NOTA 7,0 Edward Burns realiza um bom trabalho atrás e na frente das câmeras em romance sobre reencontros |
Edward Burns é um profissional ainda
subestimado. É um bom intérprete, mas não tem um nome forte no cinema capaz de
chamar a atenção de milhares de espectadores, porém, também não colhe críticas
negativas. Por outro lado, não raramente seus trabalhos acabam passando em
brancas nuvens. É uma pena que sua trajetória como diretor de filmes, iniciada
em 1995 com o agradável Os Irmãos
McMullen, também tenha uma visibilidade tão pequena, embora a resposta provavelmente
esteja nas escolhas dos seus projetos, geralmente produções simplórias e de tom
mais intimista, mas que valorizam elenco, personagens e, principalmente, uma
boa história, ou seja, tudo aquilo que é desperdiçado por muitos cineastas
renomados hoje em dia. É até possível dizer que a filmografia de Burns como
diretor tem certas semelhanças à do cultuado Woody Allen. Ambos gostam de
filmar em cenários nova-iorquinos, costumam atuar nos longas que dirigem e
preferem escrever seus próprios roteiros que flertam com o drama, o romance e a
comédia leve. Todavia, Burns ainda está longe de ser considerado um cineasta
completamente virtuoso ou de talento indiscutível. Mesmo assim ele não faz feio
em Segunda
Chance Sobre o Amor, produção na qual, para variar ele atua, dirige e
escreve. Ele deu sequência a seu estilo próprio de fazer cinema que consiste em
reciclar clichês e não surpreender o espectador, porém, características que em
nada desmerecem seu trabalho, pelo contrário, só contribuem para acrescentar credibilidade
e naturalidade. Mesmo sendo uma produção independente e de baixo orçamento, Burns
conseguiu reunir um elenco talentoso de sua geração e ousou levemente ao
escrever uma história sobre modernos intelectuais, pessoas que desejam viver da
sua arte, no caso a escrita, mas que esbarram em dificuldades comuns do campo
de trabalho como a escassez de oportunidades e as dificuldades em lidar com o
baixo nível intelectual dos leitores contemporâneos (algo que pode ser positivo
ou negativo dependendo do estilo literário do escritor). Em rápidos e
inteligentes diálogos são feitas citações aos comportamentos de quem costuma
ler, desde os aficionados por literatura fantasiosa, passando por aqueles que
não admitem variações de estilo até chegar à indagação se no final de um dia de
trabalho uma pessoa não tem o direito de ler algo leve apenas por distração. Embora
trate tal assunto com seriedade, o roteiro não o explora a fundo, afinal a
intenção era realizar uma comédia romântica, mas com certo apelo intelectual e
mais calcada no drama. A discussão sobre o amor é constante nos filmes
dirigidos por Burns e aqui ele lança a questão se seria possível dar uma
segunda chance para um relacionamento terminado há muitos anos.
A narrativa mantém seu foco em cima de quatro
personagens principais, mais precisamente dois casais que o tempo afastou.
Brian Callahan (Patrick Wilson) é um escritor de grande sucesso. Escreveu seis
livros policiais protagonizados pelo detetive fictício Frank Knight que
rapidamente se tornaram best-sellers, foram adaptados para o cinema e assim ele
ganhou muito dinheiro, mas não satisfação pessoal. Agora ele quer investir em
outro tipo de literatura, obras mais sérias, porém, ele terá de enfrentar a
rejeição do público e as críticas duras da crítica especializada. Em meio a
esta decepção, Callahan ainda enfrentará problemas e surpresas de ordem
pessoal. Ele está namorando há alguns meses uma garota mais jovem, Bernie
(Elizabeth Reaser), mas não tem os mesmo gostos e sonhos dela, está com ela
apenas para não ficar sozinho. Coincidentemente, a esta altura da vida, ele
reencontra uma ex-namorada, Patti Petalson (Selma Blair), também escritora, mas
que está há anos sem publicar nada. Ela no momento está casada com Chazz (Donal
Logue), mas embora goste do marido as pequenas discussões e deslizes do
dia-a-dia atrapalham o relacionamento. Patti e Callahan se reencontram por
acaso em um restaurante quando ela estava acompanhada da amiga Kate Scott
(Debra Messing) e ele do amigo inseparável, o advogado Michael Murphy (Edward
Burns), mas tal situação acabou sendo constrangedora. Kate na época da faculdade
foi muito apaixonada por Murphy, mas por ele ser muito namorador e ter tido
problemas com bebidas acabou brigando feio e ela não faz questão alguma de
esconder a raiva que sente dele. Dessa noite em diante, os quatro protagonistas
passarão a se esbarrar por aí com muita freqüência. Patti, por falta de opção, está
trabalhando como corretora de imóveis e em uma de suas visitas a apartamentos
encontra Murphy que está a procura de um. Ele dispensa seu corretor, requisita
os serviços de Patti, mas com segundas intenções. Restabelecer a amizade dos
tempos da faculdade era a oportunidade perfeita para aproximar a moça de
Callahan e ela, por sua vez, fazer a ponte para que o advogado conseguisse
pedir desculpas para o grande amor da sua vida, Kate, e assim eles pudessem
voltar a namorar.
Esta ciranda amorosa tem um de seus
melhores momentos ainda na primeira parte do longa quando os personagens se
encontram no restaurante. Mulheres em uma mesa, homens em outra, comentários
positivos e negativos dos dois lados. É nesta sequência que de forma natural
ficamos sabendo mais sobre o histórico destas pessoas e nos tornamos íntimas
delas e de seus universos. Sempre reclamamos dos títulos nacionais, mas neste
caso é preciso concordar que a escolha caiu como uma luva. E mais, para quem
tiver a capacidade de decodificar mensagens, o conteúdo de Segunda Chance Para o Amor
serve também para nos lembrar que sempre é possível tentar ser feliz,
conquistar um sonho entre outras coisas em diversas áreas , mesmo após um
primeiro fracasso. Este é o típico filme que só sobrevive por intermédio dos
comentários boca-a-boca. Chegou com dois anos de atraso ao Brasil, não teve
campanha de marketing, sua narrativa leve não reserva momentos arrebatadores,
mas mesmo assim é uma produção muito melhor que tantas outras badaladas e com
elenco estrelar. Se Burns e Debra aparecem apagadinhos é pelo fato que esperávamos
mais de seus personagens ou porque Wilson e Selma agarraram esta oportunidade
com unhas e dentes. Não é sempre que o roteiro de uma comédia romântica mais
séria está disponível, mas talvez seja justamente a falta de açúcar da
narrativa que impeça até hoje de muitas pessoas curtirem esta agradável
produção que acerta também em seus aspectos técnicos com uma edição tranquila,
mas sem fazer a narrativa cair na enrolação, bela fotografia, iluminação perfeitamente
natural e trilha sonora suave. Definitivamente, Burns mais uma vez prova que
tem muito talento na frente e atrás das câmeras. Como uma constante em seus
filmes, aqui ele também deixa no ar a mensagem de que a simplicidade é que trás
felicidade, como fica registrado no bucolismo da cena final, um lema que ele
próprio segue. Provavelmente ele não sonha em receber prêmios ou fazer fortunas
com suas atuações e projetos como diretor. Basta conseguir realizar seu
trabalho da melhor maneira possível que sua satisfação é plenamente garantida. Vale
lembrar que aqui ele faz praticamente um “subprotagonista”, sendo que o
conflito de seu personagem é quase jogado para segundo plano, porém, é de
aplaudir sua humildade em deixar outro colega brilhar no papel principal
enquanto ele tenta mostrar um lado cômico que raramente expressa em um papel
menor, mas nem por isso menos chamativo.
Romance - 109 min - 2007
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