sábado, 29 de agosto de 2015

ROMULUS, MEU PAI

Nota 7,0 Cinebiografia de pensador enfoca sua infância que de tão triste soa como algo surreal

Se você gosta de deixar a emoção aflorar e não tem vergonha de cair no choro ou ao menos se permitir sentir um nó na garganta, Romulus, Meu Pai é um prato cheio. Baseado nas memórias do filósofo e escritor Raimond Gaita, o longa resgata sua difícil infância através das lembranças de sua conturbada vida em família. O ator-prodígio Kodi Smit-McPhee emociona com sua naturalidade, vivenciando cenas fortes e dramáticas, entretanto, como o título deixa claro, sempre evidenciando seu amor incondicional pelo pai, Romulus (Eric Bana), um pobre coitado que vive em um lugar isolado da Austrália e que vez ou outra recebe a visita de Christina (Franka Potente), a mãe do garoto. Ela abandonou a família para viver com Mitru (Russell Dykstra), que era ninguém menos que o melhor amigo de seu ex-marido. Todavia, Hora (Marton Csokas), irmão do pivô da separação do casal, está sempre por perto para ajudar esses dois vértices familiares da maneira que pode. Apesar da traição, essas pessoas tentam conviver pacificamente, passam relativamente bastante tempo juntos, mas as coisas complicam quando a ex engravida de seu novo companheiro. Para quem acha que até aqui o roteiro já é suficientemente trágico, saiba que essa é a parte boa da história. A chegada de uma criança faz com que Christina mude seu comportamento radicalmente e passe a sofrer de depressão. Mitru também se desilude com o casamento ao passo que Romulus começa a se interessar pela ideia de refazer sua vida ao lado de uma nova mulher. Enquanto isso, o pequeno Raimond precisa conviver com a rígida moral imposta por seu pai e com a negligência por parte de sua mãe, mas o destino ainda guarda surpresas desagradáveis para essa família nada convencional para os padrões da década de 1960. Como desgraça pouca é bobagem, não basta apenas a separação dos pais para o pequeno se preocupar. Uma overdose de acidentes e tragédias ocorrem durante a narrativa e impressiona como uma criança conseguiu vivenciar a tudo isso e ainda assim manter-se bem psicologicamente e ser o único alicerce em bom estado deste fatigado clã.

Geralmente dramas envolvendo crianças facilmente levam o espectador as lágrimas, ainda mais quando elas estão de certa forma sozinhas no mundo. Neste caso o garoto convive com seus parentes, mas ainda assim é muito solitário ao mesmo tempo em que é o mais sensato entre seus familiares apesar da pouca idade. O longa tem direção do ator Richard Roxburgh, mais conhecido como o duque traído de Moulin Rouge - Amor em Vermelho. Foram sete anos acalentando o projeto, mas de certa forma valeu a pena a persistência. Ele fez sua estreia atrás das câmeras com o pé direito demonstrando muita sensibilidade em um trabalho marcado por vários momentos silenciosos e uma paisagem árida e desoladora, um convite e tanto para a reflexão, o que talvez tenha ocorrido com Raimond e contribuído para torná-lo um renomado pensador. Roxburgh baseou-se no livro de memórias homônimo do escritor para resgatar detalhes de sua infância sofrida e cheia de percalços. A obra sustenta que aquele franzino garoto criado na roça não chegaria a lugar nenhum sem o apoio do homem que cuidou dele e acreditou que o futuro do filho poderia ser diferente e melhor que o seu. Embora não tenha tido uma educação privilegiada, tudo que Raimond vivenciou de bom ou de ruim o ajudaram a desenvolver-se intelectualmente e em seu amadurecimento, provando que as experiências de vida são de suma importância para definir o caráter ou apontar o futuro profissional. O roteiro do então estreante Nick Drake privilegia a relação entre pai e filho, mas a figura da mãe é indispensável, afinal é graças a seu temperamento problemático que começam a ser desenvolvidas as situações conturbadas que envolvem os homens desta família. Apesar do ritmo arrastado, Romulus, Meu Pai é um drama cujo maior mérito é enfatizar o quanto uma boa e equilibrada educação pode fazer a diferença no desenvolvimento de uma criança. Raimond não frequentou renomados colégios, foi praticamente ignorado pela mãe e cresceu vendo o sofrimento do pai que preferia ser pacífico diante dos tantos golpes que a vida lhe deu. Essa é a grande lição que ele deixou a seu filho que tratou de levá-la adiante através de seus escritos no futuro.

Drama - 109 min - 2007
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