terça-feira, 17 de maio de 2016

AS PATRICINHAS DE BEVERLY HILLS

NOTA 8,0

Comédia adolescente que
marcou a geração dos anos
90 envelhece bem e ainda
diverte novas gerações
Existem filmes que nascem com o simples intuito de agradar ao público juvenil, mas que acabam extrapolando os limites da faixa etária visada e até mesmo do tempo. O que poderia parecer uma produção bobinha para aproveitar uma mania passageira pode acabar surpreendendo e marcando época. Esse é o caso de As Patricinhas de Beverly Hills que faturou alto sem investir em alguma campanha de marketing pesada, apenas o boca-a-boca foi o bastante para fazer o longa cair no gosto popular instantaneamente. Lançado bem nos tempos do auge dos seriados de TV americanos para adolescentes no estilo “Barrados no Baile” e “Melrose”, esta comédia foi extremamente elogiada e tira sarro da vida dos jovens ricos ao mesmo tempo em que adiciona um pouco de humanidade e vulnerabilidade a estes personagens que vivem em um mundo de sonhos, ao menos para os olhos dos mais humildes que os enxergam como pessoas fúteis que medem o valor de alguém pelo seu poder aquisitivo. O tempo passou e tal pensamento não mudou, pelo contrário, as novas gerações só trataram de reforçar a cultura do status através das marcas famosas e produtos da moda. É nisso que se apega a protagonista desta comédia aparentemente exclusiva para platéias femininas, mas que também pode entreter os rapazes. Cher (Alicia Silverstone) vive uma realidade a parte na qual tudo tem seu preço e está ao seu alcance através de seu cheque ou cartão de crédito. Jovem, esperta, loura e milionária, mesmo não sendo ainda maior de idade ela já tem seu próprio carro e até um avançado programa de computador que escolhe cada uma de suas combinações de roupas. Apesar de parecer muito fútil, ela tem bom coração e gosta de fazer benfeitorias e é a própria quem dá as boas-vindas à nova aluna do colégio, Tai (Brittany Murphy), uma garota que pelo seu jeito e maneira de se vestir está fadada a viver excluída da vida social dos riquinhos, mas a patricinha lhe dá um banho de loja e ensina boas maneiras a nova amiga. Todo esse tempo dedicado aos outros é porque ela não tem mais nada para se preocupar na vida, a não ser ficar linda e bem vestida.  
A partir do momento em que Tai passa a fazer sucesso na escola e nas festas, inversamente as coisas começam a não dar certo para Cher e ela se dá conta que está vivendo problemas com os quais nunca havia lidado e que seu dinheiro não pode resolver, como as esquivadas que Christian (Justin Walker) lhe dá para evitar suas cantadas. As coisas complicam quando ela percebe que se apaixonou por Josh (Paul Rudd), seu meio-irmão que na verdade não tem nada de seu sangue. Chegou a hora de a patricinha descobrir que amadurecer e certas decisões não há dinheiro que compre. É óbvio que sua mudança de comportamento está intimamente ligada com a idéia de fazer com que sua nova paixão passe a enxergá-la com outros olhos afinal de contas há anos ele convive com uma moça que se preocupa mais com a aparência dela e dos outros do que com qualquer traço de caráter. Esse é o grande gancho do enredo. Ao contrário da maioria das comédias adolescentes que se apegam as piadas grotescas e escatológicas ou que preferem se segurar em uma historinha romântica para lá de requentada, aqui o roteiro trata de mostrar outro lado das pessoas consideradas fúteis. Elas também sofrem, choram, tem problemas familiares, amorosos, na escola, enfim, passam pelas mesmas situações que qualquer ser humano e aqui é quebrada a idéia estereotipada de que basta uma tarde de compras no shopping para tudo ficar bem, ainda que por mais humanizada que Cher possa parecer na segunda metade do filme ela não deixa certas frescuras de lado, como separar doações de antepastos em uma campanha contra a fome. Curiosamente, se o filme no fundo fala sobre transformações para melhorar de vida, os dois principais nomes femininos do elenco tiveram suas carreiras desencaminhadas por motivos distintos. Alicia Silverstone fez fama e ganhou rios de dinheiro como a protagonista, era uma grande promessa do cinema, mas algo deu errado em sua trajetória e hoje ela aparece muito raramente e ainda em papéis pequenos. De estrela em ascensão ela passou a ser uma estrela apagada. Na realidade, esta comédia talvez seja o único filme que a atriz participou que atravessa os anos mantendo-se atrativo para saudosistas e novos admiradores. Já Brittanny Murphy estava indo muito bem em sua vida artística conquistando o público principalmente em comédias românticas, mas acabou falecendo precocemente.
A diretora e roteirista Amy Heckerling, que já havia trabalhado com o universo adolescente em Picardias Estudantis, se inspirou no livro “Emma” de Jane Austen para escrever esse clássico das sessões da tarde. No romance de época a personagem título é descrita como uma jovem bonita, inteligente e rica, mas principalmente mimada e habituada a manipular situações. Tais características foram perfeitamente incorporadas na personagem Cher, uma típica adolescente da elite americana que foi batizada com o nome de uma cantora ainda em evidência em meados da década de 1990 e que desfilava para cima e para baixa ostentando seu celular, o objeto mais cobiçado da época e que ainda era uma exclusividade dos mais abastados. Além da protagonista, muitos podem achar inicialmente que todos os outros tipos retratados no filme são afetados, alienados ou ridículos, mas aos poucos os personagens cativam o espectador que acaba se envolvendo com os dilemas apresentados, sejam eles de ordem supérflua ou existencial. Vendo hoje em dia, As Patricinhas de Beverly Hills é um retrato, ainda que possa parecer parcial, de uma geração que existiu e que ainda faz escola. É até possível reconhecer amigos e conhecidos entre os personagens desta comédia que ano após ano ainda continua atual e divertida. Aliás, o longa até guarda algumas semelhanças com aquele que deve ser um dos clássicos juvenis dos anos 2000, Os Delírios de Consumo de Becky Bloom. Em ambas as produções a moda, a força de uma etiqueta e o status através da imagem é colocado em discussão, em menor ou maior grau, mas o fato é que as duas protagonistas precisam vencer o desejo do consumo para se mostrarem pessoas confiáveis e do bem. Para terminar é preciso destacar os figurinos, principalmente das garotas. Se na época poderiam parecer exagerados justamente para evidenciar as diferenças entre as patricinhas e as moças de classe média, hoje eles parecem perfeitamente atuais, afinal a moda evoluiu a tal ponto que hoje tudo pode, cada um se veste como preferir e se sentir melhor. As roupas estão tão modernas quanto os diálogos afiados e com ótimas sacadas. Assim sendo, não podemos classificar a produção como nostálgica, exceto por um ou outro detalhe datado, como, por exemplo, o fato dos meninos bonitos do colégio serem chamados de "baldwins", referência a família de atores que naqueles tempos eram os modelos de galãs do cinema. Hoje eles são... Bem, avaliando as últimas atuações de Alec Baldwin, o membro mais famoso do clã, é melhor que quem os conheceu no passado guardem bem as lembranças de seus tempos áureos.
Comédia - 96 min - 1995 

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2 comentários:

Rafael W. disse...

Marcou minha época de Sessão da Tarde, mas não acho grande coisa, não.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Anônimo disse...

Assisti esse filme muuuitas vezes.
É um clássico dos anos 90! =)
Cher era para as meninas um tipo de Ferris Bueller (de "Curtindo a vida adoidado") para os meninos. ^^

Bjs ;)

http://literaturaecine.blogspot.com/