segunda-feira, 1 de março de 2021

MEDITERRÂNEO


Nota 8 Premiado longa italiano lança olhar diferenciado e mais leve sobre Segunda Guerra

O cinema italiano vira e mexe entra na lista dos indicados ao Oscar e por várias vezes ultrapassou as barreiras impostas aos filmes estrangeiros conquistando indicações em outras categorias, não só técnicas, mas também importantes como de direção e roteiro. Contudo, um filme não falado em inglês arrebatar a tão cobiçada estatueta dourada pode ser apenas uma glória passageira. Mediterrâneo foi premiado pela Academia de Cinema de Hollywood, tornou-se sucesso de bilheteria em seu país natal, em terras americanas foi o filme internacional mais bem sucedido lançado em 1992 e até no Brasil atraiu a atenção mesmo exibido em poucas salas. Contudo, hoje poucos se lembram da fita, o passar dos anos revelou sua fragilidade. Podia ser o melhor título entre os estrangeiros selecionados naquele período, mas não demonstrou força para se tornar um clássico da filmografia italiana. Todavia, a qualidade de um filme não pode ser avaliada por prêmios e o longa dirigido por Gabriele Salvatores na verdade revela-se uma obra humana e bastante simples (no melhor sentido da palavra), mas talvez incompreendida. A trama se passa durante a Segunda Guerra quando um grupo de oito homens do exército da Itália é destinado a ocupar as terras de Mighisti, uma pequena ilha grega incrustada em meio ao mar Mediterrâneo. Embora saibam que o local não tem importância estratégica, os soldados cumprem as ordens sob o comando do tenente Montini (Claudio Bigagli) e do sargento Lorusso (Diego Abatantuono).

O lugar parece desabitado e os militares passam a desfrutar do sossego e das belezas naturais da ilha já que o único meio que tinham para se comunicar com seus superiores, um rádio com escuta, havia se quebrado. Os habitantes locais, que estavam receosos com a chegada do grupo, aos poucos passam a deixar seus esconderijos, retomar suas rotinas e a estabelecer uma convivência cordial com os soldados, estes que se surpreendem com o oferta de um das nativas. Vassilissa (Vanna Barba) se apresenta como prostituta e oferece seus serviços que de imediato são aceitos pela tropa, exceto por Antonio Farina (Giuseppe Cederna), este que se apaixona pela moça que fica estarrecida com o respeito e a delicadeza que ele a trata. A essa altura, três anos já se passaram e quando os militares acreditavam terem sido esquecidos eis que surge um avião e com ele a notícia de que o ditador Benito Mussolini já não governava mais a Itália e que os alemães já ocupavam metade do país. A outra parte já estaria sob domínio de ingleses e americanos. Era hora da tripulação regressar e ajudar a reconstruir sua pátria, no entanto, Farina se recusa a retornar já que criara raízes na ilha, inclusive casando-se com a tal prostituta. Os outros também temem o retorno. Após tanto tempo levando uma vida bucólica, como se readaptar à antiga rotina e ainda ser reincorporado ao conflito armado? 

Roteirizado por Vincenzo Monteleone, o enredo é baseado em relatos reais contidos em um livro escrito por um sargento italiano que abandonou o regimento durante o período de guerra e passou a viver em uma paradisíaca ilha grega. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Para de fato entrarem no clima da trama, Salvatores levou sua equipe de atores e produção para uma ilha onde realmente não existiam hotéis, restaurantes, sinal para comunicação ou qualquer outro elemento que pudesse lembrar à contemporaneidade. A intenção era que todos experimentassem as mesmas angustias e sentimentos dos personagens em meio a uma terra simplória e pobre, mesmo que as condições precárias do local dificultassem as filmagens. Vale também destacar a forma com o conflito bélico é retratado. Enquanto Hollywood criava dezenas de filmes exaltando os combates, as torturas e as mortes, o cineasta italiano imprimiu à sua obra um tom pacifista, já que fica claro que os militares retratados não se identificam de forma alguma com a guerra em vigor e tentavam buscar as mais variadas desculpas para não lutar. Antes eram movidos pelo ideal de mudar o mundo, mas perceberam que tal tarefa não compete a um pequeno grupo, tampouco a uma nação, e se desiludiram. Ficarem presos na ilha por alguns meses poderia ser como um castigos aos soldados, mas acabou sendo um período abençoado de descobertas e prazeres. 

A Itália é o país recordista na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, tanto em indicações quanto em prêmios, mas infelizmente são poucos os títulos que vivem na memória afetiva do público, como é o caso de Cinema Paradiso A Vida é Bela, muito por conta da restrita projeção que recebem quando lançados. A obra de Salvatores poderia ter seu charme e importância quando arrebatou a estatueta, mas é certo que hoje se encontram justificativas para seu esquecimento ou para no máximo permanecer na lembrança de um seleto grupo de espectadores. Poderia ter sido uma obra de maior relevância caso não ficasse restrito a mostrar apenas o lado utópico da situação. É sabido que muito combatentes italianos não regressaram às suas casas e morreram em situações trágicas espalhados em diversos países por onde o conflito se estendeu. Contudo, o cineasta quis fugir do lugar comum e apresentar um retrato mais leve sobre a Segunda Guerra, afinal cada país vivenciou o período de uma maneira peculiar, alguns mais engajados e outros mantendo certo distanciamento. 

Além de uma fotografia excepcional explorando a riqueza dos cenários naturais da ilha, a trama em si não é ruim. Embora não traga nada de extraordinário, o texto propõe uma ode à vida e ao que é belo, além de trazer à tona uma mensagem anti-guerra apresentando um lado mais ameno do conflito, mostrando que felizmente algumas pessoas conseguiram ser felizes em um dos períodos mais tristes e obscuros da História mundial. O fato é que a obra envelheceu, o conteúdo deixa um pouco a desejar no comparativo a outros filmes italianos lançados nos últimos anos, as atuações são apenas corretas e a duração enxuta, embora eficiente, deixa a sensação de que faltaram ingredientes para transformar esta obra em algo realmente memorável. Para apreciar Mediterrâneo em sua plenitude, é preciso se esforçar a não fazer comparações com outras fitas e tentar imaginar como era o cenário cinematográfico do início da década de 1990 para assim compreender o destaque que esta produção obteve, sendo inclusive indicada ao Globo de Ouro na categoria de filmes estrangeiros (faturou como Melhor Trilha Sonora) e a grande vencedora do prêmio David di Donatello, o Oscar italiano.

Vencedor do Oscar de filme estrangeiro


Drama - 92 min - 1991 

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Um comentário:

renatocinema disse...

Sou fã de filmes italianos e esse sempre deixei para amanhã. Acho que chegou o dia para ver.

Abraços