terça-feira, 15 de março de 2016

NÃO SEI COMO ELA CONSEGUE

NOTA 4,0

Premissa carregada de bons
argumentos sobre a vida da
mulher moderna é desperdiçada
em um desfile de cenas vazias
O título nacional não poderia ser melhor para mais uma trabalho água-com-açúcar estrelado por Sarah Jessica Parker, afinal cai como uma luva para traduzir a trajetória profissional da atriz. Sem ser reconhecida genuinamente por seus dotes de intérprete, é incrível como ela consegue manter seu nome em evidência, mas talvez o fato de sempre assumir o mesmo perfil de personagem a ajude, pois não precisa fazer o mínimo de pesquisa para embrenhar no universo das mulheres que interpreta e seus fãs já sabem o que esperar de seus lançamentos. Por outro lado, fora Sex and the City – O Filme e sua continuação, seus projetos costumam fracassar nas bilheterias ou serem lançados de forma discreta diretamente em DVD. Em Não Sei Como Ela Consegue ao menos ela tenta dar um passo a frente na carreira procurando dialogar com o público feminino de faixa etária próxima a sua traduzindo em imagens a piada da mulher mil e uma utilidades. Claramente adepta a esmiuçar os pormenores do mundo feminino em seus trabalhos, a roteirista Aline Brosh McKenna, de O Diabo Veste Prada e Vestida Para Casar, baseou-se neste caso no best-seller da escocesa Allison Pearson para narrar o cotidiano atribulado de Kate Reddy, o modelo da mulher moderna que tem que fazer o que pode para dividir o seu tempo entre as tarefas profissionais e os cuidados com a família, além é claro de procurar manter ao menos alguns minutinhos do dia para cuidar de si mesma. Todavia, mesmo tentando se desdobrar o máximo possível para cumprir com todas as suas obrigações, ela ainda sente que não se dedica o suficiente ao marido Richard (Greg Kinnear) e para os filhos Emily (Emma Rayne Lilly) e Ben (papel em que se revezam os gêmeos Julius e Theodore Goldberg). Contudo, seu companheiro leva a situação numa boa e também ajuda para manter a ordem em casa para que a mulher possa ir trabalhar esbanjando sorrisos e montada no salto alto provando que é uma privilegiada por ser realizada tanto na vida pessoal quanto na profissional. Contudo, a imagem segura que ela exibe esconde sua fragilidade, pois ela ainda sente no dia-a-dia o preconceito, seja dos homens em seu trabalho atrelado ao ramo financeiro ou até mesmo de outras mulheres que abdicaram de suas carreiras para se dedicarem integralmente ao papel de dona-de-casa ou assumirem a identidade da mãe e/ou esposa exemplar. Sim, o longa tenta restabelecer os valores morais quanto a estruturação das famílias, mas as mensagens acabam chegando de forma deturpada aos espectadores dependendo do ponto de vista.  

Com um ritmo ligeiro típico de TV, mais uma forma de captar a atenção das mulheres sejam elas as donas-de-casa noveleiras ou as executivas adeptas da rapidez oferecidas pelas bugigangas tecnológicas, o longa adota uma narrativa diferenciada sendo que a trama é intermediada por depoimentos de pessoas que compartilhariam do cotidiano ou até mesmo da intimidade da protagonista, todas a elogiando ou criticando olhando diretamente para a câmera. Até a narração em off de Kate também se faz presente. Embora tais escolhas do diretor Douglas McGrath comumente sejam criticadas e taxadas como obsoletas, infelizmente é preciso constatar que o discurso dos personagens nesses rápidos momentos é o que traz algum tipo de humor à produção que por não ter um gênero definido em sua essência acaba sendo vendida genericamente como uma comédia, porém, as risadas podem ser contadas nos dedos de uma mão. Por outro lado também não pode ser classificada como um drama pelo fato do texto não apresentar profundidade aos conflitos. Ainda assim, este trabalho não merece o completo ostracismo, pelo contrário, garante uma sessão da tarde sem compromisso com folga. Simplesmente acompanhamos o corre-corre da protagonista identificando aqui ou ali alguma situação que certamente já se repetiu em nossas próprias casas ou meio de convívio sobrando para a cinquentona Sarah a árdua tarefa de literalmente carregar o longa nas costas tentando fazê-lo valer a pena tal qual Uma Thurman também se vira para dar alguma dignidade ao fiapo de história de Uma Mãe em Apuros, mais uma tentativa frustrada de retratar a loucura que é a vida da mulher contemporânea. De qualquer forma, como já dito, algumas sutis piadas ou pensamentos fazem a produção satisfazer razoavelmente o público, como a divertida introdução que apresenta a protagonista em meio aos problemas que envolve a confecção de uma simples torta para a filha levar numa festinha da escola como forma dela própria superar um trauma da infância ou o flerte que Kate tem com o marido ensaiando uma noite de amor, mas o cansaço a impediu de levar a ideia adiante. O início promete, mas infelizmente o desenrolar da trama não demonstra o mesmo timing cômico ou crítico, apresentando situações banais que por vezes dispersam a atenção, porém, o público-alvo deve se identificar com a maioria delas.

Para não dizer que o longa se resume a uma colagem de cenas mostrando o cotidiano ora neurótico ora melancólico de uma mulher, são inseridos dois personagens para dar algum sustento ao frágil roteiro. O aparente mar de rosas que Kate vive com o marido é balançado quando entra em cena Jack Abelhammer (Pierce Brosnan), um economista solteirão que ela conhece durante uma viagem de negócios. Seduzida pela oportunidade de uma promoção no trabalho e convivendo com um colega que não faz questão de esconder os seus interesses pessoais nesta relação, Kate pela primeira vez se sente realmente pressionada, até porque Richard também demonstra um inédito sentimento de ciúmes ou de se sentir diminuído. Contudo, o clima de romance entre a protagonista e um novo amor não acende faísca alguma no espectador a ponto dele vir a torcer para que ela tome a decisão de jogar tudo para o alto e dar uma sacudida em seu metódico cotidiano. Porém, sua relação com o marido também é tão amena, desperdiçando o talento cômico e a simpatia de Kinnear, que só resta torcermos para que ela mantenha o casamento intacto por conta dos filhos, um moralismo que infelizmente o longa não consegue afrontar perdendo um bom gancho narrativo.  Outra personagem inserida para dar (sem conseguir) algum um alicerce ao texto é a workahlic Momo (Olivia Munn), uma colega de trabalho de Kate que descobre uma gravidez indesejada e que pode ter o medo de tal situação vendo os atuais dilemas da amiga que precisa, por exemplo, em vários momentos alertar que não precisa ser vista no trabalho com ressalvas por sempre colocar a maternidade em primeiro lugar. Não Sei Como Ela Consegue até teria uma premissa interessante caso fosse um seriado de TV, mas para um longa-metragem o argumento rico em possibilidades acaba se tornando vago demais, ainda mais considerando a duração da produção que gira em torno de uma hora e meia. É pouco tempo para apresentar as várias facetas e dilemas da mulher moderna, assim a obra de McGrath desperdiça situações talvez até por medo de ofender o público feminino, sejam as mais tradicionais e caseiras quanto as feministas bem-sucedidas financeiramente. Adotando um final moralista e que exalta a felicidade da protagonista tanto em casa quanto no trabalho, o saldo final do filme é raso e até mesmo fantasioso. Tanto homens quanto mulheres dificilmente conseguem uma vida de plena satisfação, nem mesmo quando chegam a maturidade. A busca por objetivos e ideais deve ser constante na vida de todos e o que nos motiva a querer viver mais e melhorar como seres humanos. De qualquer forma, as alegrias, dúvidas e desventuras de Kate garantem alguns momentos de relax e podem plantar uma sementinha no espectador de que é preciso se mexer e se virar nos mais variados papéis para conseguir chegar o mais próximo possível do seu modelo de vida ideal.

Comédia - 89 min - 2011

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Um comentário:

renatocinema disse...

Se você achou que ficou um pouco vago e meu tempo é curto..acho que não arriscarei não.

abs