terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO

NOTA 8,5

Seguir tradições ou romper
seguindo a trilha da
novidade, eis a grande
questão deste drama
Já é um costume da Academia de Cinema de Hollywood escolher anualmente ao menos um filme que poderia passar em brancas nuvens para concorrer em algumas categorias do Oscar, podendo muitas vês tais títulos se tornarem verdadeiras zebras e faturarem algumas estatuetas. A iniciativa é uma forma de dar incentivo para que o mercado de pequenas produções continue ativo e até para enaltecer que a imagem dos votantes é digna de seres pensantes e não de ovelhinhas seduzidas por mimos cedidos por grandes estúdios. Em 2010, ao optar por ampliar de cinco para dez as vagas para a principal categoria da festa, aumentou consideravelmente também o número de filmes aparentemente sem brilho a marcarem presença do evento. Alguns realmente são merecedores da lembrança, outros claramente foram ajudados por questões de marketing e também há aqueles que são bons, mas que acabam sofrendo com o fato de estamparem em seu material publicitário menções às indicações. Neste último caso se enquadra Educação, um belo drama a respeito do período de transição de uma jovem para a vida adulta e sua dúvida entre optar pela educação ou a diversão. A história se passa no início da década de 1960, quando a colegial Jenny (Carey Mulligan) se esforça para ser a melhor aluna da sala e sonha em cursar uma boa faculdade. Basicamente vivendo entre os livros e as atividades domésticas, sua idéia a respeito de viver a vida muda completamente quando ela conhece David (Peter Sarsgaard), um homem elegante, culto e bem mais velho.  A moça enxerga nela a porta para um mundo novo, repleto de referências à cultura, arte, espetáculos, boa comida e companhias refinadas. Ela se apaixona rapidamente por ele, ou melhor, por seu estilo de vida que também parece atrair a atenção de seu pai, Jack (Alfred Molina), que apóia o relacionamento e se simpatiza com o futuro genro. Sua orientadora escolar (Emma Thompson) teme que sua pupila esteja escolhendo um caminho errado para seu futuro, mas, por outro lado, Jenny vê na sua professora Miss Stubbs (Olivia Williams) o exemplo do que pode lhe acontecer caso não siga seus próprios instintos e se deixe guiar pelas convenções e imposições de sua família e até mesmo da sociedade. Contestando e avaliando as possibilidades da vida regrada dos estudos e de uma carreira exemplar e da vida de sonhos e glamour que teria ao lado de seu grande amor, o espectador passa a vivenciar estas dúvidas junto com Jenny ao mesmo tempo em que a personagem amadurece em cena, um grande trabalho de uma jovem atriz merecidamente reconhecido com diversas indicações a prêmios.

É justamente o excesso de badalação e menções a prêmios que reduz consideravelmente o brilho desta produção assinada pela dinamarquesa Lone Scherfig, do sucesso em festivais Italiano Para Principiantes. O filme é bem feitinho, interpretado por um elenco competente, com uma excelente reconstituição de época, mas se revela um pouco simplório demais. Analisando bem temos aqui mais uma variação de uma clássica história romântica que já ganhou diversas versões no cinema, no teatro e na TV. A mocinha é perfeita, educada, amável e até certo ponto ingênua. Seu pretendente é bonito, simpático, inteligente e aparentemente bem de vida em termos financeiros. Já o vilão, surpresa! Não há um vilão cruel e cheio de planos mirabolantes para atrapalhar a felicidade do casal. A vilania pode estar contida na própria dúvida da protagonista em decidir qual caminho seguir ou em seu namorado. Eis aí um contraponto interessante, estratégico ou não. Baseado nas memórias da jornalista Lynn Barder, o roteiro de Nick Hornby, que já havia trabalhado com o tema do fascínio da cultura pop em Alta Fidelidade, apresenta Jenny como um diamante que vai sendo lapidado ao longo da trama, resgatando a idéia de que somos aquilo que o meio em que vivemos nos torna. Se antes fechada dentro de casa ou da escola ela parecia um bibelô, quando entra em contato com as novidades propostas pelos agitados anos 60 ela se transforma ligeiramente. Não vemos um furacão em cena, mas sentimos que ela quer se libertar das amarras seja tomando uma bebida em um barzinho ou dando alguns passinhos tímidos ao som de rock. Já David é um personagem que tem um desenvolvimento previsível. Desde as primeiras cenas já fica no ar que suas intenções com a moça não são tão inocentes e que ele tem um segredo e não é difícil de saber qual é bem antes da revelação. Seu perfil é o do típico cafajeste da atualidade, só que com muito mais classe. Ele seduz com o que seu dinheiro pode comprar e tem na ponta da língua frases de efeito e palavras dóceis.
Fazendo jus a fama da elegância britânica, esta produção passa longe de ser um dramalhão e tem alguns toques sutis de humor. Nem mesmo quando chegamos ao ápice do longa, com a revelação do segredo de David, sentimos a narrativa dar solavancos. É tudo com uma fluidez ímpar e certa melancolia agradável. Para quem gosta de boas histórias, dificilmente não se sentirá envolvido pelo clima nostálgico, um prato cheio para saudosistas se divertirem com as canções selecionadas para a trilha sonora ou buscando detalhes característicos da época nos cenários e figurinos que ajudam a transformar a obra em mais um registro histórico e comportamental do período. É interessante que muitas das questões tratadas no filme perduram até os dias de hoje. A cobrança em ser o melhor no que faz, a sociedade impondo comportamentos, a cultura direcionando caminhos alternativos, enfim, muitos anos se passaram, muita coisa mudou, mas no fundo ainda vivemos sobre os alicerces arcaicos sociais. O título Educação é simples e eficiente. Apesar de nos remeter a idéia do ambiente acadêmico, ele também faz alusão ao aprendizado que a própria vida nos oferece a cada dia e a cineasta soube aproveitar muito bem estes dois pontos de vistas trabalhando cada um deles com certa profundidade e se preocupando em envolver o espectador. Já que o filme trata sobre as quebras de padrões, é curioso saber que a diretora fez parte do movimento Dogma 95, uma manifestação a favor de filmes mais autorais e sem as firulas costumeiras de Hollywood que acabaram se espalhando pela produção cinematográfica de outros países. Aqui a diretora acaba negando o manifesto e entregando uma obra convencional, porém, eficientíssima, afinal conquistou a atenção da crítica em massa. Todavia, como dito antes, o filme é muito bom, mas difícil de engolir menções honrosas como melhor filme do ano (de 2009) e coisas do tipo. Dica: para quem gosta de se aprofundar nas discussões, vale a pena assistir também O Sorriso de Monalisa para uma análise curiosa. Ambas as produções se passam em um ambiente escolar e sobre as dúvidas de adolescentes, porém, o longa protagonizado por Julia Roberts se passa nos anos 50. No espaço de tempo de uma década ficam claros os avanços que as mulheres conquistaram. Antes ensinadas a estudarem até o colegial e incentivadas depois a se casarem e se tornarem donas de casa, alguns anos depois suas próprias famílias apóiam a realização de uma faculdade ou curso profissionalizante, não sendo mais uma obrigação da mulher abdicar de uma carreira para assumir as rédeas da casa e da família por completo. Nos dois casos fala-se sobre repressão de alguma forma e da insatisfação do ser humano qualquer que seja o caminho que decida seguir. Vale a pena conferir os dois longas que são datados no visual, mas na mensagem são atemporais.
Drama - 100 min - 2009

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