Nota 6,5 Ironias e críticas são destiladas enquanto uma série de mal entendidos é desenvolvida

Baseado no livro de Oscar Wilde
“Lady Windermere’s Fan”, que em 1949 já havia sido transformado no filme O Leque de Lady Windermere, o roteiro de Howard Himelstein é envolvente e tem um
bom gancho de virada, a certa altura o que compreendemos até então passa a ter
uma outra dinâmica graças a um segredo revelado, mas a grande diversão é ver o
jogo de intrigas que envolve pessoas de renome da aristocracia que deixam a
fineza de lado constantemente para fofocar ou sem medo de repreensões ou causar
mágoas destilar seus venenos em frases em tom de críticas ou irônicas. Mostrar
outro lado da nobreza através de um grupo farto de personagens é uma
característica dos escritos de Wilde e um desafio para os diretores que desejam
transportar seu universo literário para o cinematográfico, como no caso de O Marido Ideal ou Armadilhas do Amor, por exemplo. O excesso de pessoas nas tramas e
o linguajar rebuscado tende a confundir ou até mesmo entediar o espectador. Todavia,
o longa do diretor Mike Barker consegue um resultado bastante satisfatório talvez
justamente por falar de temas um tanto atuais como traição, se dar bem à custa
dos outros e falsidade. Ver estes temas pertinentes com requintes de produção
torna o programa sem dúvida mais prazeroso e o cineasta caprichou no visual de
seu trabalho apostando em uma belíssima fotografia, direção de arte e figurinos
de encher os olhos e um trabalho de iluminação “ensolarada” que imprime certo
positivismo a uma trama que no fundo tinha tudo para ser um verdadeiro
dramalhão. Contudo, felizmente a opção de manter o espírito crítico do texto
original eleva a obra a outro patamar, mas para apreciá-la é preciso prestar
atenção já que o humor refinado é oferecido nas entrelinhas e as vezes é tão
sutil ou inserido com tanta naturalidade que não é raro encontrar quem diga que
não viu nada de especial neste filme. Falsária é o tipo de produção que
você não dá muita bola, mas que pode te surpreender a começar, como já dito,
com a inversão de papéis de Helen e Scarlett. É muito bom ver uma atriz então
ainda em início de carreira tentando escapar do rótulo que involuntariamente
acabou ajudando a criar para si mesma mesmo com um currículo pequeno (a mulher
fatal), mas muito mais satisfatório é ver uma atriz mais velha e cuja carreira
estava em declínio, queda curiosamente percebida após conquistar um Oscar,
interpretando um papel perfeito para sua faixa etária e que utiliza seus
predicados tanto negativos quanto positivos, mesmo que em uma produção
infelizmente de pouca repercussão. Uma pequena obra, mas de grande qualidade, a
ser descoberta.
Drama - 93 min - 2003
Drama - 93 min - 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário