quinta-feira, 27 de agosto de 2015

JOGANDO COM PRAZER

NOTA 1,0

Longa simplesmente não
tem conteúdo, sendo apenas
um veículo para Ashton
Kutcher exibir seu físico
Às vezes podemos nos perguntar por onde anda aquele ator ou atriz do passado que fazia tanto sucesso e sumiu de repente? Em alguns casos é fácil decifrar o enigma. Tal pessoa chamava a atenção por sua beleza ou talento? Ganhou fama trabalhando em um mesmo tipo de filme ou se aventurou por diversos gêneros? Seus fãs se concentravam em uma mesma faixa etária ou ele agradava pessoas dos 8 aos 80 anos? Se a resposta para todas as perguntas foram a primeira opção dada pode ter certeza que este profissional teve a elegância de abandonar a carreira antes das críticas o assolarem ou o próprio mercado tratou de aposentá-lo precocemente. Tais casos acontecem frequentemente com jovens atores. Só para citar alguns casos recentes, onde estão Freddie Prinze Jr., Hilary Duff, Julia Stiles, Sarah Michelle Gellar, Ryan Philipe e tantos outros? Ok, eles podem fazer um ou outro filme de vez em quando, mas estão longe da fama de outrora e suas carreiras não podem ser comparadas, por exemplo, a de Jennifer Aniston que envelhece e continua firme nas comédias românticas e repetindo o mesmo tipo de papel. Existem pessoas que ficam marcadas por determinado gênero ou tipo de personagem e isso pode trabalhar contra a sua trajetória profissional ou raramente a seu favor como é o caso de Ashton Kutcher. Embora o ator tenha protagonizado o cultuado Efeito Borboleta e o bom longa de aventura Anjos da Vida – Mais Bravos que o Mar, sua imagem de garotão que só quer saber de aproveitar as coisas boas da vida e ter o mínimo de compromisso possível com o trabalho ou relacionamentos pessoais ainda impera. Apesar de alguns projetos em que repete tal papel serem bacaninhas, como Jogo de Amor em Las Vegas e Sexo sem Compromisso, talvez a repetição dê certo pelo carisma do ator que casa bem com o estilo descompromissado destas comédias. O problema é quando ele quer que esse Peter Pan de hormônios à flor da pele seja levado a sério como no caso de Jogando com Prazer. Para quem não gostava de Kutcher, este drama (ou pornô soft, dependendo do ponto de vista) era o que faltava para odiá-lo definitivamente.

Kutcher interpreta Nikki, um rapaz que se acha o máximo, tem sempre uma teoria para tudo e resume a vida em um jogo muito simples: ou você caça ou será caçado. Logo no início do filme o protagonista já se define como um bon vivant que foi para a Califórnia com o objetivo de viver plenamente o sonho da vida fácil. Ele sabe que sua beleza, juventude e lábia são suas melhores armas para conseguir o que quer. Suas noites ele passa sempre fora de casa (se é que vive realmente em uma própria) frequentando as festas mais badaladas de Los Angeles nos melhores clubes e mansões e nunca sai de uma sem estar acompanhado de uma bela ricaça, isso se ela não for a própria dona do local do evento. Em busca deste estilo de vida privilegiado e ao mesmo tempo devasso, Nikki seduz principalmente mulheres maduras que não resistem a sua auto-confiança, um atributo que somado aos demais transformam o personagem em alguém tão antipático e desinteressante que fica difícil se envolver com o enredo a partir de então, ou seja, o filme se resume a nada desde o primeiro minuto, apenas um veículo para Kutcher desfilar seu charme e fazer a mulherada delirar com boa parte do seu corpo à mostra. Não é a toa que o longa foi bancado por sua própria produtora. Mas voltando ao enredo, Nikki passa a ser sustentado pelas mulheres e todo seu ritual de conquista é compartilhado com o espectador em tom de confissão, como se fosse um manual de dicas para se dar bem em vários aspectos de sua vida, principalmente a arte da pegação, não do amor. Sua última conquista, a advogada quarentona Samantha (Anne Heche), deu finalmente a vida que ele sempre sonhou sem faltar um item sequer, porém, ao mesmo tempo o galã oportunista sente pela primeira vez que está apaixonado de verdade por alguém. O problema é que essa mulher não é a que lhe banca, mas sim uma garçonete, Heather (Margarita Levieva), esta que também é adepta de uma vida de mordomias, mas que em troca só pode oferecer o prazer do sexo.  Assim as regras do jogo mudaram e talvez de forma desfavorável para o Don Juan moderninho. Para estes dois jovens um momento decisivo chegou em suas vidas. O que vale mais a pena: ter dinheiro, status e tantos outros prazeres ou viver um amor de verdade com todos os seus benefícios e predicados?

O roteiro do então estreante Jason Dean Hall é baseado em um bom argumento, mas seu desenvolvimento compromete a obra como um todo. Extremamente frágil, a narrativa não consegue se sustentar sem apelar para cenas e diálogos que beiram o constrangedor, incluindo trocas de parcerias e vocabulário vulgar, e nem mesmo um clima sensual a produção carrega, forçando em diversos momentos para um lado mais erotizado. Os personagens não são nada carismáticos e é possível chegar a um ponto em que passamos a torcer para que as coisas na vida deles desandem. Eles passam uma ideia, ou provavelmente a realidade muito distante da maioria da população mundial, de que a vida de todos os bem nascidos ou endinheirados é fútil, sem sentido e ostentação e luxúria são as palavras de ordem. Infelizmente também é duro constatar que tem gente que sonha com esse mundo frio e não vê limites para conseguir fazer parte dele. Não há como simpatizar com um personagem como Nikki que pode não fazer mal a alguém tal qual um criminoso que empunha uma arma, mas de qualquer maneira é um golpista assumido que na melhor das hipóteses maltrata a si mesmo.  O diretor David Mackenzie, de Paixão sem Limites, um drama de época no qual a sedução também é ingrediente fundamental, mas bem menos latente que em Jogando com Prazer, fez este trabalho da forma mais superficial possível, assim não envolvendo o espectador que passa a acompanhar uma narrativa arrastada e desinteressante de forma passiva. A história só melhora um pouco quando o tal jogo de sedução do protagonista é invertido e as portas começam a se fechar para este “michê” não assumido, mas isso não é o bastante para compensar os outros tantos minutos de cenas chatas e apelativas. Até na concepção de cenários, escolha de locações, tipo de iluminação, enquadramentos, enfim parece que até a parte técnica contribui para dar a esta obra um tom extremamente impessoal. É difícil criticar de forma tão árdua um filme, pois fazer um produto do tipo é complicado e envolve o trabalho de muitas pessoas, mas tem casos que não dá para aliviar. Tentando dar uns toques dramáticos e de maturidade ao velho enredo das comédias adolescentes do garanhão do colégio que só toma jeito quando se apaixona de verdade, no fundo esta produção só é recomendada mesmo às fãs incondicionais de Kutcher que não está mal no filme, mas interpreta um tipo que não acrescenta nada de bom ao seu currículo, assim como perder tempo com tal bobagem não trará benefício algum para a vida de ninguém.

Drama - 97 min - 2009

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