões do gênero, não deixando de lado nem mesmo os irritantes sons explosivos
e súbitos inseridos para assustar o espectador, mas que acabam por enfraquecer
o impacto das imagens que deveriam estar em sintonia. Nada contra a ideia de um
país tentar fortalecer sua indústria de cinema desvencilhando sua imagem do
cinema de arte, mas se é para ser mais do mesmo não faz muito sentido. Passado
em brancas nuvens em praticamente todo o mundo, todavia em seu país-natal a
fita fez bonito e rendeu uma polpuda bilheteria, um bom incentivo para
cineastas e produtores locais explorarem ainda mais outros gêneros e não
ficarem apenas nos dramas tradicionais. Alguns anos atrás, a relevante
repercussão do épico de ação e fantasia Guardiões
da Noite e sua sequência Guardiões do
Dia já indicava essa abertura de horizontes.
A
trama ainda é prejudicada por não ter fôlego suficiente para se
sustentar. Precocemente explicada a maldição e a ligação da protagonista com a
mesma, não há muito mais o que expor, muito menos reviravoltas para se esperar.
Podgaevskiy então investe em diálogos extremamente expositivos e em sustos
previsíveis, mas por outro lado com sua câmera explora bem o cenário e os
detalhes da caprichada direção de arte que oferecem o tom assustador para a
fita que a trama em si fica a dever. Com seu estilo gótico, visualmente o longa
remete a grandes produções de horror do passado, ou melhor, lembra aquelas que outrora
faziam o sangue gelar, mas com o tempo passaram a ser rotuladas como filmes B. Entretanto,
falta ao longa russo a essência das fitas de baixo orçamento que é justamente o
uso da criatividade para driblar os recursos materiais escassos, algo que fica
evidente principalmente pela caracterização da tal noiva-cadáver. Impactante na
sequência inicial pela morbidez da pintura de olhos sobre as pálpebras e o
pescoço mole que custa a ficar imóvel para que o corpo seja fotografado, depois
a defunta ganha uma maquiagem e figurino horrendos que aliados aos exagerados
movimentos corporais acabam por causar risos involuntários. Aliás, as
interpretações também deixam a desejar com personagens bastante frios,
principalmente a mocinha em perigo que deveria despertar a compaixão do
espectador, mas este fica insensível ao seu drama. Rebenok é quem se salva do
elenco beneficiada pelo fato de dar vida a uma mulher naturalmente depressiva e
amarga, assim a falta de pulso do diretor no comando dos atores não lhe traz
prejuízos. Com tantos problemas, contudo, A Noiva atinge seu propósito maior: se aproximar a um produto
hollywoodiano, e isso não é necessariamente um elogio. Aos desavisados,
tranquilamente pode ser confundida com uma fita norte-americana tamanha sua
vocação para o genérico. Não se surpreenda portanto se no futuro uma versão
ianque do enredo ganhar aval visto que, apesar da fácil assimilação do conteúdo,
o público de lá detesta ler legendas e não suporta dublagens. Caso isso ocorra,
será como trocar seis por meia dúzia certamente.
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