sábado, 19 de junho de 2021

O RETORNO DA MÚMIA


Nota 9 Basicamente reciclando acertos do original, continuação é ainda mais dinâmica e divertida


Era praticamente certo que o longa A Múmia, lançado em 1999, ganharia uma sequência. O universo fantasioso da aventura era propício e só dependia dos lucros do cinema e das mídias de consumo doméstico para ganhar o aval. Meta alcançada rapidamente e com folga, não demorou muito para o lançamento de O Retorno da Múmia e para mais uma vez o diretor Stephen Sommers e a Universal Pictures lucrarem alto. E como em time que está ganhando não se mexe, mais uma vez o elenco (sobrevivente e mais a múmia) do longa original se reuniu para dar continuidade as aventuras de Rick O'Connell (Brendan Fraser), agora casado com Evelyn (Rachel Weisz) e na companhia do filho Alex (Freddie Boath), um esperto garotinho que já demonstra ter herdado o apreço dos pais por mitologia egípcia e também para se meter em confusões. Em uma das escavações da família, é encontrado um bracelete sagrado que tem o poder de revelar o local em que se esconde uma cidade dada como desaparecida e envolta em mistérios. Tal artefato tem ligações ancestrais com o Escorpião Rei (Dwayne Johnson, então estreando como ator e conhecido apenas pela alcunha The Rock), como era chamado um guerreiro considerado invencível, mas que não suporta uma eventual derrota de seu exército e vende sua alma para o deus Anubis em troca do desejo de ser o mais poderoso possível que um simples mortal.

O temível sacerdote Imhotep (Arnold Vosloo), a tal múmia do título, acaba voltando ao mundo dos vivos  e agora disposto a colocar as mãos no bracelete para conseguir ressuscitar o poderoso exército do Escorpião Rei para assim finalmente dominar o mundo. Obviamente, Alex entra na sua mira para conseguir chantagear seus pais a lhe entregarem a peça, mas O'Connell e a esposa não medem esforços para salvá-lo e impedir a ressurreição do guerreiro e seus subalternos e contam mais uma vez com a ajuda de Ardeth Bay (Oded Fehr), o protetor da cidade dos mortos, e de Jonathan (John Hannah), o irmão de Evelyn que está ainda mais atrapalhado. Quem também regressa, ou melhor, busca voltar a ter um corpo humano, é  Anck Su Namun (Patricia Velasquez), o grande amor de Imhotep que tentará novamente reencarná-la. Além dos nomes principais do elenco original, o diretor voltou a apostar nos clichês narrativos e técnicos que garantiram o sucesso da produção. Sommers é declaradamente um saudosista, como atestou sua coragem ao lançar Tentáculos pouco antes de se aventurar pelo Egito, um revival  dos filmes trash sobre animais gigantes e perversos com efeitos pra lá de toscos. Com seu nome em alta e passe livre para não economizar nos custos, em sua segunda incursão pelas areias do deserto aproveitou para liberar sua imaginação, mas mesmo na condução de uma produção grandiosa não deixou se deixou deslumbrar, mantendo o clima descomprometido e ingênuo de uma sessão da tarde das antigas.


Sommers capricha nas cenas de ação, muito bem coreografadas e editadas, além de manter sua habilidade em explorar os detalhes da direção de arte e na aplicação de efeitos especiais competentes. Todavia, a grande novidade deste segundo capítulo acaba sendo também sua principal falha. Narrativamente, a inserção do Escorpião Rei é bem-vinda, sendo alvo de O'Connell, mas também do próprio vilão Imhotep que deseja destruí-lo para poder ficar com seu poderoso exército. Por outro lado, visualmente o personagem destoa completamente no conjunto, parecendo uma figura oriunda de algum jogo de videogame capenga. Híbrido de humano e de um escorpião gigante, o preço pago por sua ambição, boa parte da computação gráfica foi empregada na construção deste vilão cujo intérprete, então inexperiente e tendo a seu favor apenas a cara de mal, só aparece em carne e osso durante o prólogo que conta sua história brevemente (uma subfranquia foi gerada para narrar suas aventuras). O personagem retorna no clímax já com sua metamorfose e totalmente digitalizado, visando que o rótulo de tosco passasse longe da produção. Descartaram fantasiar Johnson pela metade e preferiram capturar seus movimentos e contar com a tecnologia para que ninguém dissesse que o Escorpião Rei é menos real que os demais personagens, mas não adiantou muito. A diferença é gritante, mas nada que atrapalhe a diversão até porque a aberração fica poucos minutos em cena.

Realismo não é o que procura quem se põe a assistir a algo assumidamente escapista, tanto que a própria produção faz questão de não se levar a sério e distribui nos diálogos frases de autoparódia como se dissesse ao espectador estamos lhe oferecendo mais do mesmo. E de fato é isso mesmo. Sommers, também autor do roteiro, reedita diversos momentos que funcionaram no primeiro filme, como a cena da tempestade de areia transformada agora em uma gigantesca onda de água que persegue os heróis. Se outrora Evelyn conseguiu derrubar uma sequência de pesadas prateleiras lotadas de livros, seu filho não nega o sangue e logo na primeira aparição manda ao chão várias colunas de uma ruína. E se o clímax da aventura anterior envolvia a leitura do Livro dos Mortos, a continuação vai pelo mesmo caminho com sutis diferenças. Sem complexidades e oferecendo uma montanha-russa de emoções, O Retorno da Múmia cumpre o que promete e consegue ser tão bom quanto o original, algo difícil de acontecer visto que sequências tendem a perder pontos pela diminuição do fator surpresa. Já conhecemos os personagens principais, a ambientação, o ritmo da narrativa, mas sempre há uma carta na manga para atrair novos olhares, até mesmo para manter a equipe motivada. Sem precisar explicar muito sobre mitologia, Sommers vai direto ao que interessa e oferece uma sucessão de cenas com altas doses de adrenalina, perseguições, tiroteios e batalhas. Um legítimo filme-pipoca com todos os clichês possíveis, mas muito bem alinhavados à proposta.


Visto com anos de distância, é certo que Johnson foi a grande surpresa da produção, não pela atuação em si, mas pela trajetória de sucesso que então se iniciava para o ex-astro de luta livre. Entretanto, na época chamava mais a atenção o trabalho de Boath que tinha tudo para seguir carreira. Carismático e natural, o garoto deve ter assistido centenas de vezes a primeira aventura  para conseguir reproduzir na medida certa em Alex o senso de aventura, coragem e sarcasmo herdado do papai. Fraser amadurece o perfil de seu herói com aspirações a Indiana Jones, destemido e corajoso, mas com senso de humor aflorado e cheio de sarcasmo a destilar, principalmente para cima do cunhado, mais uma vez com seu intérprete Hannah detentor das melhores tiradas cômicas. E é claro que há romance, afinal mesmo casados fica no ar um clima de flerte entre o protagonista e a personagem de Weisz, esta que serve como um bem-vindo respiro em meio a um elenco predominantemente masculino. Aliás, o grande trunfo da produção é o entrosamento dos atores que claramente se divertiram ao longo das filmagens, assim as boas vibrações parecem contagiar ainda mais o público que, embriagado pelo prazer, deixa passar despercebidos certos equívocos. O resultado foi um estrondoso sucesso que superou os já positivos rendimentos do primeiro filme e que inevitavelmente abriria caminho para mais um capítulo da saga dos O'Connell.

Aventura - 129 min - 2001

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