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NOTA 9,0 Apesar de forçar a emoção de todas as maneiras possíveis, através do drama de uma família filme coloca o espectador como personagem onipresente de uma tragédia |
A família protagonista consegue
sobreviver, mas é forçosamente separada. Através de situações paralelas o
espectador acompanha os passos de cada membro na luta para se manterem vivos em
meio a um cenário caótico e vivendo o drama de não saberem se um dia ainda
poderão estar todos juntos novamente. Indo literalmente fundo na emoção, Bayona
constrói uma obra repleta de sentimentalismo e por vezes até exagera no
dramalhão apostando nos vários encontros e desencontros dos personagens. Em
momentos de dor e desespero a vida encontra caminhos para provar que nada é
impossível e o roteiro do próprio cineasta em parceria com Sergio G. Sánchez
serve-se ao máximo das coincidências a favor da emoção. O pano de fundo da
trama poderia sugerir um típico filme-catástrofe, com sequências de destruição
arrasadoras como clímax e um longo prólogo para nos envolvermos com os
personagens e sofremos junto com eles. Bayona faz o caminho contrário. Logo no
início apresenta o tsunami de forma rápida e sucinta, mas sem deixar de lado o
impacto visual, para depois concentrar-se nas suas consequências. O diretor
Clint Eastwood já havia feito algo semelhante em Além da Vida, mas seu colega catalão vai mais a fundo na exploração
do episódio conseguindo um realismo surpreendente não só na apresentação do
acidente em si, mas também na reconstrução do cenário desolador que deixou. Se
o filme tivesse sido lançado até três anos depois dos acontecimentos reais
poderíamos até duvidar se as filmagens não teriam sido feitas aproveitando o
próprio local da tragédia. Aliás, boa parte dos figurantes são sobreviventes
reais e cujas experiências ajudaram o elenco a reforçar suas atuações com
detalhes que só quem vivenciou a catástrofe poderia descrever. Bayona e Sánchez
mostram-se tão impressionados com o material que tinham em mãos e dispostos a
abordar o máximo possível de detalhes que o resultado acaba se distanciando um
pouco do que se espera da adaptação de relatos reais. Os esforços acabam
ganhando ares de espetáculo com a busca incessante por momentos de êxtase
emocional. Quanto mais o espectador fica com o coração apertado e a sensação de
nó na garganta aumenta melhor e é quase possível se sentir como um personagem
onipresente, porém, de mãos atadas para ajudar.
Se em O Orfanato ficou evidente que Bayona sabe tirar o melhor proveito
da cenografia, iluminação e fotografia, em seu trabalho seguinte, além de
acentuar tais características, ressalta também sua vocação para manipular
emoções. Se o roteiro em si já não fosse o suficiente para levar qualquer um às
lágrimas, o diretor ainda usa e abusa dos recursos técnicos a favor da emoção.
A trilha sonora melosa é encaixada de forma aguda para evidenciar momentos de
tristeza, compaixão ou alívio e é dispensada em partes estratégicas para
destacar sons ambientes como respirações ofegantes, a correnteza da água
repleta de destroços e corpos ou o estalar de galhos de plantas quando
pisoteados ou penetrando nas feridas das pessoas. Completam o clima de agonia
os gemidos e choros, principalmente das crianças alheias à gravidade da
situação. Ou melhor, uma delas não está por fora. Apesar da pouca idade, é
Holland quem rouba a cena com a determinação de seu personagem em reunir a
família, mas ao mesmo tempo se dedicando a um pedido de sua mãe que implora
para que ele ajude outros enfermos a encontrar seus parentes ou amigos. O
espírito de solidariedade é ressaltado em sua interpretação pura e sincera,
ainda que se mostre uma criança racional demais diante de um episódio tão
traumático e que colocaria em xeque como os sobreviventes dariam continuidade
às suas vidas. De qualquer forma, o garoto é carismático e se mostra tão
autentico quanto Watts, com quem divide a maior parte das cenas ambos se
alternando entre razão e (muito mais) emoção. A bela loira, merecidamente
indicada ao Oscar, tinha a difícil missão de não só expor feridas físicas,
diga-se de passagem, machucados profundos muito bem delineados pela equipe de
maquiagem, mas principalmente deixar latente que qualquer corte ou luxação não
seriam tão dolorosos quanto as feridas emocionais que ficaram. Fisicamente
menos atingido, McGregor também consegue transmitir desespero e tristeza reais,
como na cena em que por meio de um telefonema a um parente cai no choro quando
percebe as chances de reunir sua família são remotas, ainda que tenha tido a
sorte de reencontrar ao menos dois filhos que lhe fazem companhia na
peregrinação para encontrar os demais membros do clã. Apesar do final que
reforça a ideia de quem tem dinheiro tem mais chances de passar por cima das
adversidades, O Impossível cumpre o que
promete e desperta a curiosidade de conhecermos as histórias de outros
sobreviventes. Pena que o contato dos protagonistas com demais vítimas seja
restrito, opção que acaba deixando o filme ainda mais claustrofóbico do que seu
argumento indica.
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