domingo, 11 de janeiro de 2015

ESPÍRITO SELVAGEM

Nota 3,5 Mesmo com várias qualidades técnicas, longa deixa a desejar em sua narrativa e ritmo

Para quem gosta de um cinema mais alternativo ou mais puxado para o estilo clássico, é comum a revolta ao se depararem com a programação dos cinemas cada vez mais voltada a projetos comerciais e a mesma situação se repetir nas opções das locadoras, mas tal situação não é novidade. Centenas de bons projetos todos os anos chegam ao público de forma extremamente tímida e rapidamente caem no ostracismo. Todavia, entre os títulos que se encaixam nesta longa lista alguns parecem involuntariamente clamar por esse esquecimento como é o caso de Espírito Selvagem que curiosamente reúne diversas características que ao menos lhe garantiriam certa visibilidade mesmo com o passar dos anos, porém, sua extrema lentidão impressa em cada cena é seu calcanhar de Aquiles. Adaptado do premiado livro “All The Pretty Horses”, de Cormac McCarthy, um best-seller do início dos anos 90, a trama tem pedigree, mas o roteirista Ted Tally, vencedor do Oscar por O Silêncio dos Inocentes, não soube segurar as rédeas da história que tem como protagonistas John Cole (Matt Damon) e Lacey Rawlins (Henry Thomas), dois jovens texanos que estão em busca de uma vida melhor no final da década de 1940. Decididos a encarar novos desafios, a dupla sai do Texas à cavalo rumo ao México. No meio do caminho eles conhecem Jimmy Blevins (Lucas Black), um jovem problemático que está roubando os cavalos de propriedades privadas, mas sem saberem desse seu desvio de conduta os amigos acabam aceitando o rapaz para seguir viagem junto. Blevin é o responsável pela maior parte dos problemas que os dois caubóis vão enfrentar, mas Cole também irá encontrar um amor nessa trajetória. Ele se apaixona por Alejandra (Penélope Cruz), filha de um rico fazendeiro, mas essa união está ameaçada, pois até preso o rapaz irá ser, além de perder a companhia do amigo de cavalgada Rawlins. Após a captura de Cole, a trama ganha mais fôlego mostrando seu amadurecimento diante das adversidades, mas principalmente por causa do empenho de seu intérprete que já demonstrava ser um grande ator, mesmo não repetindo um desempenho semelhante a que apresentou em Gênio Indomável, até então seu principal trabalho. 

Embora o roteiro seja desenvolvido sem pressa, o que comprometeu bastante a condução do longa foi a direção do também ator Billy Bon Thorthon que voltava a ocupar o cargo de diretor após cerca de quatro anos afastado da função, mesmo tendo seu projeto anterior, Na Corda Bamba, uma carreira de sucesso em premiações, inclusive no Oscar. Ele não se deixou seduzir por estes fatos e demorou a voltar a assumir um projeto atrás das câmeras, mas quando retornou parece que não se sentiu a vontade e de certo modo até distante do material de trabalho. Quem teve contato com a obra literária original afirma que Thorthon simplesmente fez a transposição de praticamente tudo o que estava contido nas páginas do livro, deixando assim de dar um toque especial à película que carece de uma identidade. Com o respaldo de uma publicação de sucesso, um elenco com ao menos dois nomes de peso já na época e um quê de filme de velho-oeste, esta obra assumidamente tinha tudo para dar certo comercialmente, mas a preocupação excessiva para criar uma edição que respeitasse a cadência de emoções e desventuras dos personagens e uma atmosfera bucólica acabou dando ao projeto uma aura demasiadamente artística. O que era para ser um trunfo sob o marasmo do mercado acabou voltando-se contra o longa. Ficando em cima do muro, Espírito Selvagem acabou não conseguindo definir bem com qual tipo de público gostaria de se comunicar e assim a obra foi desprezada até mesmo em solo americano. E não se pode isentar de culpa os produtores que acabaram adiando a estréia várias vezes até que o filme chegou aos cinemas em plena época em que outros títulos disputavam a atenção dos votantes das premiações, uma tentativa clara de encaixar nesses eventos aquele que poderia ser o longa independente infiltrado em meio aos gigantes da indústria na época. Com uma bela fotografia e figurinos e locações caprichados que devem agradar aos saudosistas dos clássicos românticos do passado, é uma pena que a trama não consiga envolver totalmente o espectador e até mesmo o seu gancho romântico seja apresentado de forma muito fria e ligeira. Aliás, a julgar por esta que foi uma das primeiras interpretações de Penélope Cruz em produções americanas, é um pouco difícil explicar como ela conseguiu demarcar seu espaço em Hollywood já que, como diz o ditado, a primeira impressão é a que fica. Em suma, infelizmente é preciso constatar que apesar do capricho técnico, o espírito selvagem desta produção ficou apenas no título.

Drama - 135 min - 2000 

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