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NOTA 6,5 Apesar do ritmo irregular e do jeitão de especial de TV, longa entretém e se apoia no talento e carisma das protagonistas |
O termo tragicomédia cai como uma
luva à esta produção que busca incessantemente o equilíbrio entre o humor
escrachado e a emoção. Em um momento você pode estar gargalhando e rapidamente
ficar com os olhos marejando de lágrimas, isso sem falar no incômodo nó na
garganta que alguns devem sentir pela identificação com o motim do reencontro
das protagonistas. O principal problema da divisão de bens é um antigo
apartamento da falecida que está prestes a ser vendido a preço de banana,
porém, para Selma o imóvel tem um grande valor sentimental e está emperrando as
negociações. Quantas brigas e até tragédias em família já aconteceram por
motivos semelhantes? O longa felizmente não descamba para o dramalhão e procura
manter o astral em alta convidando o expectador a mergulhar nas memórias
afetivas do quarteto de damas. Mesmo assim, não faltam discussões por causa de
assuntos mal resolvidos do passado, intrigas e pelas opções de vida que cada
uma fez. Em seu formato teatral o enredo se beneficiava do humor politicamente
correto e tocava a plateia com boa dose de melancolia. O filme tenta manter a
fórmula, mas acaba engessado no padrão Globo de qualidade e não podia ser
diferente afinal é graças aos investimentos da emissora carioca que o longa
tornou-se realidade. Por outro lado, também é compreensível a reclamação de
alguns quanto a sensação de que assistir a esta produção é como acompanhar um
capítulo de novela ou o episódio de algum seriado global. Daniel Filho, um dos
mais famosos e respeitados diretores da televisão brasileira, voltava a fazer
cinema após quase duas décadas de jejum. Com este filme daria início a uma
galeria de sucessos, entre eles o estrondoso sucesso e Se Eu Fosse Você e sua continuação, todos seguindo uma mesma
fórmula: muitas referências ao mundo televisivo, narrativa e edição rápidas,
elenco principal compacto e o humor para escamotear mensagens edificantes. O
resultado é um eficiente filme com cara de especial de fim de ano, o que para
alguns soa como uma depreciação.
Realmente, o longa não é
redondinho, tem os seus defeitos. Para rechear cerca de uma hora e meia, o
roteiro abandona a agilidade do texto original e dilui os momentos de humor e
dramaticidade em meio a subtramas paralelas desnecessárias. Evitando a
claustrofobia de manter toda a ação dentro do tal apartamento da discórdia, a
trama de Falabella, atualizada em parceria com o próprio Filho, o futuro autor
de novelas João Emanuel Carneiro e o americano Mark Haskell Smith, apresenta
coadjuvantes apenas citados na versão teatral, como um marido linha dura, um
jovem revoltado com o descaso da mãe, uma lésbica a fim de viver um amor
sólido, uma adolescente grávida, um corretor de imóveis metido a galã e até uma
idosa babá cuja presença se justifica apenas como um ato de caridade. Todavia,
tais personagens desaparecem diante do quarteto principal sendo até uma ofensa
tentar apontar qual delas se sai melhor, até porque o entrosamento entre as
atrizes era peça-chave para que o filme desse certo. Entretanto, Glória Pires
tem um pouco mais de destaque, pois além de sua personagem ser o eixo de toda a
ação ela também destoa pela seriedade com que encara a vida. Da mesma forma
Laura vive seu cotidiano, mas seu romance homossexual em nada acrescenta para
destacar a interpretação de Paloma Duarte. Já na pele de uma ensandecida
dondoca Lilia Cabral pode parecer caricata em alguns momentos, mas aproveitou
bem a chance para mostrar seus talentos cômicos. Por fim, Andréa Beltrão nem
precisou se esforçar muito para viver uma hiponga, pois a própria já nos passa
a impressão de ser despachada tal qual sua Regina. Sem ousadia de espécie
alguma, Filho conduz seu trabalho simplesmente apostando suas fichas no talento
e carisma das protagonistas. Com direito a um momento nostalgia ao som de
“Dancin Days”, A Partilha cumpre o que promete oferecendo diversão ligeira e
indolor. Esqueça as opiniões dos críticos especializados e da turminha
anti-global e dê o braço a torcer. Este filme diverte muito mais que muita
comediazinha boba americana que sabe-se lá como fazem sucesso. Deixe o
preconceito de lado e partilhe seu tempo com o cinema nacional.
Comédia - 93 min - 2001
Um comentário:
a partilha é uma graça de filme, vale ser visto com certeza!
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