Nota 2,0 Lento e sem emoção, suspense baseado em fatos reais desperdiça intrigante material

Praticamente todos os dias os
veículos de comunicação têm ao menos um crime bárbaro em pauta. Psicopatas,
pedófilos, adolescentes infratores, crianças problemáticas e até complôs em
família, não importa o grau de crueldade e a quantidade de sangue envolvida,
tais situações infelizmente se tornaram tão rotineiras que não chocam mais,
porém, incitam sentimentos de comoção e indignação. O mundo cão inevitavelmente
atrai a atenção de curiosos e não é uma exclusividade da mídia brasileira.
Programas de TV, sites e publicações sensacionalistas não param de se
multiplicar mundo a fora. Nos EUA, por exemplo, o cinema bebe muito na fonte
das editorias policiais e mesmo quando os casos não possuem muitos
desdobramentos tem sempre algum produtor disposto a tirar leite de pedra e os
telefilmes tornaram-se uma forma rápida e barata para realização de trabalhos
do tipo. Todavia, a maioria fica a dever em criatividade, capricho e podem até
ser taxados como medíocres como é o caso de
O Clã dos
Vampiros que poderia ser um grande suspense, mas o resultado
entregue pelo diretor John Webb é entediante, carente em emoção do início ao
fim apesar de ser baseado em fatos reais que abalaram a sociedade
norte-americana em novembro de 1996 na cidade de Eustis, na Flórida. Trabalho
de estreia do roteirista Aaron Pope, este telefilme aborda o derradeiro
episódio envolvendo o grupo que dá título à obra, jovens de classe média que se
autodenominavam criaturas das trevas e acima do bem e do mal. O filme começa de
maneira bastante clichê. Jeni Wendorf (Stacy Houge) está com o namorado dentro
de um carro tarde da noite e em uma região desértica, tudo conspirando a favor
para o incauto casal ser atacado por algum vampiro.... Errado! Invertendo
expectativas, eles se despedem, o rapaz vai embora numa boa e a jovem consegue
chegar tranquilamente em casa. Pelo horário ela não estranha o silêncio do
local e o telefone que não funciona por estar com o fio cortado julga ser
consequência de mais uma discussão entre Heather (Kelley Krugger), sua irmã
caçula, com seus pais. Antes as coisas fossem assim. Os pais das garotas foram
brutalmente assassinados em cômodos distintos da casa e ao que tudo indica a
filha mais nova teve participação no crime que deveria se resumir a apenas um
roubo de carro.

Inicialmente dada como
desaparecida, Heather na verdade fugiu por conta própria para se unir a um
grupo sinistro liderado por seu namorado, Rod Ferrell (Andrew Fullerton). Os
integrantes se gabavam de serem imortais, adoravam a cor preta, seriam assíduos
frequentadores de passeios noturnos, além de terem um comportamento fechado e
se alimentarem de sangue mordendo uns aos outros. O porquê destes bizarros
costumes o filme fica a dever, assim o tal clã é reduzido a um bando de
adolescentes mimados querendo chamar a atenção com arruaças e seu estilo gótico,
porém, há registros de que o verdadeiro mentor desta espécie de seita era de
fato um garoto com sérios problemas de socialização e constantemente encrencado
com a polícia. Adepto de visitas a cemitérios e tudo que envolvesse
negativismo, desde criança seus pais o envolviam em rituais satânicos, confissão
feita por sua própria mãe durante o julgamento do rapaz que foi preso aos 17
anos, justamente quando foi acusado da morte do casal Wendorf. Todo esse
suporte psicológico para justificar as estranhas ações e atos criminosos do
rapaz e seus seguidores é simplesmente ignorado pelo roteiro que se limita a
elucidar o episódio do assassinato apostando em repetitivos flashbacks
apresentando os fatos sob diversos ângulos. Nada contra tal opção, mas o
problema é que a fita não tem elemento surpresa algum para se manter e trata
seus personagens de forma rasa comprometendo drasticamente o envolvimento do
espectador com a trama. Lento e praticamente sem história para contar (por
opção de Webb e Pope obviamente),
O Clã dos Vampiros é
frustrante desperdiçando um excelente argumento, uma história que ao que tudo
indica poderia dar nó na garganta, mas infelizmente é contada com frieza
omitindo inclusive a repercussão da mídia quanto a prisão dos supostos
vampiros. Se ainda o resultado fosse o filme B que o ostentoso título vende,
com direito a muito sangue de groselha e erotismo gratuito, quem sabe um mínimo
de diversão seria garantido, no entanto, a pretensão de reproduzir fatos reais
estava aquém da capacidade dos seus realizadores.
Suspense - 87 min - 2002
Nenhum comentário:
Postar um comentário