Nota 7,0 Filmado em preto-e-branco, estética acaba sobressaindo ao conteúdo desta obra
O famoso cineasta, roteirista e
produtor francês Luc Besson, de O Quinto Elemento, apresenta aqui
um trabalho, no mínimo, curioso. Sem filmar desde a enésima versão de Joana
D’Arc que lançou em 1999, o diretor retoma seu posto atrás das câmeras
investindo em um visual diferenciado para marcar sua volta em grande estilo. Filmado
em preto-e-branco e utilizando interessantes ângulos e panorâmicas para
capturar as cenas, Angel-A é uma obra que não é de encantar grandes platéias, mas
vale a pena dar uma conferida para ter contato com um cinema de qualidade
técnica irretocável, divertido e com novas possibilidades, porém, uma opção
longe dos “filmes-cabeça” como se costuma rotular tudo que venha do velho
continente. A história criada pelo próprio cineasta nos apresenta a André
(Jamel Debbouze), um rapaz com quase trinta anos, mas que não tem sorte e vive
afogado em dívidas gigantescas, o que o mantém na mira de perigosíssimos
gângsteres que agem nos arredores de Paris. Sem ter como renegociar suas
pendências e sem crédito na praça, André resolve acabar com sua própria vida.
Quando está prestes a se jogar de uma ponte ele nota que uma bela jovem também
pretende fazer o mesmo. Ela pula e no impulso o rapaz também se atira na água e
a resgata. Ela é Ângela (Rie Rasmussen), uma mulher muito especial, que
impressiona por sua altura, que entrou em sua vida para trazer muitas
transformações positivas, mesmo que para isso ela precise usar táticas um pouco
mais violentas. Os dois acabam descobrindo que têm muito em comum, mas que um
relacionamento entre eles pode ser impossível. Assumindo todos os cargos
possíveis dos bastidores, Besson continua demonstrando que seu talento é mesmo
para criar visuais interessantes, neste caso recorrendo a uma estética
considerada ultrapassada curiosamente para captar as mais belas paisagens
daquela que é chamada de Cidade-Luz.
O roteiro é sarcástico com
ótimas piadas e sacadas tanto no texto quanto nas imagens, como quando a bela
loira está fazendo uma boa ação e seu corpo é filmado próximo a uma estátua com
asas dando a impressão de que ela é um anjo. Aliás, é isso mesmo que ela é,
porém um anjo muito excêntrico. A moça veio com a missão de salvar o rapaz
cheio de problemas e que estava a ponto de acabar com sua própria vida, mas
adotou um disfarce um tanto diferente. No lugar da tradicional bata comprida,
asas e uma auréola, a moça usa roupas curtas, lingerie provocante e se
equilibra em cima de sapatos altos. Encarnando o perfil de prostituta, ela
resolve as pendências do seu protegido de forma peculiar e um tanto
questionável. Apesar do visual sexy, Ângela não deixa de bancar o anjo da
guarda e transmite edificantes mensagens a André, este que encontra forças para
se reerguer e não deixar mais que lhe pisoteiem. Com jeitão de produto
hollywoodiano, esta é uma produção independente européia de muito requinte e
estilo, porém, muitos acusam Besson de plagiar ou roubar descaradamente algumas
ideias do cultuado Asas do Desejo, trabalho de muito sucesso dos
anos 80 dirigido por Wim Wenders. De qualquer forma, brilhantemente
fotografado, editado e com interpretações muito convincentes de Debbouze e de
sua musa inspiradora, atores cujo contraste físico causa um impacto
interessante, Angel-A é uma produção que mantém
no espectador um sorriso no rosto boa parte do tempo, apesar do aparente visual
dark e da história que começa original, mas descamba para o clichê da redenção.
Flertando entre a comédia e o drama, o filme é uma agradável viagem surreal com
pitadas de dúvidas existencialistas, mas provavelmente não mudará a vida de
ninguém, afinal o que se pode esperar de um trabalho que se preocupa muito mais
com a plasticidade do que com a história? Todavia uma boa opção para fugir da
mesmice.
Romance - 90 min - 2005
2 comentários:
Não conhecia esse filme e pelo seu texto descobri que preciso assisti-lo rapidamente.
Adoro produções que brincam de fletar entre gêneros, além disso, sua análise do filme me lembrou, vagamente, Asas do Desejo. Um filme que amo.
Valeu pela ótima dica.
Acredito que qualquer um que mude para algo melhor faz a sua redenção, mesmo que relativa. A mensagem de filme é clara: olhe para dentro de si que, apesar da tragédia humana, há bondade, ternura e amor, virtudes que precisam ser desveladas. E esse é o grande desafio do ser humano ao longo da vida: encontrar-se. É um bom filme para cada um pensar um pouco sobre si. Assistam.
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