NOTA 8,0 História verídica é contada de maneira inovadora e apostando na valorização dos recursos técnicos |
Baseado
em fatos reais. Uma história forte e comovente. Um exemplo de coragem e
superação. Esqueça quaisquer preconceitos em relação as produções inspiradas em
fatos verídicos quando o assunto for 127 Horas, um pequeno drama que caminhou a passos largos rumo ao sucesso e
chegou a concorrer aos principais prêmios da temporada 2011, inclusive o Oscar.
Tamanha exposição aguçou a curiosidade de muita gente, mas certamente muitos se
decepcionaram com o que viram. Vendido como o filme do cara que fica o tempo
todo sozinho em meio a uma situação limite (quem nunca ouviu tal definição?),
muitos também devem ter se desanimado e nem chegaram a assistir. Bem, como
sempre dito neste blog, é o recheio que faz um bom filme e neste caso ele é
servido de forma bem diferenciada e que em nada lembra as tradicionais
produções que envolvem histórias de superação. Antes de qualquer coisa vamos ao
enredo. Aron
Ralston (James Franco) sempre foi apaixonado por atividades radicais e ao ar
livre. No início de 2003, quando fazia uma escalada em uma região montanhosa e
desértica em Utah, nos EUA, por um descuido acaba pisando em falso e cai em uma
fenda existente entre grandes rochedos. Sem ninguém por perto e para piorar com
uma rocha prendendo um de seus braços contra a parede do desfiladeiro, Ralston
precisou usar o que tinha em sua mochila para conseguir escapar. Quanto mais raspava
a pedra, mais parecia que ela esmagava seu membro. As horas passam
vagarosamente e sem ter como comunicar a alguém o seu paradeiro e contando com
pouca água e apenas algumas bugigangas, a morte parece eminente e o aventureiro
passa a fazer uma espécie de diário dos seus últimos momentos de vida com o
auxílio de uma câmera de vídeo. Com ela o rapaz registra pensamentos,
lembranças e delírios como forma de criar um registro para quem encontrasse o
aparelho desta que parecia ser sua última aventura entregasse a seus familiares
como uma recordação. Entre memórias de bons momentos com a família e amigos, situações
de desespero e até devaneios acerca de um futuro incerto, a narrativa dedica-se
praticamente do início ao fim a capturar tais reações psicológicas que
perduraram por mais de cinco dias.
Pela
sinopse este filme parece ser uma tremenda viagem sem nexo da qual é impossível
um espectador em sã consciência deixar se envolver, mas quem der um voto de confiança
deve no mínimo classificar o projeto como inovador. A luta do rapaz pela
sobrevivência durante 127 horas se transforma em uma angustiante e admirável
lição de amor à vida, mas ele não saiu ileso da situação. O final típico de
obras baseadas em fatos reais trata de esmiuçar em algumas poucas palavras o
futuro de Ralston, com a diferença de que neste caso o homenageado aparece
feliz da vida e bem disposto para arrematar o pacote. Dizer que o rapaz não
faleceu no tal acidente e não cometeu suicídio após o trauma, conclusões bem
plausíveis, não estraga a surpresa do filme já que essa história verídica
correu o mundo através dos veículos de comunicação e o final feliz era
conhecido. Feliz em partes, afinal amputar o próprio antebraço foi a única
maneira que o aventureiro encontrou para sair daquela enrascada. Como já dito,
o que importa é o recheio e a forma como esta história angustiante e
claustrofóbica é servida ao público e neste quesito o cineasta Danny Boyle
merece aplausos. Após a superexposição que teve com a enxurrada de prêmios que recebeu
por Quem Quer Ser Um Milionário?, é
curiosa sua opção em trabalhar com um roteiro mais intimista, porém, a calmaria
que a premissa denuncia é radicalmente transformada. O universo do protagonista
transcende as barreiras dos rochedos através de sua imaginação. As cores fortes
e a energia de seus pensamentos contrastam com o silêncio e os tons mais
escuros impressos nas sequências mais dramáticas. A excelente fotografia, que
passa ao espectador a dimensão do ambiente solitário, e o frenético jogo de edição,
incluindo múltiplos quadros em uma mesma cena, foram muito bem utilizados e
ajudam a dar certo movimento a obra que poderia facilmente se tornar
desinteressante, apesar que tanta informação junta também não deixa de
dispersar a atenção vez ou outra. Quem segura as pontas é James Franco, um
jovem ator cujo trabalho mais famoso é seu papel de antagonista da trilogia Homem-Aranha. Aqui ele teve a chance de
provar que é sim um bom ator e que pode tocar um filme sozinho, literalmente. Ele
aparece solitário dialogando com sua câmera que faz as vezes do espectador em
praticamente todo o filme dividindo seu espaço apenas com a apurada parte
técnica. Na ausência de personagens coadjuvantes, qualquer som, imagem ou
efeito ganha importância incomum e devem se encaixar perfeitamente à narrativa,
pois não são apenas firulas e sim recursos incondicionais para o entendimento
do enredo e da ação da própria ambientação sobre o psicológico do protagonista.
Até o aparecimento de um urubu chama a atenção reforçando a impressão de
sofrimento de Ralston como se a sua morte fosse eminente.
Um ponto a favor do roteiro é que ele não pretende levar quem
assiste às lágrimas. Se você já acha angustiante assistir aqueles dramas
familiares do tipo desgraça pouca é bobagem, saiba que aqui a sensação de dor é
levada às últimas conseqüências, porém, longe de ser uma nauseante sessão
tortura. O roteiro de Boyle em parceria com Simon Beaufoy, baseado na
autobiografia de Ralston intitulada “Between a Rock and a Hard Place”, reserva
momentos inspirados e até cômicos em meio a adversidade. Por exemplo, enquanto
tenta não se entregar a tristeza, o rapaz começa a rever passagens tolas de sua
vida, como quando comprou sua câmera filmadora, alternadas com lembranças até
irônicas, como o fato de ter deixado uma garrafinha de isotônico dentro do
carro e que tanta falta lhe faz agora. Tais sequências fantasiosas são um
festival de ações de merchandising de marcas famosas no mundo todo, imprimindo
o conceito de que até nas piores horas a mídia não nos abandona, já está
enraizada em nossas vidas e memórias. Aliás, os créditos iniciais em ritmo
alucinante de videoclipe mostrando o agito da população em seu cotidiano já
demonstra o caos da vida moderna. Todos apressados, com celulares sempre em
uso, usufruindo de fast food e trocando rápidas frases uns com os outros. A
música intensa colabora para imprimir adrenalina à sequência. Fora desse
ambiente, mas tão agitado quanto qualquer engravatado locomovendo-se na cidade
grande, surge Ralston montado em sua bike e percorrendo longas distâncias em meio
a natureza. Na hora do apuro, seus pensamentos e vontades se dividem entre o
consumismo e a vaidade e a reflexão e a redenção. Boyle acabou realizando um
trabalho que trafega tranquilamente tanto pelo cinema comercial quanto pelo
alternativo, em uma viagem com várias idas e vindas, mas ainda assim totalmente
compreensível. Claro que a produção divide opiniões e está longe de ser um dos
melhores títulos lançados em 2010. Todavia, 127 Horas não deve ser
tratado de forma alguma como uma produção qualquer. Tem seu valor experimental
tanto no conteúdo quanto esteticamente e deve ser apreciado levando-se em
consideração tais aspectos. Vale a pena viver esta experiência cinematográfica
única e tirar suas próprias conclusões.
4 comentários:
Belo filme que realmente apresenta o que é um drama.
Fotografia espetacular servindo como ponte da angústia do personagem.
Amei esse filme e a atuação de James Franco (ator de quem nem sou tão fã), mas que aqui merece elogios.
Simples mas emocionante. "127 Horas" prova que não é preciso muito para se ter uma boa produção. O longa oferece uma fotografia boa e uma edição envolvente que te leva a refletir desde a grandeza do mundo até a importância de cada pequena escolha. James Franco surpreende e lhe coloca no lugar de "Aron" e principalmente nos extremos das escolhas que ele faz para tentar sobreviver. Uma lição de vida ou morte... imperdível!
Mais uma bela resenha, meu amigo... parabéns!!!
Um grande abraço...
Eu achei o filme muito bom. Muito bem trabalhado, muito bem dirigido, muito bem escrito, muito bem fotografado!!! A trilha sonora é belíssima!!!
Achei digno da indicação ao Oscar, realmente não é melhor que O Discurso do Rei, mas é muito emocionante e angustiante, principalmente na cena principal do filme!!!
Guilherme, com relação à troca de links pra mim tá tudo certo cara, já tô colocando os seus links na barra de blogs aqui do Lente!!!
http://lentecritica.blogspot.com/
james... é lindo e competente como ator, perder pro DISCURSO DO REI, fala sério..., como na vida o Oscar, é priviligiado pelos lobistas..., fazer um filme sozinho, rir de si mesmo numa situação extremamente dramatica, não é para poucos..., uma pena ter cortado
a cena masturbatória, já que o filme tem base numa estoria real não poderia deixar nada de lado..., para estomagos e corações fracos
não assista...já para as pessoas de coragem e determinação é uma cartilha!
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