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NOTA 6,0 Reunindo clichês de diversos longas de horror e suspense e revelando segredos logo no início, obra se sustenta por sua atmosfera |
Embora quando
pensamos em cinema de terror logo nos vem a cabeça a palavra Hollywood, é certo
que nos último anos as produções americanas do gênero têm deixado a desejar. Em
contrapartida, países europeus, costumeiros cenários para tramas de horror e
suspense, têm despontado como grandes produtores de sustos. Todavia, para cada
obra original que surge, pelo menos mais umas três comuns também são lançadas,
como é o caso de A Sétima Vítima, do diretor Jaume Balagueró. Coproduzido entre
os EUA e a Espanha, seu trabalho é uma reunião de clichês (casa afastada de
tudo e com problemas de energia elétrica, noites chuvosas, vultos à espreita
por todos os cantos, uma criança com poder mediúnico, um adulto com problemas
psicológicos), mas de certa forma ainda consegue prender o espectador caprichando
no visual e com uma narrativa envolvente, ainda que um tanto previsível. A
trama roteirizada pelo próprio cineasta em parceria com Fernando de Felipe
começa com um pequeno prólogo que já entrega um pouco do mistério, embora sem
grandes detalhes visuais. Além de choros e lamentos, ouvimos a conversa entre
um policial e uma criança, esta que parece nervosa e dizendo coisas desconexas,
mas deixando evidente seu temor do escuro. Rapidamente o longa dá um salto de
quatro décadas e a primeira imagem destacada é a de um antigo casarão no meio
do nada. Para quem já assistiu três ou quatro filmes a respeito de casas
assombradas, não há expectativas quanto ao enredo. É óbvio que tal residência
foi palco de episódios macabros no passado e que a energia negativa instalada
vai influenciar no cotidiano dos novos habitantes, no caso o dia-a-dia da
família de Mark (Iain Glen), que se muda dos EUA para a Espanha junto com a
esposa Maria (Lena Olin – atuando sem motivação alguma) e seus filhos, a
adolescente Regina (Anna Paquin) e o pequeno Paul (Stephen Enquist). Não é
estragar surpresa alguma dizer que esse pai de família é o tal sobrevivente do
episódio mal explicado do passado, investigação que a própria polícia na época
tratou de abandonar. Afinal de contas o que levaria uma pessoa em sã
consciência decidir ir viver em uma casa que só pode lhe trazer péssimas
lembranças? O problema é que Mark não está com sua saúde mental em perfeito
estado e o motivo da mudança de país é justamente para que a família possa
recomeçar do zero após um episódio triste, fato que não é esmiuçado, mas fica
subentendido que os constantes surtos deste homem trouxeram consequências para
todos que o cercam.
Desde o
primeiro dia na nova casa, que não era habitada desde o macabro episódio que a
marcou, fatos estranhos passam a ocorrerem, todos conhecidíssimos pelos
aficionados do gênero. Constantemente as luzes falham ou a escuridão total
predomina, a presença de pessoas estranhas é perceptível, Paul começa a fazer
desenhos de crianças que diz que o perseguem e Mark volta a ter recaídas de sua
doença mental, apresentando comportamento agressivo de uma hora para a outra ou
tendo convulsões assustadoras. Regina tem a sensibilidade aflorada e consegue
perceber que tais problemas estão ligados à residência, mas sua mãe não liga
para superstições do tipo, nem mesmo quando seu filho começa a apresentar
sinais de agressão pelo corpo sem motivos aparentes. A garota tenta alertar
Albert (Giancarlo Giannini), seu avô paterno, sobre os acontecimentos
estranhos, mas ele a tranquiliza alegando que são problemas passageiros de
adaptação a uma nova realidade. Aliás, ele próprio é o médico do filho e quem o
aconselhou a fazer a mudança, pois sua doença mental pode ser fruto de traumas
da infância que precisam ser vencidos encarando-os de frente. Se para bom
entendedor meia palavra basta, para um cinéfilo de horror esperto a trama está
toda resolvida até este ponto, mas ainda é preciso rechear cerca de uma hora de
projeção então vamos lá. Regina vê certa noite, banhada por uma forte chuva
para variar, um estranho homem parado próximo a sua casa observando-a.
Assustada, ela recorre a ajuda de Carlos (Fele Martínez), seu namorado secreto.
O rapaz investiga os detalhes da documentação da residência e descobre que os
nomes dos envolvidos na venda, como do corretor e de um advogado, não existem e
não há nem mesmo registros a respeito dos primeiros donos do imóvel, apenas o
nome e o endereço do arquiteto são verdadeiros. O casal o procura e é óbvio que
ele é o tal homem misterioso flagrado observando a casa (pasmem, estava uma
escuridão total, mas a adolescente o reconhece sem sombras de dúvida).
Villalobos (Fermí Reixach) revela detalhes importantes como o fato de ter
construído a casa apenas obedecendo as ordens dadas à distância, que seguiu um
padrão estético semelhante ao usado em templos antigos e que ficou obcecado em
proteger e estudar a construção tentando encontrar ligações entre seu estilo
visual e os propósitos de seus donos originais.
Uma criança
sobrevivente e vivendo o resto de sua vida sob a pressão de danos psicológicos.
Casa construída baseada em modelos arquitetônicos para abrigar cultos
religiosos e afins, Jornais de quarenta anos atrás destacando que seis crianças
foram sequestradas, mas pedidos de resgate não foram feitos ou até mesmo seus
corpos jamais foram encontrados. A polícia ignorou tais casos, pois
provavelmente os próprios familiares dos desaparecidos não prestaram queixa.
Para completar a receita bem mastigadinha, o título A Sétima Vítima? Fica
claro que Mark foi atraído a voltar à sua antiga residência para que um ritual
satânico fosse completado. Ou desta vez seria o pequeno Paul a bola da vez? É
sustentando-se na dúvida se o pai ou o filho será sacrificado que o longa de
Balagueró consegue prender o espectador. Apesar de tudo o que foi exposto ser
sinônimo de tiro no pé para esse tipo de produção, afinal enrolar a platéia até
os últimos minutos para a revelação de um final surpresa ou supostamente
impactante é o grande charme, este filme se beneficia do excesso de clichês
como se a grande diversão fosse o espectador caçar referências a outros
títulos. Aqui temos elementos de Os
Outros, A Espinha do Diabo, O Iluminado, Terror em Amtivylle e tantos
outros. Com essa colcha de retalhos, o cineasta consegue fisgar a atenção e
escamotear as falhas do roteiro. Quem vai ligar, pelo menos instantaneamente,
que as grandes revelações do longa são dadas logo nos primeiros minutos, que o
tal ritual macabro não tem um porquê convincente ou ainda que apesar da trama se
passar em território espanhol, ninguém fala o idioma local e até os jornais são
publicados em inglês quando estamos tomados pela adrenalina e tensão propostos
por cenas como a que Mark surta enquanto corta alimentos ou as sequências em
que a câmera desliza pelos cenários para mostrar que espíritos infantis
observam bem de perto o cotidiano dos
personagens? No original “Darkness” (Escuridão), o longa pouco se aprofunda a
respeito do medo da escuridão, não espere um estudo psicológico, mas se deseja
bons sustos aproveite. Com fotografia que explora detalhes do cenário, edição
que respeita a lentidão e a rapidez necessárias para cada sequência e efeitos
sonoros que potencializam o clima de tensão, este é um passatempo de qualidade
razoável e que cumpre seus objetivos com folga. Se você assistir e achar a
previsibilidade uma afronta a sua inteligência, pense no seguinte: o longa é de
2002 e se analisarmos a lista de obras de horror e suspense que foram lançadas
nos anos seguintes é impressionante a constatação de que pouquíssimo se criou
desde então, mas em compensação as cópias e as “homenagens” surgiram aos
montes.
Terror - 98 min - 2002
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