segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O PREÇO DA TRAIÇÃO

NOTA 8,0

Misto de drama e suspense
baseado em longa francês
exala sensualidade do
inicio ao fim com classe
Sem dúvidas um dos temas mais trabalhados pelo cinema americano ao longo de sua história é a infidelidade. São centenas de títulos e dos mais variados gêneros que tratam do assunto, mas tudo o que é demais enjoa. Por exemplo, um filme sério que flerta com o erotismo hoje em dia é considerado fora de moda, visto que o ápice desse tipo de produção foi no final dos anos 80 e início da década seguinte quando estrelas como Glenn Close, Sharon Stone e Demi Moore apareciam nos créditos para dar algum valor a produtos que poderiam facilmente ser massacrados pela crítica. Foram tantas cruzadas de pernas insinuantes e amassos em locais proibidos que hoje uma obra do tipo não causa mais impacto, embora sobrevivam graças aos canais fechados que bancam trabalhos assim para rechear suas programações e depois servem para preencher o “Super Cine” da Globo, já que a maior parte dos filmes desta sessão são sobre adultérios e oriundos de canais a cabo ou lançamentos direto para locação e venda. Bem, por ainda fazer renda, mesmo que não em exagero, e ter sua carreira de sucesso em determinada época, não podemos dizer que o gênero do thriller erótico não tem sua importância para a história do cinema, mas o fato é que não há lugar de destaque no circuito comercial para ele atualmente. Por sofrer preconceito devido a seu conteúdo forte ou até mesmo pelo público considerar uma categoria datada, alguns bons títulos acabam não tendo o devido reconhecimento como é o caso de O Preço da Traição, dirigido pelo egípcio Atom Egoyam, profissional que se dedica mais ao cinema alternativo e já premiado em Cannes por O Doce Amanhã. Neste caso ele se entrega a uma produção bem ao estilo hollywoodiano, carregando na sensualidade, porém, criando um clima noir e melancólico envolvente que ganha muita sustância por causa da competência do triângulo amoroso composto por três grandes atores. A trama gira em torno da ginecologista Catherine (Julianne Moore) que aparentemente vive um casamento feliz com o professor David (Liam Neeson), porém, a dedicação do marido ao trabalho e aos alunos a deixa com a pulga atrás da orelha suspeitando que está sendo traída. A gota d’água é quando ela prepara uma festa surpresa de aniversário e ele não aparece alegando que houve um imprevisto na volta para casa depois de uma viagem de trabalho. Catherine então decide colocar a fidelidade do esposo à prova, uma decisão que certamente não resultaria em algo bom para ela própria.
Da janela de seu consultório a médica já observara uma jovem com um comportamento estranho acompanhada de um homem. Ela é Chloe (Amanda Seyfried), uma garota de programa que atrai a atenção de homens comprometidos, mas jamais esperava que um dia tivesse seus serviços contratados por uma mulher. Catherine propõe a moça que ela encontre seu marido e o seduza para ver se ele se sente atraído por ela. O que era para ser um ou dois encontros para checar até que ponto David era fiel acaba se tornando um misto de prazer e sadismo para sua esposa que não imagina o problema que criou para si mesma. A perversão é o elemento básico desta narrativa que divide opiniões. Embora acima da média comparando-se a seus “filmes-primos” feitos para a TV ou por pequenas produtoras de cinema, as situações exploradas são bastante previsíveis e qualquer cinéfilo ou até mesmo fã de novelas consegue matar a charada com muita antecedência, inclusive a conclusão que não surpreende muito. O que faz a diferença neste caso é a maneira de contar uma história um tanto requentada e é aí que um cineasta competente tem a chance de salvar um projeto fadado ao fracasso.  Apesar do teor erótico dos diálogos e das próprias cenas, não há apelação e grosserias, tudo é feito com muita classe e cautela de maneira a envolver o espectador e não chocá-lo. O que talvez não agrade seja a forma extremamente sexualizada como os personagens são retratados, por exemplo, as vezes temos a sensação de que Catherine é uma masoquista que passa o dia todo impaciente para no final da tarde acompanhar com atenção os relatos quentes da prostituta que não esconde detalhes dos encontros que tem com David. Nem mesmo quando o filho do casal em crise, Michael (Max Thieriot), entra em cena deixamos de sentir uma sensualidade no ar, afinal na mesma sequência temos Chloe esboçando uma expressão que denúncia que ela procurará o jovem com segundas intenções. É curioso como o cineasta consegue utilizar os enquadramentos, a edição, a trilha sonora e até mesmo os momentos de silêncio a favor de sua narrativa que nas mãos de um qualquer poderia ultrapassar os limites do aceito pelo cinema comercial para maiores de idade.
Os cinéfilos de carteirinha devem ter a sensação de já ter visto este filme um pouco mais acentuada. Não é a toa. Além de reciclar fórmulas batidas, esta produção é um remake de Nathalie X, dirigido pela francesa Anne Fontaine e que é famoso entre os apreciadores de cinema alternativo. O longa francês trabalha melhor o viés da paranóia que é desenvolvida pela protagonista a partir de uma desconfiança. Já a versão americana opta por explicitar mais o que era latente, com direito a closes generosos dos corpos das atrizes. Aliás, Egoyam mostra sua dedicação em mostrar a beleza das mulheres, não só corporal, mas também facial captando o desejo evidenciado nas expressões e olhares de Julianne e Amanda, ambas com interpretações fortes e totalmente críveis, sendo que a segunda surpreende pegando com unhas e dentes um papel que talvez ninguém a imaginasse interpretando, afinal após Mamma Mia e Cartas Para Julieta o terreno estava preparado para a jovem atriz se tornar um nome quente para as comédias românticas adolescentes. Só pela introdução ela já domina as atenções e mostra que o filme é seu. Já Neeson, embora pareça ter um personagem diminuto perto delas, o defende com elegância, principalmente quando aparece na imaginação da esposa junto com a acompanhante de luxo. O roteiro escrito por Erin Cressida Wilson, que já havia trabalhado com a sexualidade como pontos de destaque dos filmes A Pele e Secretária, é bem feitinho e intrigante, mas sofre, como já dito, por ter que recontar uma história que já teve diversas versões e, principalmente, por preferir continuar amarrado a sua inspiração original. Algumas cenas são idênticas ao longa francês, mas nada a ser questionável negativamente. No conjunto, O Preço da Traição funciona muito bem, principalmente pela introdução que deixa o espectador na vontade de saber até onde vai a obsessão de Catherine em descobrir mais sobre as intimidades de seu marido fora de casa. Para muitos a partir da metade surgem os problemas. É quando as duas protagonistas se aproximam e vivenciam cenas ousadas que para a grande maioria dos espectadores soa como apelação, algo pouco convincente, ainda que os rumos tomados pelas personagens se encaixem no contexto e existam explicações para tanto pela psicologia. Talvez o que mais incomode mesmo seja ver mais uma vez Julianne vivendo uma personagem com instintos homossexuais, um tipo muito comum em seu currículo, e, obviamente, o preconceito ainda existente com tais relações. Não é por acaso que apontam o meio para o fim como a parte problemática do longa. Todavia, uma opção muito boa para um passatempo sem abrir mão de qualidade.
Suspense - 99 min - 2010 

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