Nota 8,0 Drama convida espectador para uma dolorosa jornada de reflexão sobre a vida
Este título é reservado para
uma seleta platéia sem dúvidas. Produção francesa, narrativa lenta, poucos
diálogos e discussões sobre doença e homossexualismo compõem o cenário
deste sensível e reflexivo longa premiado no Festival de Berlim com direção e
roteiro de Patrice Chéreau, o mesmo do até hoje muito comentado Rainha
Margot. Falar que Irmãos é um drama para poucos não é um sinal de desprezo, mas
sim de exaltação das suas qualidades. O espectador é convidado a viver cada
momento doloroso junto com os protagonistas e acaba também refletindo
sobre sua própria vida graças a mão firme do cineasta que usa sua câmera ora de
modo documental ora flertando com o estilo amador com a
lente muito próxima ao rosto dos atores para captar detalhes das
reações, criando assim um laço afetivo entre os personagens e o público. A
trama se passa em meados da década de 1980 quando Thomas (Bruno Todeschini), ao
descobrir que possui uma rara doença sanguínea, não procura auxílio dos pais,
mas decide pedir ajuda ao seu irmão mais novo, Luc (Eric Caravaca), com quem
não falava há anos. O reencontro entre eles é cordial, sem rompantes de emoção,
e o irmão pródigo resolve ajudar no que puder o familiar procurando deixar para
trás ressentimentos do passado. Em meio a exames e diagnósticos nada animadores,
parece mesmo que a tal doença não tem cura, apenas um controle que pode
prolongar a vida do paciente. Porém, sem querer, Thomas leva as pessoas que
estão em sua volta a refletirem sobre suas próprias existências e os
caminhos que suas vidas seguiram. A sua morte iminente faz com que sua
companheira Claire (Nathalie Boutefeu) reflita melhor se quer mesmo se
relacionar com alguém que pode ter pouco tempo de vida e Luc se ainda quer
investir no caso que tem com o jovem Vincent (Sylvain Jacques), motivo que pode
ter afastado os irmãos.
Depois de dirigir um épico grandioso, Chéreau não voltou mais ao gênero e preferiu investir no cinema intimista. Para quem gosta desse tipo de produção, é impossível ficar passivo às situações apresentadas aqui, ainda que o cineasta tenha optado filmar tudo com objetividade e cortes secos, o que até explica a curta duração da produção, o que é extremamente funcional, embora muitos minutos são desperdiçados, por exemplo, exibindo a preparação do personagem Thomas para uma cirurgia sob o olhar atento de seu irmão. Nessa cena em especial é perceptível ver como o cinema fora de Hollywood é preocupado em transmitir mensagens através de olhares e gestos sutis, sem a necessidade de uma única palavra. O título e o material publicitário podem a primeira vista induzir que o longa trata de uma relação incestuosa. Realmente há em alguns momentos um erotismo leve no ar entre os irmãos, inclusive Thomas assume a Claire que seu irmão foi o primeiro homem que tocou intimamente quando eram adolescentes, mas o que prevalece é a demonstração de carinho e a vontade de recuperar o tempo que perderam de convivência, mas nada é fácil. Thomas, aidético e homofóbico, sofre com a partida da namorada e não prevê sucesso em seu tratamento médico. Mesmo assim, resiste em ceder e aceitar a relação entre Luc e Vicent. Seu irmão, por sua vez, acaba tendo dúvidas sobre sua opção sexual talvez percebendo que em troca de uma relação com apelo sexual abriu mão dos laços familiares bem mais sólidos que qualquer namoro. Todavia, o caso amoroso entre homens é até jogado para segundo plano ao longo da trama. O que interessa mesmo é o relacionamento dos irmãos que tentam, mas conversam rispidamente e parecem não se entender nem em um momento difícil como esse em que uma doença pode afetar suas vidas de forma drástica e irremediável. Chéreau entrega sua narrativa de forma praticamente crua, sem florear as coisas, o que explica a dificuldade de alguns espectadores em se envolverem com a trama. Irmãos é uma produção que exige espírito preparado e mente aberta para reflexão, mas sem dúvida um trabalho excelente tanto em aspectos técnicos quanto narrativos.
Depois de dirigir um épico grandioso, Chéreau não voltou mais ao gênero e preferiu investir no cinema intimista. Para quem gosta desse tipo de produção, é impossível ficar passivo às situações apresentadas aqui, ainda que o cineasta tenha optado filmar tudo com objetividade e cortes secos, o que até explica a curta duração da produção, o que é extremamente funcional, embora muitos minutos são desperdiçados, por exemplo, exibindo a preparação do personagem Thomas para uma cirurgia sob o olhar atento de seu irmão. Nessa cena em especial é perceptível ver como o cinema fora de Hollywood é preocupado em transmitir mensagens através de olhares e gestos sutis, sem a necessidade de uma única palavra. O título e o material publicitário podem a primeira vista induzir que o longa trata de uma relação incestuosa. Realmente há em alguns momentos um erotismo leve no ar entre os irmãos, inclusive Thomas assume a Claire que seu irmão foi o primeiro homem que tocou intimamente quando eram adolescentes, mas o que prevalece é a demonstração de carinho e a vontade de recuperar o tempo que perderam de convivência, mas nada é fácil. Thomas, aidético e homofóbico, sofre com a partida da namorada e não prevê sucesso em seu tratamento médico. Mesmo assim, resiste em ceder e aceitar a relação entre Luc e Vicent. Seu irmão, por sua vez, acaba tendo dúvidas sobre sua opção sexual talvez percebendo que em troca de uma relação com apelo sexual abriu mão dos laços familiares bem mais sólidos que qualquer namoro. Todavia, o caso amoroso entre homens é até jogado para segundo plano ao longo da trama. O que interessa mesmo é o relacionamento dos irmãos que tentam, mas conversam rispidamente e parecem não se entender nem em um momento difícil como esse em que uma doença pode afetar suas vidas de forma drástica e irremediável. Chéreau entrega sua narrativa de forma praticamente crua, sem florear as coisas, o que explica a dificuldade de alguns espectadores em se envolverem com a trama. Irmãos é uma produção que exige espírito preparado e mente aberta para reflexão, mas sem dúvida um trabalho excelente tanto em aspectos técnicos quanto narrativos.
Drama - 89 min - 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário