NOTA 9,0 Épico que mescla drama e aventura é quase uma súmula da carreira do diretor Steven Spielberg |
Quando a Primeira Guerra Mundial estoura, Joey acaba sendo vendido para o exército inglês e Albert não pode acompanhá-lo por não ter idade suficiente para se alistar. O período em que ficam separados é a chance do desacreditado cavalo mostrar sua força e valor enquanto seu grande amigo tenta reencontrá-lo. Após anos se dedicando a produção de filmes, sendo sua última direção Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, Spielberg tratou logo de correr atrás dos direitos de filmagens do livro assim que o leu, ainda que a obra seja datada dos anos 80. Talvez por essa razão nostálgica não seja um erro muitos dizerem que este épico “spielberguiano” nos remeta ao clássico E.T. – O Extraterrestre pelo fato de trazer a tona uma amizade incomum, no caso entre um ser humano e um animal. A escolha de um ser irracional como protagonista também pode ser interpretada como uma metáfora à própria guerra, uma maneira desprovida de razões para as pessoas provarem ou conquistarem poder e riquezas, um tema que o cineasta já tinha trabalhado em outras ocasiões, tendo bastante êxito, por exemplo, em A Lista de Schindler. Todavia, quem espera ver sangue e violência em grandes proporções deve se decepcionar. Aqui a produção é assumidamente para agradar a toda a família e o diretor procurou dosar bem ousadia e sacarose encontrando soluções inteligentes para expor a tensão dos conflitos. No entanto, para alguns seu trabalho acabou parecendo ter saído da safra de live-actions dos estúdios Disney da década de 1960. Bem, homenagear os clássicos campestres, westerns e de guerra realmente era um dos objetivos, mas é interessante observar uma mudança de foco adotada. Hoje em dia é muito difícil inovar quando se pretende trabalhar com temas ligados às duas maiores guerras da História e o cinema mundial abusou e continua abusando da ideia de mostrar as atrocidades destes períodos através da pureza do olhar das crianças, estas que podem transmitir ingenuidade ou enxergar muito além dos adultos. Spielberg agora catalisa tudo que quer dizer através do olhar bucólico de um cavalo que parece predestinado a uma missão. Aliás, o longa é pontuado por algumas referências religiosas, como a abertura que apresenta um passeio aéreo de câmera como se fossem olhares do céu lançados sobre a terra. O cavalo também possui mais um significado na narrativa. Ele seria um elemento predominantemente rústico e tradicional lutando para encontrar seu espaço em um mundo novo que surgiu graças a industrialização proporcionada pelos avanços da guerrilha.
Os americanos têm um apreço especial pelos filmes que tem cavalos como temas principais, porém, são raros aqueles que colocam o animal no centro das atenções. Aqui Joey é quem tem as grandes cenas do longa que não poupa o espectador de sequências construídas cuidadosamente para levar o público às lágrimas, uma opção que também colabora para o fato de muita gente torcer o nariz para a obra. O elenco, predominantemente britânico, defende bem seus
personagens, mas acabam ficando como meros coadjuvantes em meio a belas cenas
de batalhas e de paisagens campestres, tudo embalado pela emocionante trilha
sonora do premiado compositor John Williams, parceiro de trabalho antigo do
diretor. Se as canções, a narrativa e a fotografia são apontados como
qualidades ultrapassadas e que contribuem para rotular o longa como algo
clichê, é importante ressaltar o hipnotismo ao qual o espectador é submetido
quando vemos Joey em cena. São vários cavalos que se revezaram nas filmagens
para ocupar a vaga de protagonista, mas todos inacreditavelmente bem treinados,
tanto que o uso de efeitos de computação foi quase nulo na produção. Partindo do romantismo para o combate épico,
dos tons pastéis para os acinzentados, Cavalo de Guerra é uma
excelente obra, repleta de qualidades e dignas de elogios, mas quando visto com
olhares mais criteriosos infelizmente revela seus “defeitos”. Talhada para ser
a produção feita para ganhar os prêmios da temporada 2012, o filme ficou mais
nas intenções e não conseguiu arrebatar a crítica, que foi cautelosa ao
avaliá-lo. Ressaltaram que esta seria a volta de Spielberg aos bons tempos, mas
jamais o elogiaram ao máximo. Medo de afirmar que clichês e narrativa
manipulada ainda são alicerces válidos do cinema? Talvez sim. Como dito no
início do texto, em tempos em que a tecnologia é requisito básico para um filme
fazer sucesso, o cineasta que coleciona algumas das maiores bilheterias da
História do cinema, curiosamente muitas delas com efeitos especiais de ponta
para a época em que foram lançadas, parece ter realizado esta obra com o
intuito de lembrar a todos da importância em se manter as tradições da sétima
arte cuja base, passe quantos anos passarem, jamais deixará de ser a emoção. Em
suma, nostalgia pura em um produto contemporâneo.
Drama - 146 min - 2011
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