![]() |
NOTA 9,0 Longa é uma eficiente mistura de ironia, drama e fatos históricos que comprova que o cinema alternativo e comercial podem caminhar lado a lado |
Alex conta com a
ajuda da namorada Lara (Chulpan Khamatova), da irmã Ariane (Maria Simon) e de
alguns conhecidos para manter a farsa. Eles usam roupas fora da moda, se
alimentam de comida ocidental estrategicamente acondicionada em frascos de
produtos extintos da Alemanha Oriental e precisam se policiar para em meio a
conversas não trazerem informações atualizadas. O mesmo cuidado é exigido de
amigos e alunos da professora quando vão visitá-la. Até quando ela pede uma
televisão no quarto para se distrair Alex dá um jeitinho. Recorre a fitas de
vídeo com gravações de programas jornalísticos de um ano atrás e quando a fonte
seca ele próprio parte para a produção de conteúdo amador, mas com certo apuro
técnico graças ao apoio de Denis (Florian Lukas), seu amigo que sonha em ser
diretor de audiovisuais. O problema é quando impulsivamente Christine levanta
da cama e resolve desenferrujar as pernas indo até a porta do edifício. Além da
mudança de novos vizinhos vindos da parte ocidental do país, como explicar, por
exemplo, a enorme peça publicitária da Coca-Cola que agora adorna a fachada de
um prédio? Alex continua investindo em falsos telejornais, mas no fundo sabe
que a mãe mais cedo ou mais tarde vai saber toda a verdade. Mesclando muito bem
drama e humor, é muito interessante e envolvente a forma como Becker utiliza a
relação entre mãe e filho para expor conteúdos históricos e sociais a respeito
da Alemanha antes e depois da queda do muro. É importante ressaltar que toda a
preocupação de Alex, além do amor natural que sente pela mãe, é porque ele tem
consciência que ela já sofreu muito e ele próprio se sente responsável por seu
último baque. Quando os filhos eram pequenos, Christine foi abandonada pelo
marido e sofreu uma síncope. Foi depois disso que se tornou uma ferrenha
ativista socialista, mas quando viu seu filho em meio a uma manifestação teve
um choque em dose dupla. Além da violência que o rapaz sofreu, também lhe doeu
saber que ele estava no meio da confusão justamente para lutar contra todos os
conceitos que ela defendia e lá se vai mais um ataque cardíaco. Um terceiro
poderia ser fatal, por isso Alex praticamente abdica de sua vida para se
dedicar ao máximo aos cuidados com ela, mas o que parecia ser divertido no
início acaba se tornando estressante visto que é impossível fazer o tempo parar
e as notícias voam rápido. Essa é uma grande reflexão do filme adornada por
detalhes da História de um país cuja cultura geralmente é conhecida de forma
folclórica, porém, o cotidiano se assemelha ao de brasileiros, americanos ou
japoneses. Todos têm problemas, sonhos e momentos felizes em menor, igual ou
maior número.
O longa está
repleto de boas ideias como o fato da irmã do protagonista estar feliz por
trabalhar como atendente de uma lanchonete e vestir-se com roupas descoladas,
totalmente integrada ao estilo de vida capitalista. Alex também não veria
problemas em conviver com essa cultura do consumismo e da massificação, tanto
que trabalha vendendo TVs a cabo, um símbolo da mudança dos tempos para o país,
a porta para a população expandir seus conhecimentos. Contudo, percebe que a
nova política não vai lhe oferecer nada mais que subempregos, mas nem por isso
se torna um chato de galochas. A interpretação sincera de Brühl nos faz ficar
ao seu lado nesta brincadeira do Bem e sua relação com a mãe é cativante. Não
podia ser diferente. Apesar das críticas e metáforas políticas e ideológicas, a
essência da trama está na relação de amor e confiança entre mãe e filho, assim
não seria errado dizer que a narrativa traz resquícios de A Vida é Bela. No premiado drama italiano um pai escondia do filho
pequeno os horrores da guerra induzindo-o a acreditar que estavam participando
de um jogo em um campo militar. Enquanto Roberto Benigni investiu no tom
caricatural para contar uma história um tanto emotiva, Brühl mostra-se mais
sóbrio para compor sua farsa aparentemente divertida, mas no fundo melancólica.
O ator, talvez o nome de maior projeção da cinematografia alemã contemporânea,
interpreta de forma natural, rapidamente parece um velho conhecido do
espectador e seu desempenho só tende a melhorar quando há um entrosamento maior
com a personagem de Katrin Sass, esta que tinha tudo para descambar para uma
atuação típica de dramalhão. É sensível que sua Christine sabe que pode falecer
a qualquer momento, mas não se deixa abater e procura aproveitar positivamente
esta nova chance para viver dure o tempo que durar. Usando imagens de arquivos
da época, mas também investindo em sua recriação (lembrando que a ação
principal se passa em 1990), Adeus, Lênin! é o que se pode chamar
de um produto perfeito, onde tudo funciona. Além do texto, direção e
interpretações em sintonia máxima, a parte técnica também não deixa nada a
dever a produções hollywoodianas. Aliás, embora fale de temas universais como
amor em família, consumismo e a chance de corrigir erros do passado, produtores
ianques só não correram atrás dos direitos de refilmagem porque o pano de fundo
histórico é essencial para a trama, tanto que o filme acabou se tornando uma
boa ferramenta de trabalho para professores pela fácil comunicação que o longa
estabelece com o público jovem, mas deveria ser um programa obrigatória para
qualquer um que aprecie cinema de qualidade. Quem disse que os alemães são
sisudos? Assista ao filme e reveja seus conceitos.
Comédia - 118 min - 2002
-->
Nenhum comentário:
Postar um comentário