segunda-feira, 3 de maio de 2021

O TERMINAL


Nota 7 Obra inteligente derrapa ao ultrapassar o tempo necessário para narrar uma história simples


Um aeroporto é um local por onde passam centenas de pessoas todos os dias, das mais diferentes culturas e países. Muitos acabam vivendo mais na ponte aérea do que em suas próprias casas e justamente pensando nisso o diretor Steven Spielberg se inspirou para realizar O Terminal, que por mais incrível que pareça é baseado no caso real de um iraniano impedido de voltar ao seu país e que foi obrigado a viver por mais de quinze anos nas dependências de um aeroporto na França. O cineasta voltou a se unir a Tom Hanks, com quem já havia trabalhado em O Resgate do Soldado Ryan e Prenda-me Se For Capaz, para uma produção que deseja levar o público às lágrimas, mas escamoteia o roteiro com pitadas sutis e deliciosas de humor. Mesmo assim, é preciso advertir que o longa sofre com um ritmo desequilibrado e uma duração excessiva, dessa forma a primeira hora realmente entretém, é bem divertida e muito criativa, mas a segunda decepciona pela sua lentidão, excesso de drama e clichês e conclusões que deixam a desejar. 

Viktor Navorski (Hanks) é um cidadão da Europa Oriental, mais especificamente da Krakozhia (país fictício), que viaja rumo a Nova York justamente quando sua pátria sofre um golpe de estado, o que faz com que seu passaporte fique inválido. Ao chegar no aeroporto, ele não consegue autorização para entrar nos EUA, mas não compreende o porquê. Por outro lado, ele também fica impossibilitado de retornar à sua terra natal, já que as fronteiras foram fechadas após o golpe e o governo americano não reconhece a atual situação política do país em conflito. Conforme informado pelo oficial de segurança Frank Dixon (Stanley Tucci), Navorski não pode ser considerado um turista e tampouco um refugiado político, simplesmente ele é um indigente enquanto não tiver um documento pessoal válido. Sem poder se instalar em solo americano e nem retornar para sua casa, ele é obrigado a ficar esperando a liberação de seu passaporte dentro das dependências do aeroporto e assim passa muitos dias e noites descobrindo o complexo mundo do terminal que aparentemente é um microcosmo, mas pode ser tão grande quanto uma agitada metrópole. Ele aprende como conseguir algum dinheiro para se sustentar, prova comidas que para seu paladar são exóticas, faz amizades com alguns funcionários, serve de cupido para unir dois jovens e até se apaixona por Amelia (Catherine Zeta-Jones), uma aeromoça acostumada a viver romances conturbados. 


Com roteiro de Sacha Gervasi e Jeff Nathanson, o filme tem um ponto de partida bem divertido mesmo repetindo situações previsíveis. Todos já acompanhamos ao menos uma vez na vida o velho recurso narrativo do estrangeiro que tenta se adaptar a um novo lugar, anda para tudo quanto é lado com olhos arregalados de curiosidade e sempre sorri mesmo quando está sendo humilhado ou recebendo alguma notícia ruim pelo simples motivo de não compreender o idioma local. Mas todos esses truques manjados acabam ganhando um ar de novidade graças ao talento de Hanks fazendo uso de uma linguagem bastante peculiar. Apesar de seus esforços, não escapou de críticas negativas que apontaram seu sotaque exagerado e sua criação um tanto caricatural. Apesar dos diálogos inteligentes e algumas situações bem inseridas e desenvolvidas, não deixa de ser incômodo o ar ingênuo que o ator adotou para o personagem, mas nada que atrapalhe o andamento da trama, pelo menos até a metade. O segundo ato, como já dito, é insatisfatório, com muitas arestas a serem aparadas, humor praticamente nulo, furos de roteiro, explicações para alguns fatos pouco convincentes e uma narrativa arrastada. O que se salva é o romance do protagonista com uma bela aeromoça e os esforços dos coadjuvantes em fazer graça, como o simpático Enrique (Diego Luna), um dos funcionários do terminal. Pelo menos a conclusão de tudo é satisfatória e atende as expectativas do público.

A reprodução de um grande saguão de aeroporto é um dos pontos altos do produção. Quase como um shopping center, o local oferece de tudo para propiciar o máximo de conforto aos seus frequentadores e o protagonista pouco a pouco vai desfrutando dos diversos serviços e conhecendo a engenharia e as bases que mantêm o lugar. O espectador acaba passeando junto com Navorski por esse mundo a parte que durante o dia é fervilhante e a noite é quase que um paraíso de calmaria. Talvez só mesmo no filme para um aeroporto americano ser tão calmo de madrugada, se fosse no Brasil então nem se fala. Com tudo que foi dito até agora pode até parecer que O Terminal é um filme ruim, mas isso não é mesmo. A premissa realmente é bem interessante, mas a forma de condução adotada para a narrativa trabalha contra o próprio produto. Além da divisão bem marcada da substituição de ritmo, a edição poderia ter sido mais econômica, assim reduzindo o tempo de arte final e evitando que a atenção do espectador se dispersasse tantas vezes. Outro ponto que muitos criticam é que não parece um filme de Spielberg, mas todos merecem um momento de relaxamento e o cineasta, entre um arrasa-quarteirão e outro, costuma assumir projetos menores. É uma forma de descansar sem deixar de trabalhar, mas um projeto leve do diretor é algo que o público não está acostumado. 


O conjunto, não sendo muito crítico, é sem dúvidas um filme agradável e que garante boas horas de diversão com um enredo leve que entretém a todas as idade, afinal de contas é uma obra assumidamente descompromissada e é assim que o espectador deve encarar. Puro escapismo com algumas alfinetadas ao xenofobismo americano. Falando nisso, uma questão fica sem resposta até hoje: se a tal Krakozhia estava passando por momentos complicados, por que somente um representante do tal país estava tentando entrar na terra dos ianques? Se enveredasse pelo lado dramático e explorasse a ideia da terra do tio Sam servir como refúgio a estrangeiros talvez as pessoas reconhecessem o trabalho como um legítimo Spielberg.

Comédia - 129 min - 2004 

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3 comentários:

Rafael W. disse...

Gosto bastante deste filme. Apela um pouco para o melodrama, mas diverte e emociona.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Rodrigo Mendes disse...

Um ótimo divertimento de Spielberg depois de outra fita igualmente divertida Prenda-me se for Capaz.
Tom Hanks soberbo aqui.

Abs.
Rodrigo
http://cinemarodrigo.blogspot.com/

Marcos Rosa disse...

òtimo filme, Boa sintonia entre Spielberg e Hanks. Como vc disse, é bom variar um pouco entre um arrasa-quarteirão e outro.


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http://algunsfilmes.blogspot.com/