NOTA 3,0 Diane Keaton mais uma vez recicla o papel da mãe superprotetora e neurótica em comédia de poucos risos e ansiedade para acabar logo |
Clare (Liv Tyler), sua esposa,
deseja ter um filho desesperadamente, mas Cooper tem consciência que o momento
não é propício e faz as maiores loucuras para evitar que ela engravide. Para
completar o infortúnio, além de ter que aturar a mãe também como sua colega de
trabalho em uma loja de tapetes, ele ainda terá que ter paciência para aguentar
o folgado primo de sua esposa, Myron (Mike White), um aspirante a roteirista de
cinema que se hospeda em sua casa até a data em que participaria de um
importante evento. Um indivíduo cabisbaixo em meio a pressões de terceiros. Já
dá para se ter uma ideia dos problemas que o camarada irá enfrentar, mas também
já sabemos de antemão que tudo vai acabar bem aliado a mensagem altruísta de
que amor, respeito e tolerância são valores que conquistamos aos poucos,
compartilhando as pequenas coisas do dia-a-dia. Fracasso mundial, esta comédia
já nasceu sem grandes expectativas, tanto que até nos EUA foi lançada
diretamente em DVD sem direito a passagem pelos cinemas, assim como ocorreu no
Brasil. Todavia, não é um lixo total, salvando-se uma coisinha aqui e outra
ali. Com alguns diálogos divertidos e gags visuais interessantes, a produção é
bem melhor que muita comédia boboca adolescente, mas ainda assim segue a risca
um modelo pré-definido com piadas prontas e personagens estereotipados.
Roteirizado pela mesma dupla de Licença
Para Casar, Tim Rasmussen e Vince Di Meglio, este último também assinando a
direção, o longa até tem um bom argumento, mas seu desenvolvimento parece um
amontoado de desculpas para justificar em vão sua existência desnecessária. Na
realidade, Marilyn passa poucos dias na casa do filho, mas a maneira como o
enredo é desenvolvido propositalmente causa a sensação de que a hospedagem
durou semanas, talvez meses. Neste meio tempo, ela apronta mil e umas para
tirar filho, nora e quem mais estiver por perto do sério. Ao menos toda
chateação causada pela mãe serve como desculpa para Cooper fugir de transar com
a esposa e evitar a temida gravidez. Diga-se de passagem, Shepard e Tyler não
funcionam juntos. Mantém um relacionamento frio em cena e ela, para piorar,
parece atuar sob efeitos de psicotrópicos, dialoga quase sussurrando.
Enredos frouxos e mal produzidos
costumam render dinheiro aos montes anualmente, isso desde que tenha um elenco
de peso e afiado para chamar a atenção, o que não é o caso. A primeira vista,
Keaton seria um problema e ao mesmo tempo a salvação da fita. Experiente, sem
medo de se expor ao ridículo e com público cativo, acreditava-se que o perfil
que criou para Marilyn seria de fácil identificação, mas apesar de desempenhar
corretamente o papel da mãe superprotetora, que chega ao ponto de batalhar por
um emprego na mesma empresa em que o filho trabalha só para poder estreitar a
relação (me engana que eu gosto), no conjunto a veterana extrapola os limites
da pentelhice. Ela tem se especializado neste tipo de papel e vem o repetindo
com algumas sutis nuances, tanto positivas quanto negativas, como, por exemplo,
em Simples Como Amar, onde viveu a
despreparada mãe de uma adolescente autista, ou Minha Mãe Quer Que Eu Case, comédia açucarada na qual sua
personagem tinha a cara-de-pau de ir pessoalmente a encontros amorosos para
entrevistar os candidatos a possível noivo da filha. Esses são dois momentos
distintos e que revelam o nível dos altos e baixos da carreira da atriz. Casamento em Dose Dupla ocupa lugar na lista
de classificação do que há de pior em seu currículo. Todavia, a atriz ainda tem
um nome respeitado entre o público feminino, principalmente acima dos 40 anos,
tanto que os projetos em que se envolve não escondem que visam a audiência
daquela mulher que entre uma tarefa e outra, seja em casa ou no trabalho, quer
ter o direito de deitar no sofá para relaxar vendo um filme bobinho. Não há
problema algum em atender esse nicho de público, o que não se deve é menosprezá-lo
ofertando produções feitas a toque de caixa e com qualidade duvidosa, seja
visual ou principalmente em relação aos cuidados com o roteiro. Embora passe o
tempo de forma indolor, esta comédia é tão descartável quanto a latinha de
refrigerante que você tomará enquanto a assiste.
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