quinta-feira, 6 de maio de 2021

A OUTRA (2008)


Nota 7 Mais preocupado com estética, drama aborda polêmico e histórico triângulo amoroso


A história de Anne Boleyn, ou mais popularmente conhecida como Ana Bolena, é bastante curiosa e já foi levada para as telas do cinema e da televisão algumas vezes. A Outra tenta ser a versão definitiva de sua trajetória apoiando-se em uma requintada reprodução de época e, principalmente, no talento e força da interpretação de Natalie Portman que mescla falsidade, luxúria, persuasão e perversidade para compor o perfil da polêmica inglesa que não se sabe ao certo o ano de nascimento, mas se tem a certeza que faleceu precocemente. Contudo, como o título deixa claro, o longa destaca também os acontecimentos envolvendo sua rival, ninguém menos que sua própria irmã caçula, a imaculada Maria, vivida contidamente por uma Scarlett Johansson atípica. A moça é uma figura praticamente ignorada nos livros de História, mas também marcante na trajetória da corte do rei Henrique VIII, interpretado por Eric Bana. 

Tendo como base o livro "A Irmã de Ana Bolena", de Philippa Gregory, o roteiro de Peter Morgan condensa vários anos das vidas destes personagens em aproximadamente duas horas de narrativa, assim não há espaço para trabalhar os perfis de forma multifacetadas. A inescrupulosa é assim até o fim, a bondosa é capaz de sucumbir a traições e humilhações sem fazer qualquer tipo de reinvidicação e o homem disputado pelas irmãs é um otário que não sabe o que quer da vida. Henrique Tudor tinha o poder de mandar e desmandar na vida de todos, inclusive no que dizia a respeito de suas intimidades, mas haviam coisas que não poderia interferir. Ele vivia um casamento infeliz com Catarina de Aragão (Ana Torrent), oriunda da Espanha, tudo porque ela não lhe deu o tão esperado filho homem que daria continuidade a sua linhagem e assumiria o trono. O rei então passa a procurar nas redondezas alguma jovem que pudesse realizar seu sonho... Ou seria obrigação? Sabendo desta oportunidade e ávido por ascensão social, Sir Thomas (Mark Rylance), o pai das jovens Bolenas, se entusiasma e se prepara para receber com toda pompa o rei a fim de lhe apresentar Ana, sua filha mais velha, incentivando uma clara relação adúltera, algo estranhamente aceitável para uma época e um país cheios de convenções. Contudo, desde o princípio fica clara a personalidade forte dessa mulher que não se submeteria a todas as vontades do amante, não importava seu grau de importância. 


Como pretexto para conhecer melhor a pretendente, Henrique convida a jovem para uma caçada, mas acaba sofrendo um acidente e para evitar uma longa viagem de volta ao reino aceita ser acolhido na casa da moça até se recuperar. Já revelando que não seria submissa, Ana atribui os cuidados de vossa majestade para Maria, recém-casada com o filho de um mercador, que conquista o monarca com sua doçura, timidez e dedicação, assim decide levá-la junto para corte para ser a dama de companhia da sua futura esposa. O trio então começa um perigoso jogo de sedução que trará muito sofrimento não só para eles, mas levará os Bolenas e os Tudors à decadência. Ana acaba sendo trocada por Maria, comete alguns erros e acaba exilada na corte da França. Quando retorna sua irmã está grávida, mas vivenciando uma gestação de alto risco. É o momento que a intempestiva jovem aguardava para se vingar da caçula e sua própria família e também afastar de uma vez por todas a Rainha Catarina. Logo ela faz perceber sua figura sedutora perante o rei que se encanta novamente por essa mulher forte, decidida e sem papas na língua. A obsessão do rapaz por esta paixão avassaladora é tanta que ele chega a abrir mão do filho, da esposa e até mesmo da estabilidade de sua nação. 

Maria vê seu casamento desmoronar praticamente de modo pacífico e só ousa levantar sua voz, curiosamente, quando Ana está correndo o risco de ser decapitada em praça pública por seus atos imorais em nome da ambição. As consequências do rompimento do rei com os laços que mantinha com Roma e o catolicismo são apenas citadas, denotando a falta de compromisso do longa com a realidade dos fatos, afinal as intenções estão longe de suprir uma aula de História e sim entreter com uma trama dramática e com pitadas de erotismo. Em seu primeiro trabalho para o cinema, o diretor Justin Chadwick, egresso de produções para a televisão, opta por privilegiar mais as intrigas do trio protagonista do que propriamente o desenvolvimento emocional ou psicológico de seus personagens. O resultado é que sempre vemos esse triângulo amoroso com certo distanciamento. Por outro lado, o longa pode ser apreciado como uma sucessão de pinturas tamanho o esmero da produção esteticamente. Direção de arte e figurinos são de encher os olhos e suas cores fortes e soturnas intensificam o clima negativo do ambiente da corte vivenciando um período de incertezas e perda de prestígio. Em alguns momentos parece até que o diretor insere certas cenas com o único intuito de apresentar com mais detalhes a riqueza de sua produção, diga-se de passagem, destacados por um minucioso trabalho de iluminação, deixando seu filme um pouco arrastado. 


A Outra não apresenta um panorama abrangente sobre seus protagonistas que acabam representados de forma unilateral. Henrique, apesar de suas roupas pomposas que lhe dão um chamativo porte, está sempre com uma postura cabisbaixa tentando esconder sua frouxidão. Maria nunca se destaca, sempre surge à meia-luz com certa falta de expressão acentuada por seus lábios semi-abertos evidenciando sua personalidade de quem vive rendida pelos acontecimentos. Já Ana, por sua vez, surge constantemente com pose altiva, reforçando sua aura de mistério e coragem, de fato a dona da história. Apesar do roteiro ter uma sólida base de uma trama real e polêmica, Morgan tomou diversas liberdades na confecção do texto para o filme ser menos didático e mais interessante aos olhos do espectador. Não adiantou muito e a obra tampouco caiu nas graças dos professores de História como ferramenta de trabalho. O filme, na realidade, é descaradamente um veículo para a exposição de Johansson, desta vez deixando de lado o perfil de mulher fatal, marca de seu currículo, e para Portman, cada vez mais em ascensão tanto em Hollywood quanto no cinema alternativo. Mesmo com a trama histórica sendo tratada de forma rasa, o último ato é bem interessante e com uma conclusão que incita a procurar sabermos mais sobre a ligação dos Bolenas e dos Tudors com aquela que seria a grande monarca da Inglaterra, a rainha Elizabeth.

Drama - 115 min - 2008

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