NOTA 4,5 Enredo intricado segura a atenção até certo ponto, mas a certa altura testa a paciência do espectador |
Cable passou por uma experiência
de quase morte, mas foi ressuscitado. Ele tem certeza de que está no ano 2000,
porém, é informado pelo médico que o ano corrente é 2002. Lembrar destes dois
fatos é fundamental para compreendermos um pouco desta intricada narrativa que
inicialmente chama a atenção justamente pela falta de informações. O espectador
vai descobrindo o que houve e os detalhes da vida do protagonista pouco a pouco
junto com ele próprio, uma opção bastante interessante e arriscada essa de não
entregar tudo mastigadinho para o público. Baseado na peça teatral “Point of
Death” de Michael Cooney, que assina também o roteiro do filme em parceria com
Timothy Scott Bogart, este trabalho pode ser interpretado de formas variadas.
Pode ser visto com olhar místico, religioso ou psicológico, mas esta
pluralidade funciona tanto como o trunfo quanto o pecado da produção e a
originalidade aos poucos vai cedendo espaço à desconfiança. A certa altura já
estamos cientes de que o filme vai acabar num verdadeiro pastiche, que será encerrado
sem respostas críveis ou ainda oferecendo ao espectador a sensação de ter
passado uma hora e meia na frente da TV para no final se sentir um trouxa.
Ritcher peca ao optar por uma conclusão gelada e nada empolgante, mas ainda
assim pode instigar quem assistiu uma vez a repetir a dose para tentar
compreender as pontas que ficaram soltas em sua cabeça na primeira tentativa,
uma experiência que nos divide entre a empolgação e a frustração. O enredo
complexo ganha ainda mais impulso pela edição que leva o espectador a se sentir
angustiado, a querer desesperadamente ajudar o protagonista, mas se dividirmos
este suspense em três etapas, digamos que a última quebra totalmente a curva de
ascensão que o longa construía até então em termos de tensão. O final não
condiz com o restante da produção.
Este trabalho acaba sendo
prejudicado principalmente pela insistência de algumas pessoas em querer
realizar filmes que procuram ser mais inteligentes que o espectador, uma moda
que ressurgiu com O Sexto Sentido que
poderia não passar de uma simples fita de suspense ou de terror, mas que por
causa de seu final inesperado teve seu status elevado. Porém, esse foi um golpe
de sorte. O cineasta M. Night Shyamalan jamais voltou a causar o mesmo frisson
e a maioria dos diretores que tentaram utilizar fórmulas similares nos anos
seguintes deram com os burros n’água. Fazer produções do tipo exige muita
criatividade e um planejamento antecipado para que não existam falhas, mas as
vezes é melhor apostar no estilo de suspense convencional e distribuir pistas,
algumas falsas e outras verdadeiras, para chegarmos a um final que pode até não
ser arrebatador, mas ao menos satisfatório. No caso de O Terceiro Olho ocorrem
tantas reviravoltas e um monte de coisas que parecem ser, mas não são, que fica
a impressão de que o roteiro foi reescrito conforme as filmagens ocorriam. Quanto
mais a narrativa avança e insiste em repetições de cenas e negações de eventos,
naturalmente o interesse pela fita cai. Outra coisa que acaba não funcionando é
a ambientação. Praticamente com todas as cenas inseridas em um ambiente
hospitalar, tendo apenas algumas externas, a claustrofobia podia ser usada a
favor da história, mas este recurso acaba não causando o efeito desejado, o que
por um lado é até positivo, pois assim prestamos mais atenção nas ações e
diálogos dos personagens. Aparentemente são poucas as pessoas que estão do lado
de Simon, a maioria está contra, tanto que o desmemoriado entra numa paranóia
que alguém quer matá-lo. Simon está mesmo sem memória ou tem algo de espiritual
em sua história? Ele matou realmente seu irmão? Quem seria o tal Travitt?
Haveria alguma relação amorosa entre sua esposa Anna e Peter? São muitas
perguntas a serem respondidas em meio a tantas sequências que somente somam
dúvidas à narrativa. Ritcher tem até habilidade com sua câmera, constrói cenas
intrigantes e a edição acentua a tensão, mas tudo é anulado na reta final. O
filme não é longo, mas são tantas informações desconexas para processarmos que
quando a conclusão chega ela passa em brancas nuvens. Não duvide se ao subirem
os créditos finais você fizer alguns questionamentos. E aí acabou? Mas voltamos
a mesma cena do início? Se tiver paciência aperte o play novamente, mas esteja
certo que assista quantas vezes for necessário jamais a satisfação será plena.
Faltaram parafusos nesta engrenagem.
Suspense - 91 min - 2004
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