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NOTA 4,5 Comédia romântica francesa tenta se aproximar do estilo de Hollywood, mas peca com casal protagonista com pouca química |
Quando se fala em cinema francês
automaticamente nos vem a cabeça referências melodramáticas, de erotismo,
contemplação ou reflexão. Quem ainda acredita que a indústria de filmes de lá
sobrevive de produções destinadas a um público mais cult e maduro é quem parou
no tempo, precisa rever seus conceitos. Diretores, produtores e roteiristas
locais estão cada vez mais procurando diversificar os estilos e, para o bem ou
para mal, se aproximar dos padrões das produções de Hollywood visando uma
penetração maior no mercado. Em outras palavras lixo em embalagem de luxo. Não
exageremos. Se dos EUA recebemos muita porcaria, o cinema europeu com pegada
mais comercial no mínimo traz certa dose de refinamento como verificamos, por
exemplo, em Um Plano Perfeito. O título
genérico nos remete de imediato a uma produção de ação ou suspense, mas na
verdade trata-se de uma comédia romântica que poderia perfeitamente ser
estrelada por alguma queridinha dos ianques e faturar alto, mas a protagonista
escolhida, a alemã Diane Kruger, infelizmente não conta com uma grande legião
de fãs, embora esbanje beleza, seja talentosa e tenha iniciado sua carreira em
solo norte-americano. Após chamar a atenção no épico Tróia, mas não a ponto de ofuscar Brad Pitt, a atriz fez várias
fitas comerciais por lá, mas mantendo sempre um estreito laço com a
cinematografia europeia alternando roteiros mais elaborados com outros cuja
função é simplesmente oferecer uma diversão escapista. No longa dirigido por
Pascal Chaumeil, que já havia investido no gênero em Como Arrasar Um Coração, Kruger interpreta Isabelle, uma bela balzaquiana
que faz parte de uma linhagem de mulheres que, coincidência ou não, só
conseguem um casamento feliz e duradouro quando trocam alianças pela segunda
vez. A relação com o primeiro marido sempre acaba em brigas, separação e até
mesmo morte, o que as leva a crer que sofrem de alguma espécie de maldição que
perpetua geração após geração.
Apaixonada por Pierre (Robert
Plagnol), a quem considera sua alma gêmea, eles formam aquele tipo de casal que
de tão perfeito facilmente desperta inveja nos outros. Eles simplesmente
combinam em tudo. Ambos são dentistas e dividem o mesmo consultório, fazem
metodicamente os mesmo programas nos mesmos dias da semana, aproveitam
intensamente (na medida do possível) cada minuto juntos e por aí vai. O que
atormenta Isabelle é que eles estão prestes a completar dez anos de namoro e
seu relógio biológico já começa a dar sinais de alerta caso ela queira ser mãe.
Seu parceiro até concorda com a ideia que chegou a hora de formarem uma
família, contudo, muito tradicional, algo raro hoje em dia, ele só aceita ser
pai após subir ao altar. Mas como pensar em se casar sabendo que forçosamente
acabará sendo separada do grande amor de sua vida? Eis que ela bola o tal plano
perfeito do título. Para fugir da maldita sina, ela decide se casar com o
primeiro desconhecido que lhe cruzar o caminho e no mesmo dia pedir o divórcio,
assim ficando desimpedida de se unir a Pierre. O que ela não esperava era que o
tal sujeito fosse alguém tão persistente e imprevisível quanto Jean-Yves (Dany
Boon), um redator de guias de viagem tranquilo, ingênuo e que leva a vida
conforme a música, não planeja nada. Cercando-o por todos os lados e armando situações
para se esbarrarem, o rapaz caiu fácil na farsa e de tão apaixonado nem pede
justificativas quando a esposa simplesmente some por uns dias. Pelo contrário,
ele até propõe uma viagem de lua-de-mel para o Quênia aproveitando que estará
fazendo um trabalho por lá. Dessa convivência forçada, a moça vai acabar
revendo seu relacionamento com Pierre e
perceber que a vida a dois como levavam e considerava perfeita na verdade era
de uma monotonia ímpar e praticamente a obrigava a ser submissa as restritas
vontades dele, fruto de seu próprio comodismo em busca de uma relação sem
conflitos. Por sua vez, o dentista está tranquilo e nem ao menos estranha o
sumiço repentino da noiva nesse período em que ela viaja com o outro, plano que
ela consegue acobertar com a ajuda da irmã Corinne (Alice Pol) e do cunhado
Patrick (Jonathan Cohen) que reforçam álibis.
Baseado no argumento de Philippe
Mechelen, a premissa fantasiosa é um convite para a diversão, mas falta açúcar
para o longa ficar docinho. Na realidade, incomoda a química frágil entre os
protagonistas. Embora a trama assinada por Laurent Zeitoun, Yoann Gromb e
Béatrice Fournera faça de tudo para se assemelhar aos moldes de uma típica
comédia romântica americana, remetendo inclusive em alguns momentos às
histórias de Como Perder Um Homem Em 10
Dias, A Proposta e até mesmo Maldita
Sorte (excluindo as piadas de cunho sexual e escatológicas), Kruger e Boon
não convencem como par romântico. De fato, Isabelle deveria manter certo
distanciamento do marido de mentirinha, afinal ela tinha um objetivo concreto
para essa união, mas existe o ponto da virada quando se dá conta que se
apaixonou de verdade e sente a necessidade de trocar a vida metódica ao lado de
Pierre pelos sobressaltos do cotidiano de Yves. Essa transição é o calcanhar de
Aquiles da trama. Já Boon faz um divertido boa-praça, aquele sujeito simpático
e divertido que todos gostariam de ter como amigo. Além de um respeitável
comediante, ele é um verdadeiro astro em sua terra natal, daqueles cujo nome é
capaz de levar multidões aos cinemas. Ele é o protagonista, por exemplo, de A Riviera Não é Aqui que levou mais de
vinte milhões de franceses para vê-lo nas telonas. Já em outros países o longa
foi lançado diretamente para consumo doméstico, assim como Um Plano
Perfeito. A situação do ator deve ser parecida com a de alguns
fenômenos brasileiros, como Paulo Gustavo e Leandro Hassum, cujos filmes fazem
sucesso internamente, mas dificilmente teriam espaço em circuito internacional devido
ao tipo de humor adotado, algo muito enraizado e com piadas restritas. Embora a
imagem da França ainda esteja muito atrelada a dramas e filmes-cabeça, é certo
que o país também é um fértil campo para as comédias, principalmente as que
envolvem interesses românticos. Simplória e previsível, é certo que esta obra
está longe de ser uma das mais representativas para a filmografia do país, mas isso não é
demérito. Agradável, leve e bem feitinha tecnicamente, não deixa nada a dever a
qualquer produto do gênero oriundo de Hollywood. Assista sem pré-julgamentos.
Comédia - 94 min - 2012
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