terça-feira, 4 de maio de 2021

AS DUAS FACES DA LEI


Nota 3 Encontro de dois grandes astros revela-se frustrante com trama previsível e sem atrativos


O sonho de qualquer diretor e o grande atrativo para o público é ver grandes estrelas em cena e quando é possível reunir dois ícones do cinema o entusiasmo é ainda maior. Al Pacino e Robert De Niro já dividiram os créditos de um mesmo filme em duas ocasiões, mas em ambas o encontro decepcionou. Não que as produções fossem ruins, muito pelo contrário, mas a decepção fica por conta de um embate que não aconteceu. Na década de 1970, em O Poderoso Chefão - Parte II, eles estavam dando ainda os primeiros passos na carreira, mas seus talentos para as artes dramáticas já eram notados. Infelizmente, não chegaram a fazer uma cena sequer juntos. Já em 1995, foi anunciado finalmente o grande encontro dos dois super astros em um longa de estilo policial, porém, foi uma propaganda enganosa. Vivendo antagonistas em Fogo Contra Fogo, pouco contracenaram. Bem, enquanto se está vivo tudo pode acontecer e eis que surge o roteiro de As Duas Faces da Lei, a grande chance dos dois atores formarem uma dupla de verdade, daquelas que se tornariam inesquecíveis. Contudo, mais uma vez o resultado foi decepcionante e o vilão é a própria história. 

Desde a concepção inicial do projeto já haviam incertezas quanto ao sucesso. A história é até razoável, mas não está a altura de seus protagonistas que mereciam algo bem melhor para os reunir já na maturidade. Na época, eles já estavam há tempos em um patamar de suas carreiras muito confortável e não precisavam aceitar qualquer tipo de convite. Não há dúvidas de que a ideia de finalmente dividirem quase todas as cenas de um filme os seduziu, mas o mesmo não ocorreu com os espectadores que não deram bola para o longa. Se não fosse o nome de dois astros estampando o material publicitário, provavelmente nem teria chegado aos cinemas e poderia até mesmo ter sido lançado como um telefilme qualquer para preencher a madrugada dos insones. O enredo é o seguinte: após trinta anos como parceiros no Departamento de Polícia de Nova York, os condecorados detetives David Fisk (Al Pacino) e Thomas Cowan (Robert De Niro) deveriam já estar curtindo a merecida aposentadoria, mas eles preferem continuar trabalhando. A dupla é chamada para investigar o assassinato de um conhecido cafetão que parece ter ligação com um caso resolvido por eles mesmos há alguns anos. Assim como no crime original, a vítima é um criminoso cujo corpo foi encontrado junto a um poema que justifica o assassinato. 


Quando outros crimes com características semelhantes acontecem, fica nítido que eles estão lidando com um serial killer, um psicopata que acredita por algum motivo estar incubido da missão de liquidar bandidos e limpar as ruas dos crimes, algo que nem a polícia consegue fazer. As semelhanças entre as mortes recentes e o caso anterior trazem à tona a hipótese de que os detetives podem ter prendido o homem errado na ocasião. Com um argumento promissor em mãos, o roteirista Russell Gewirtz poderia promover a discussão sobre como agir com aqueles que tentam fazer justiça com as próprias mãos contra aqueles que cometem crimes e atrocidades diariamente e ficam impunes. Quais as razões que levam esse homem a caçar criminosos e se livrar deles se até a polícia evita sujar as mãos de sangue e opta em deixar essas pessoas apenas encarceradas por algum tempo como forma de punição? O roteiro poderia explorar bem mais o passado do misterioso assassino por meio de pistas, cartas ou qualquer outro artifício que ainda segurasse a aura de suspense da trama, mas o caminho seguido é batido. Então os velhos e conhecidos conflitos entre duas pessoas completamente diferentes envolvidas na resolução de um  mesmo caso entram em cena. 

Mesmo quem curte suspenses policiais poderá se entediar. A tão esperada reviravolta ou montagem do quebra-cabeças que deve fazer parte de qualquer produto do gênero dá para se antever bem antes de ser despejada na tela. Como a maior parte das produções deste estilo, o submundo do crime é apresentado com todos os clichês possíveis e as atuações deixam a desejar. Pacino e De Niro apresentam um trabalho apenas correto, qualquer ator de menos prestígio poderia interpretar seus personagens, mas não deixa de ser prazeroso ver os dois atuando juntos. O problema é que não bastam bons atores, uma boa trama é essencial para segurar as pontas. O roteiro até lança mão de algumas trucagens para confundir o espectador e esconder a solução do mistério que é a espinha dorsal do longa, mas não adianta, tudo fica esclarecido em poucos minutos. Além disso, os personagens não são bem desenvolvidos, o que evita a identificação com o espectador. A consequência disso é que a trama se torna tediosa e a atenção de quem assiste se dispersa facilmente. 


Curioso que a direção é de Jon Avnet, que até hoje consegue emocionar muita gente com o cultuado drama Tomates Verdes e Fritos, o que indica que trabalhar o emocional, a personalidade e as relações de seus personagens deveriam ser requisitos básicos em sua filmografia, mas basta ver 88 Minutos, outro trabalho que assina e é protagonizado por Pacino, para ver que se ele tirou alguma lição de sua obra mais famosa ele esqueceu com o passar dos anos. O diretor acaba se entregando a situações manjadas como conflitos entre os detetives mais velhos e os mais novos ou cai no velho e ridículo recurso do vilão fazer sua confissão quando está com o mocinho sob seu controle. Para os espectadores fica a sensação amarga da frustração. O tão proclamado encontro explosivo de dois grandes ícones do cinema hollywoodiano se resume a uma baboseira sem brilho algum e tampouco personalidade. As Duas Faces da Lei no final das contas se mostra tão genérico quanto seu título. 

Suspense - 100 min - 2008 

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2 comentários:

renatocinema disse...

Disse tudo: "mediano". Nada mais, nem menos. Uma pena.

Rafael W. disse...

Até gostei. É bem óbvio e clichê, mas dá pra entreter.

http://cinelupinha.blogspot.com/