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NOTA 3,0 Aposta em comédia romântica amparada por questões mais complexas sobre relacionamentos frustra com sua falta de graça e elenco mal aproveitado |
O triângulo amoroso não é
exatamente o problema da fita, ainda que ele não seja bem estabelecido por
falta de cenas em que os três lados se confrontem frente a frente, mas o que
causa uma ruptura com a atenção do espectador é a trama paralela envolvendo
George. O jovem executivo vive à sombra do pai, o magnata Charles (Jack Nicholson),
mas de uma hora para a outra descobre-se em meio a um turbilhão ao ser apontado
em uma investigação criminal como principal suspeito de práticas fraudulentas
usando como escudo a empresa da família. Para completar, ele é abandonando pela
namorada neste momento difícil e assim ele próprio é quem tenta uma aproximação
de Lisa em um bizarro encontro no qual jantam em absoluto silêncio, mas a
beleza da jovem é a tradução perfeita para a máxima de que uma imagem vale mais
que mil palavras, vamos interpretar dessa forma. Assim como ela, o rapaz
aparentemente também busca mais um consolo que um amor de verdade neste momento.
Na realidade ambos buscam algo para nortear, dar um sentido para suas vidas,
mas apesar da identificação de conflitos o envolvimento entre a ex-esportista e
o empresário carece de emoção, tempero que Brooks tenta adicionar em altas
doses no final com diálogos sentimentalistas ao extremo. Nessa forçada de
barra, algumas cenas parecem esquetes de programa de humor de gosto duvidoso.
Por exemplo, a certa altura Annie (Kathryn Hann), a secretária de George
inserida apenas como ouvinte passiva de seus dilemas, tem um bebê e em uma cena
longa e desnecessária é lançada a dúvida de que Charles poderia ser o pai,
ideia rapidamente descartada, e todo um discurso sobre amor e felicidade é
exposto de maneira vexatória. A declaração seria gravada como recordação de
seus pais à criança, mas o embasbacado George ao lado de uma Lisa mais perdida
ainda esquece de ligar a câmera e novamente a cena é refeita a toque de caixa.
Parece que o pessoal da edição se confundiu e adicionou materiais extras de um
DVD no meio do filme original. Antes fosse isso mesmo, mas é preciso admitir
que Brooks sem ter bem definido seus propósitos se entrega a inúmeras sequências
vazias para rechear uma fita cuja duração se estende muito além do necessário.
Com material mais condensado talvez esta comédia romântica pudesse agradar a um
público mais restrito, mas jamais as plateias genuínas do gênero que buscam
humor visual e explosão de sentimentalismo. Quase como um Woody Allen, guardada
as devidas proporções, Brooks tem interesse em compreender as complexidades dos
seres humanos e suas relações em sociedade e é reconhecido por suas habilidades
em trafegar entre o drama e a comédia, mas neste caso tais qualidades
desapareceram.
A direção pouco inspirada
certamente se deve a reflexos de um roteiro mau estruturado sustentado por
personagens que não cativam. O próprio elenco parece desmotivado, simplesmente
repetindo diálogos sem deglutir emoções. Lisa poderia ser um personagem dos mais
interessantes fugindo dos estereótipos das mocinhas do gênero. A começar pela
carreira que escolheu, embora um gancho explorado com preguiça e que não
justifica seu abalo emocional diante da aposentadoria precoce, determinação,
coragem e ousadia deveriam ser suas marcas registradas, mas não é assim que a
percebemos. O esporte poderia ter ajudado a construir uma personalidade mais
durona, sendo que seu sentimentalismo é expressado de maneira reservada através
de recadinhos que deixa para si própria no espelho do banheiro, mas a ausência
de planos profissionais paralelos e a maneira inerte como encara os
relacionamentos amorosos transparecem a má construção da personagem. Neste caso
nem o carisma de Whitherspoon salva Lisa das críticas. Sua escalação, assim
como de seus parceiros, não deve ser mera coincidência de agendas. O trio
ajudou a enraizar e perpetuar fórmulas para comédias românticas e talvez a
ideia é que aqui trouxessem um pouco mais de realismo ao gênero, o que passou
longe de ser atingido. Wilson mais uma vez tem em mãos o perfil de um marmanjo
que só pensa em mulheres e curtição, mas de uma hora para a outra Brooks nos
força a crer na transformação do rapaz. De garanhão inveterado ele se torna um
romântico doentio, uma mudança inverossímil até porque Lisa não mexe um palmo
sequer para receber tanto amor. Como diz o ditado, amor com amor se paga, o que
não é o caso. Mesmo assim o loiro se sai bem com seu tipo cafajeste e nos
convence de que mesmo usando as mulheres descaradamente jamais quer machucá-las
e a maioria compreende seu jeito de ser. Já Rudd empresta inocência e carisma a
seu empresário que não demonstra menor aptidão para os negócios, mas exala
sinceridade quanto a seus sentimentos pela mocinha, uma composição que nos faz
lembrar bastante aos antigos trabalhos do inglês Hugh Grant. Por fim,
Nicholson, já em ritmo de aposentadoria, deve ter aceito o trabalho apenas em
consideração a amizade com o diretor. Os seus conflitos com o filho por motivos
profissionais só tornam o enredo ainda mais enfadonho. É uma pena que Como Você Sabe desperdice um elenco de peso e
um enredo em teoria interessante e de possibilidades, mas a julgar pelo
estranho título (indagação ou afirmação?) que não explica nada já era de se
esperar algo esquecível.
Comédia romântica - 121 min - 2010
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