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NOTA 3,5 Prometida como versão assustadora de conto clássico infantil, longa se perde com cenas gratuitas, personagens em excesso e triângulo amoroso insosso |
Os contos clássicos infantis são
fontes inesgotáveis de inspiração para o cinema, a televisão, o teatro e até
para a própria literatura que vive repaginando histórias já conhecidas. Algumas
delas já sofreram tantas readaptações que hoje em dia é até difícil saber quais
as versões originais. Muitos acreditam que os chamados contos de fadas usados
para ninar criancinhas mundo a fora na realidade não tinham o objetivo de
embalar o sono de ninguém e seriam carregados de elementos fortes, perversos,
trágicos e até mesmo de mensagens subliminares. Por serem as mais populares, muitos
acreditam que a versão dos filmes Disney são verdadeiras, o que não procede,
mas bem verdade que muitas das fábulas ditas infantis jamais ganhariam o colorido
e o toque de humor da empresa devido a seus conteúdos. É com essa brecha que
muitas companhias estão tentando lucrar lançando versões mais pesadas e
voltadas ao público adolescente. Para os fãs da saga Crepúsculo, o suspense A Garota da Capa
Vermelha pode parecer uma continuação da história de amor e ódio
entre vampiros e lobisomens, até porque ambos os projetos tem na direção
Catherine Hardwicke. Ela dirigiu apenas o primeiro filme da franquia, mas o
suficiente para viciar seu trabalho seguinte. Criado em meados do século 19
pelos famosos irmãos Grimm, o conto da Chapeuzinho Vermelho é uma de suas obras
que nunca ganhou uma versão arrebatadora em forma de longa-metragem,
tornando-se assim um prato cheio para novas interpretações ou simplesmente para
que algum diretor corajoso adaptasse o texto original sem muitas firulas. Mais
preocupada com invencionices e em faturar outra vez uma bolada, a diretora
acabou derrapando feio no comando da adaptação da simplória fábula. Personagens
em excesso, trama confusa e um romance insosso explicam os fracos resultados
financeiros da fita. Visualmente a produção chama a atenção com uma ambientação
fria e soturna, mas a trama deixa a desejar e toda a aura de mistério que a
parte técnica promete é destroçada por um roteiro pouco envolvente e que
recorre a manjada fórmula do triângulo amoroso adolescente.
Valerie (Amanda Seyfried) é uma jovem que vive em uma aldeia próxima a uma floresta misteriosa junto com a mãe Suzette (Virginia Madsen), vez ou outra visita sua estranha vovozinha (Julie Christie) e que vive um conflito amoroso. Ela está apaixonada pelo simplório Peter (Shiloh Fernandez), mas foi prometida à Henry (Max Irons), um rapaz que tem uma vida um pouco mais abastada que o concorrente, mas que nela não desperta o menor sentimento. A moça decide fugir com seu verdadeiro amor, mas desiste quando descobre que sua irmã mais velha faleceu devido ao ataque de um lobisomem que está rondando o vilarejo. Os moradores então recebem a ajuda do sanguinário padre Solomon (Gary Oldman), conhecido por caçar bestas e bruxas com o auxílio de um enorme elefante de metal (artefato estapafúrdio cuja explicação não é dada pelo roteiro). Ele afirma com convicção que a criatura se esconde sob a forma humana de um dos habitantes do lugar e assim instala um clima de insegurança entre todos que passam a desconfiar uns dos outros. O roteiro de David Leslie Johnson, de A Órfã, parece não saber ao certo qual caminho seguir e se perde em reviravoltas desnecessárias e confusas envolvendo paixões mal resolvidas, traições e tentando a todo custo evocar o conto original sem sucesso. Prometido como uma versão mais sombria da fábula, o longa resulta em algo até bastante leve e repleto de clichês. Além dos já citados, o "quem matou", recurso amplamente utilizado pelo cinema e em novelas, aqui também bate ponto e até os enquadramentos de câmera e estilo de filmagem denunciam a previsibilidade da trama. É nítido seus esforços para guiar a curiosidade da plateia pelo viés do mistério existente por trás da identidade do lobisomem, visando adornar esse segredo revestindo-o com características de horror. A diretora move sua câmera de forma desesperada e inocente a fim de levar o público a suspeitar de vários personagens, mas é fácil concluir que a identidade do monstro é aquela pessoa praticamente ignorada durante toda a projeção, alguém que não aguçaria suspeitas. O triângulo amoroso juvenil, sobre o qual a desconfiança coloca à prova os sentimentos dos envolvidos, acaba perdendo força e servindo apenas para esticar o filme além do necessário. Até a idade da protagonista foi mudada para transformá-la em uma atraente jovem e o lobo mau é substituído por um monstro que em seus momentos como humano adquire feições invejáveis de um rapaz com pinta de modelo. Tudo muito original e ousado visto o currículo da cineasta, não é?
Valerie (Amanda Seyfried) é uma jovem que vive em uma aldeia próxima a uma floresta misteriosa junto com a mãe Suzette (Virginia Madsen), vez ou outra visita sua estranha vovozinha (Julie Christie) e que vive um conflito amoroso. Ela está apaixonada pelo simplório Peter (Shiloh Fernandez), mas foi prometida à Henry (Max Irons), um rapaz que tem uma vida um pouco mais abastada que o concorrente, mas que nela não desperta o menor sentimento. A moça decide fugir com seu verdadeiro amor, mas desiste quando descobre que sua irmã mais velha faleceu devido ao ataque de um lobisomem que está rondando o vilarejo. Os moradores então recebem a ajuda do sanguinário padre Solomon (Gary Oldman), conhecido por caçar bestas e bruxas com o auxílio de um enorme elefante de metal (artefato estapafúrdio cuja explicação não é dada pelo roteiro). Ele afirma com convicção que a criatura se esconde sob a forma humana de um dos habitantes do lugar e assim instala um clima de insegurança entre todos que passam a desconfiar uns dos outros. O roteiro de David Leslie Johnson, de A Órfã, parece não saber ao certo qual caminho seguir e se perde em reviravoltas desnecessárias e confusas envolvendo paixões mal resolvidas, traições e tentando a todo custo evocar o conto original sem sucesso. Prometido como uma versão mais sombria da fábula, o longa resulta em algo até bastante leve e repleto de clichês. Além dos já citados, o "quem matou", recurso amplamente utilizado pelo cinema e em novelas, aqui também bate ponto e até os enquadramentos de câmera e estilo de filmagem denunciam a previsibilidade da trama. É nítido seus esforços para guiar a curiosidade da plateia pelo viés do mistério existente por trás da identidade do lobisomem, visando adornar esse segredo revestindo-o com características de horror. A diretora move sua câmera de forma desesperada e inocente a fim de levar o público a suspeitar de vários personagens, mas é fácil concluir que a identidade do monstro é aquela pessoa praticamente ignorada durante toda a projeção, alguém que não aguçaria suspeitas. O triângulo amoroso juvenil, sobre o qual a desconfiança coloca à prova os sentimentos dos envolvidos, acaba perdendo força e servindo apenas para esticar o filme além do necessário. Até a idade da protagonista foi mudada para transformá-la em uma atraente jovem e o lobo mau é substituído por um monstro que em seus momentos como humano adquire feições invejáveis de um rapaz com pinta de modelo. Tudo muito original e ousado visto o currículo da cineasta, não é?
O argumento em si parecia
promissor, mas a realização decepciona. Meses antes do lançamento, muita gente
já estava curiosa para assistir a famigerada versão aterrorizante, mas o
resultado não faz nem cócegas. Uns bons bocejos certamente. Quem espera ver
sangue e mutilações se decepciona. Hardwicke apenas insinua um clima de horror
mesclado com uma desnecessária sensualidade, entretanto, é preciso lembrar que o
foco era atrair o público que se encantara com a saga da
"crepuscolândia", ou seja, plateias infanto-juvenis. Ao menos a parte
visual consegue ser interessante, o mínimo que se esperava da diretora que fez
carreira como designer de produção até encasquetar que poderia assumir uma
câmera, vaidade que foi alimentada pelos elogios ao seu longa de estreia, Aos Treze, certamente um golpe de sorte.
O sombrio vilarejo e a densa floresta que o cerca são bastante convincentes
remetendo a memória afetiva do público quanto a ambientação do conto original e
até o que pode parecer estranho em um primeiro momento acaba ganhando sentido
mais adiante. Os figurinos caprichados e a fotografia soturna também merecem
destaque. Pena que o estilo gótico flerte com certa dose de modernidade
exagerada, como na sequência em que rola uma espécie de festa pagã embalada por
música eletrônica e centrando a atenção na protagonista envolta a um clima
lésbico. Totalmente descartável essa parte assim como tantas outras, mas um
trabalho mais apurado de edição resultaria em um curta-metragem (o que poderia
ter sido uma boa opção). No final das contas, A Garota
da Capa Vermelha se resume a um entretenimento banal que entrega
uma trama extremamente mastigada como se os espectadores não tivessem
inteligência para compreender o conteúdo visual, assim os diálogos se tornam
tão enfadonhos quanto as ações dos personagens. Aliás, todo o elenco parece
atuar no piloto automático, com exceção de Oldman que parece se divertir
interpretando um indivíduo um tanto estereotipado e, diga-se de passagem, a
história pregressa do tal sacerdote que surge com pinta de salvador da pátria
no vilarejo daria um filme bem mais instigante, pois de tolo incrédulo foi
alçado repentinamente a corajoso justiceiro. Exposto todos os defeitos e os
poucos predicados do longa, chegamos a conclusão que se você quer ver uma boa
adaptação do conto do lobo mau a melhor opção é a animação Deu a Louca na Chapeuzinho, bem mais divertida, criativa e que
respeita a inteligência até mesmo das crianças.
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2 comentários:
Nunca assisti ao filme, mas devo dizer que também não tenho vontade de vê-lo. Parece monótona, apesar de tentar ser interessante. Definitivamente, eu não o conferiria.
gostei do filme e muito bom
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