sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O LOBISOMEM (2009)

NOTA 7,0

Clássico monstro ganha
oportunidade para aterrorizar
novas plateias trazendo de volta
um estilo visual nostálgico
Sinais tristes do passar do tempo. Para a maior parte dos amantes de cinema deve ser muito revoltante ver figuras de monstros clássicos da sétima arte hoje não causarem mais expressões de repúdio ou pavor, mas sim serem idolatrados e adornarem os quartos de adolescentes através das fotografias de jovenzinhos bonitinhos que brincam de viver vampiros e lobisomens carismáticos. E a onda não é nova. Os anos 80 e 90 foram marcados por produtos típicos de sessão da tarde que procuravam unir o universo infanto-juvenil com o poder de sedução do terror. Por outro lado, vez ou outra surge algum projeto bacana que tenta trazer de volta a imagem clássica de criaturas que apavoraram gerações e sendo a Universal Pictures a produtora com o catálogo mais amplo deste tipo de personagem é sua obrigação resgatá-los do limbo. Conseguiram com sucesso ressuscitar a Múmia, gerando uma franquia milionária, mas que em seu último capítulo já demonstrou estar saturada. Se as tentativas de resgatar o mito de Drácula e seus discípulos por Francis Ford Coppola e John Carpenter, por exemplo, embora datadas da década de 1990, ainda estavam muito frescas na memória do público, o jeito era investir em um personagem relativamente menos explorado nos últimos anos. O Lobisomem, refilmagem do original de 1941 dirigido por George Waggner, foi um projeto muito aguardado, mas que deu errado desde sua concepção. As origens cinematográficas deste monstro são datadas da primeira metade do século 20. Após a famosa crise financeira de 1929 que abalou o mundo ocidental, tendo reflexos principalmente no território norte-americano, os executivos da Universal foram buscar inspiração no cinema de horror característico do Expressionismo Alemão. Produzidos após a Primeira Guerra Mundial, a ideia era apresentar no escurinho do cinema algo tão perturbador quanto a realidade para conquistar a sintonia das plateias. É desta safra os longas originais de todas as criaturas citadas no início do texto entre tantos outros personagens amedrontadores. Nascidos da literatura ou a partir das crendices populares, como é o caso do Lobisomem, tais personagens foram ganhando modificações em seus perfis ao longo dos anos tornando-se criações de uso universais, tanto que o bichano peludo já foi tema até de filme brasileiro. Contudo, a bestialidade inerente a personalidade de todos eles são características dos protagonistas dos filmes originais da citada produtora americana, tanto que eles são conhecidos como os “Monstros da Universal”. Por esse breve histórico fica um pouco difícil entender o porquê de tentarem resgatar produções do tipo, visto que hoje em dia os sádicos humanos assassinos assustam bem mais e até mesmo porque anos atrás houve uma tentativa frustrada de reunir o Lobisomem e companhia bela na aventura Van Helsing – O Caçador de Monstro. Por esses motivos e o tanto de problemas que envolveram a produção do longa dirigido por Joe Johnston, de Jurassic park 3, fica claro que a ideia deste projeto veio em momento inoportuno, embora para quem esteja alheio as fofocas de bastidores a obra até que garante certa diversão, principalmente para aqueles que apreciam um boa construção de clima e reconstituição de época. O cineasta fez questão de manter a aura gótica da obra que lhe serviu de inspiração, assim abusando dos tons escuros nos cenários, figurinos e até mesmo na fotografia e iluminação, além é claro da trilha sonora e dos efeitos de sons acompanharem o clima latente de tensão.

Baseado na adaptação original de Curt Siodmak, o roteiro escrito por Andrew Kevin Walker e finalizado (entenda-se atendendo exigências para alterações) por David Self procura estabelecer relações mais profundas entre uma terrível maldição e o passado da família Talbot. Na era Vitoriana, em Nova York, Lawrence (Benicio Del Toro, também ocupando a vaga de um dos produtores), um dos herdeiros do clã, é um ator de teatro que ainda sofre com as memórias da infância, quando sofreu com a precoce morte da mãe e com os constantes conflitos que tinha com seu pai, o caçador Sir John Talbot (Anthony Hopkins). Todavia, ele precisa confrontar seu passado quando ele é procurado por Gwen Conliffe (Emily Blunt), sua futura cunhada, para ajudá-la a encontrar seu noivo desaparecido. Ao retornar para sua antiga casa na Inglaterra após mais de duas décadas de ausência e reencontrar o pai, Lawrence acaba se envolvendo em uma investigação sobre violentas mortes que coincidentemente ocorrem nas noites de lua cheia, inclusive a do próprio irmão, e descobre um segredo que mudará para sempre sua vida. Ao ser atacado por um animal feroz e salvo por uma cigana curandeira (Geraldine Chaplin), Lawrence passa a sofrer perturbações psicológicas e transformações físicas que afloram geralmente na presença de Gwen, algo que ninguém de forma alguma sabia justificar. Paralelo a isso, um inspetor recém-chegado de Londres, Aberline (Hugo Weaving), começa a investigar o caso da morte de Ben Talbot. Este investigador, aliás, é uma das novidades da refilmagem. Ele é inspirado em um personagem real, o homem que investigou os assassinatos cometidos no final do século 19 pelo famoso Jack, o Estripador. Todavia, sua participação na trama acaba sendo desnecessária, sendo que suas pré-conclusões para o caso em nada acrescentam de concreto para o desenrolar da trama. Como em toda boa história com pegada clássica, o romance não é deixado de lado e é forçado algum clima entre os personagens Lawrence e Gwen, mas a tentativa é falha por erros da própria condução da narrativa. Tal personagem feminina deveria ter uma presença bastante forte afinal ela representaria o que remete às lembranças do passado envolvendo a trágica morte da Sra.Talbot, fato que estremeceu irremediavelmente as relações entre um pai e seu filho, mas infelizmente esse é outro gancho explorado de forma ineficiente ganhando força apenas nos minutos finais quando acontece um eminente combate mortal entre eles. Para contrabalançar, o roteiro por outro lado compensa apresentando as variadas reações que a notícia de que uma fera insaciável está atacando um provinciano vilarejo desperta, nos dando um panorama dos perfis sociais e intelectuais da época, sobrando até mesmo para a Ciência ser apedrejada. Bem, fora uma ou outra coisinha, a premissa é bem interessante, mas seu desenvolvimento infelizmente um tanto truncado e sem uma linha narrativa bem definida. O início sugere uma obra no melhor estilo gótico, em algumas situações o tom de aventura toma as rédeas e não mais que de repente podemos estar diante de um legítimo filme de terror com cenas banhadas a sangue com direito a mutilações e vísceras expostas, além é claro de em alguns momentos o roteiro reforçar o traço de drama psicológico.

Não ter um viés bem estipulado no texto para dar uma melhor direção para todos os envolvidos na produção não foi o único problema do projeto. Aliás, ter um diretor para determinar prazos e objetivos foi outro contratempo. Inicialmente o longa seria dirigido por Mark Romanek, mas ele deixou o projeto devido a divergências sobre o orçamento disponível. Como em Hollywood o ditado “tempo é dinheiro” é levado a sério, antes mesmo de ter o básico definido para a realização do longa os produtores já divulgavam a estreia para meados de 2007, sendo que a data final acabou sendo no início de 2010. Depois de diversos adiamentos, a obra acabou ficando estigmatizada, parecia que nem mesmo seus realizadores tinham confiança em seu sucesso, e os ânimos esfriaram até que seu tardio lançamento a transformou em apenas mais um filme no meio da multidão. Tanto atraso foi necessário para atender as exigências dos produtores, que certamente influenciaram para a falta de unidade não deixando claro se este era um produto para atingir plateias adultas ou de adolescentes. Na melhor das hipóteses, melhor acreditarmos que esta é uma produção para saudosistas. Palmas para Johnston que desafiou as atuais leis do mercado. Em meio a avalanche de efeitos especiais e tridimensionais, é um verdadeiro deleite poder ver que ainda há profissionais que não se deixam pressionar. Neste caso, como já dito, o cineasta optou por manter o visual de O Lobisomem o mais próximo possível do estilo adotado pelas produções de horror contemporâneas a obra que lhe serviu de inspiração, padrão que nos anos 70 voltou à moda, mas que rapidamente caiu em desuso novamente. Os efeitos de computação obviamente estão presentes nesta refilmagem, mas usados com parcimônia para sustentarem a estética retrô desejada. O emprego da tecnologia é visível principalmente numa cena-símbolo de transformação de Del Toro na tal criatura do título, um trabalho de mestre apresentado nos mínimos detalhes, resultado da experiência de Rick Baker, não a toa o vencedor do primeiro Oscar da categoria de maquiagem por Um Lobisomem Americano em Londres. No geral, este trabalho não é avassalador como prometia, mas também está longe do lixo que muitos dizem. Embora o material tivesse possibilidades de ser trabalhado de forma mais original privilegiando os conflitos internos e externos de um humano que descobre de uma hora para a outra que pode se tornar um animal feroz, Johnston conseguiu equilibrar bem razão e emoção neste projeto que entre tantos desafetos aos menos tem um fã incondicional: o próprio Del Toro, talvez o único nome que em momento algum ao menos ameaçou abandonar o projeto. Vale uma sessão-pipoca com categoria.

Vencedor do Oscar de maquiagem

Terror - 119 min - 2009 

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