NOTA 5,0 Troca de corpos de trintões tenta dar um gás a tema batido, mas desliza ao optar por um humor chulo |
Dizem que na televisão nada se cria tudo se copia, mas tal ditado
anda caindo como uma luva também para o cinema. O tema troca de corpos já foi
aplicado há inúmeras comédias no melhor estilo sessão da tarde e nos últimos
anos com a escassez de idéias parece que produtores e diretores encontraram na
fórmula batida uma maneira de sobreviver. O mote de duas pessoas insatisfeitas
que trocam de corpos, ou melhor, de personalidade em um passe de mágica e que
assim passam a dar mais valor ao seu próprio modo de viver e compreender o do
outro já rendeu até mesmo em terras brasileiras. Se Eu Fosse Você e sua continuação não fizeram mais nada que
adaptar um conteúdo cinematográfico tipicamente hollywoodiano para algo mais
próximo da nossa realidade e os resultados foram fantásticos talvez pelo
ineditismo da iniciativa pela raquítica indústria de cinema local que busca
enfrentar gigantes nas bilheterias. As situações embaraçosas provocadas pelo
desconhecimento das intimidades e a adaptação ao cotidiano do verdadeiro eu no
corpo de outro rendem geralmente bons momentos, mas dificilmente surpreendem. Todos
sabem que tal experiência transformará as pessoas que a vivenciaram em alguém
bem melhor capaz de ficar feliz com as imperfeições de sua vida e a respeitar o
modo como o outro segue sua trajetória, por mais que os meios sejam os mais
depreciáveis possíveis. Quanto maior o contraste entre as personalidades a
serem trocadas mais fértil deve se tornar a idéia de fazer humor através dos
choques das diferenças. Em Eu Queria Ter a Sua Vida o diretor
David Dobkin, de Penetras Bons de Bico,
arriscou requentar a premissa, mas achou que buscando um humor mais adulto no
estilo de Se Beber Não Case, dos
roteiristas Jon Lucas e Scott Moore, os mesmos que assinam o texto deste
projeto, conseguiria fazer um filme que se destacasse em meio a tantas
produções semelhantes, porém, acabou realizando um trabalho irregular que tem
alguns bons momentos, mas no geral mais constrange do que diverte. Parece que a
intenção maior era parodiar esse tipo de produção que explora os conflitos de
personalidade e caráter quando se está literalmente na pele de outro, mas
roteiristas e diretor foram preguiçosos e exageraram na dose de escatologia e
apelo sexual.
Mitch (Ryan Reynolds) é um solteirão que conquista as mulheres com
sua beleza e lábia, trabalha como ator em produções duvidosas, mas em
compensação tem bastante tempo livre para fazer o que quiser. Ao contrário da
promiscuidade e vagabundagem do amigo, Dave (Jason Bateman) é um advogado de
prestígio, tem uma vida financeira confortável, é casado, tem três filhos, mas
não curte sua vida como queria por sempre estar as voltas com a rotina do
trabalho e da família. Este homem responsável tem certa inveja do estilo de
vida de Mitch e este, por sua vez, gostaria de ser um cara bacana como o amigo,
respeitado, com estabilidade financeira e uma esposa amorosa, algo difícil de
crer que seja o sonho de um cara que parece curtir a pinta de eterno garotão.
Ambos desejam secretamente a vida um do outro e certa noite, após uma bebedeira,
seus desejos se realizam, mas de maneira diferente do que planejavam, a começar
pela forma como a mágica acontece. Urinando sobre uma fonte em espaço público
ambos dizem ao mesmo tempo a simbólica frase “eu queria ter a sua vida”. Em
seguida um blecaute ocorre e quando eles se dão conta um foi parar no corpo do
outro e agora terão que lidar com situações até então incomuns tanto
profissionais quanto pessoais. O regrado Dave, por exemplo, terá que se virar
para atuar em um filme soft para adultos e até tentar realizar os desejos de uma
grávida assanhada. Enquanto isso Mitch terá que fechar um importante negócio
com uma empresa japonesa e tentar segurar seus instintos para respeitar a
mulher do amigo. Seguem-se então tiradas espertas alternadas com piadas grosseiras
que causam risos involuntários como a cena em que Jamie (Leslie Mann), a esposa
de Dave, aparece toda sensual e rebolativa para logo depois acabar de maneira
bizarra com a alegria de Mitch que na carcaça do amigo estava em êxtase
pensando que finalmente realizaria uma de suas maiores fantasias sexuais. Para
ele o ditado “mulher de amigo meu é homem” não cola.
Seguindo a tendência das comédias feitas por homens de meia idade
e para agradar público idem, além é claro das mulheres, mais uma vez temos aqui
adultos infantilizados aprendendo na marra que amadurecer implica
responsabilidades e renúncias de algumas coisas, uma lição que já foi
aprendida, por exemplo, por Owen Wilson em Passe
Livre dirigido por Bobby e Peter Farrelly. Aliás, o longa de Dobkin guarda
até certas semelhanças com o filme citado dos irmãos cineastas. Além do viés do
marmanjão ganhando um tempo para viver tudo aquilo que não podia mais pelas
implicações e preconceitos da idade e das cenas mais ousadas, claro que aqui
não falta uma conclusão com teor moralista. Após quase duas horas em que o
espectador pode imaginar o quanto poderia ser divertido viver uma rotina
diferente da sua lá vem as cenas finais com um belo discurso para em resumo
dizer que nada melhor que sermos nós mesmos e aceitarmos os caminhos que a vida
e/ou cada um projetou para si mesmo. É importante ressaltar que o enredo enfoca
muito mais a rotina de Dave tanto quando ele está em seu próprio corpo como
quando ele está habitando o do amigo, uma maneira sutil de injetar exaltação
aos valores morais em meio ao anarquismo ao mesmo tempo em que mostra que um
personagem sem bagagem emocional e histórico de vida como é Mitch só serve
mesmo para encher linguiça afinal, logo pelas suas primeiras cenas, ninguém
pode ter a esperança de que o cara não é um bom vivant que precisa de um
esculacho para acordar para a realidade. Todavia Reynolds interpreta seu
personagem com competência, mas Bateman ainda se sobressai, embora sua presença
em mais uma comédia nos passe a idéia de limitação de talento ou medo de ousar
e experimentar coisas novas. O fato é que pela narrativa em si Eu
Queria Ter a Sua Vida não vale muita coisa, mas pela vibração e
trabalho conjunto de seus protagonistas a coisa muda de figura tornando-se
interessante a sucessão de fracassos de cada um até que eles chegam à
previsível conclusão de que nada melhor que sua vida anterior. Final revelado?
Alguém esperava algo diferente? O importante é acompanhar o desenrolar dessa troca
de personalidades que poderia ser aprofundada revelando a adaptação do certinho
que tem a chance de ser solteiro novamente e ficar de pernas pro ar e a do
garanhão que agora precisa tentar ser temporariamente um chefe de família e um
profissional exemplar. Optaram pelo caminho mais curto e descartável para
prender o espectador: palavrões, nudez e escatologia, infelizmente um vício das
comédias hollywoodianas.
Comédia - 112 min - 2012
Comédia - 112 min - 2012
3 comentários:
Parece péssimo esse filme, só me daria ao trabalho de vê-lo porque Ryan Raymonds é bonito.
Achei um saco esse filme. Uma das piores comédias do ano passado.
mateus-leite.blogspot.com
Acho que esse tema de troca de personalidades já foi abordado tantas vezes no cinema que não sei se ainda consegue me agradar.
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