sábado, 17 de janeiro de 2015

ANGEL-A

Nota 7,0 Filmado em preto-e-branco, estética acaba sobressaindo ao conteúdo desta obra

O famoso cineasta, roteirista e produtor francês Luc Besson, de O Quinto Elemento, apresenta aqui um trabalho, no mínimo, curioso. Sem filmar desde a enésima versão de Joana D’Arc que lançou em 1999, o diretor retoma seu posto atrás das câmeras investindo em um visual diferenciado para marcar sua volta em grande estilo. Filmado em preto-e-branco e utilizando interessantes ângulos e panorâmicas para capturar as cenas, Angel-A é uma obra que não é de encantar grandes platéias, mas vale a pena dar uma conferida para ter contato com um cinema de qualidade técnica irretocável, divertido e com novas possibilidades, porém, uma opção longe dos “filmes-cabeça” como se costuma rotular tudo que venha do velho continente. A história criada pelo próprio cineasta nos apresenta a André (Jamel Debbouze), um rapaz com quase trinta anos, mas que não tem sorte e vive afogado em dívidas gigantescas, o que o mantém na mira de perigosíssimos gângsteres que agem nos arredores de Paris. Sem ter como renegociar suas pendências e sem crédito na praça, André resolve acabar com sua própria vida. Quando está prestes a se jogar de uma ponte ele nota que uma bela jovem também pretende fazer o mesmo. Ela pula e no impulso o rapaz também se atira na água e a resgata. Ela é Ângela (Rie Rasmussen), uma mulher muito especial, que impressiona por sua altura, que entrou em sua vida para trazer muitas transformações positivas, mesmo que para isso ela precise usar táticas um pouco mais violentas. Os dois acabam descobrindo que têm muito em comum, mas que um relacionamento entre eles pode ser impossível. Assumindo todos os cargos possíveis dos bastidores, Besson continua demonstrando que seu talento é mesmo para criar visuais interessantes, neste caso recorrendo a uma estética considerada ultrapassada curiosamente para captar as mais belas paisagens daquela que é chamada de Cidade-Luz.

O roteiro é sarcástico com ótimas piadas e sacadas tanto no texto quanto nas imagens, como quando a bela loira está fazendo uma boa ação e seu corpo é filmado próximo a uma estátua com asas dando a impressão de que ela é um anjo. Aliás, é isso mesmo que ela é, porém um anjo muito excêntrico. A moça veio com a missão de salvar o rapaz cheio de problemas e que estava a ponto de acabar com sua própria vida, mas adotou um disfarce um tanto diferente. No lugar da tradicional bata comprida, asas e uma auréola, a moça usa roupas curtas, lingerie provocante e se equilibra em cima de sapatos altos. Encarnando o perfil de prostituta, ela resolve as pendências do seu protegido de forma peculiar e um tanto questionável. Apesar do visual sexy, Ângela não deixa de bancar o anjo da guarda e transmite edificantes mensagens a André, este que encontra forças para se reerguer e não deixar mais que lhe pisoteiem. Com jeitão de produto hollywoodiano, esta é uma produção independente européia de muito requinte e estilo, porém, muitos acusam Besson de plagiar ou roubar descaradamente algumas ideias do cultuado Asas do Desejo, trabalho de muito sucesso dos anos 80 dirigido por Wim Wenders. De qualquer forma, brilhantemente fotografado, editado e com interpretações muito convincentes de Debbouze e de sua musa inspiradora, atores cujo contraste físico causa um impacto interessante, Angel-A é uma produção que mantém no espectador um sorriso no rosto boa parte do tempo, apesar do aparente visual dark e da história que começa original, mas descamba para o clichê da redenção. Flertando entre a comédia e o drama, o filme é uma agradável viagem surreal com pitadas de dúvidas existencialistas, mas provavelmente não mudará a vida de ninguém, afinal o que se pode esperar de um trabalho que se preocupa muito mais com a plasticidade do que com a história? Todavia uma boa opção para fugir da mesmice.

Romance - 90 min - 2005 

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2 comentários:

renatocinema disse...

Não conhecia esse filme e pelo seu texto descobri que preciso assisti-lo rapidamente.

Adoro produções que brincam de fletar entre gêneros, além disso, sua análise do filme me lembrou, vagamente, Asas do Desejo. Um filme que amo.


Valeu pela ótima dica.

Natanael Elói disse...

Acredito que qualquer um que mude para algo melhor faz a sua redenção, mesmo que relativa. A mensagem de filme é clara: olhe para dentro de si que, apesar da tragédia humana, há bondade, ternura e amor, virtudes que precisam ser desveladas. E esse é o grande desafio do ser humano ao longo da vida: encontrar-se. É um bom filme para cada um pensar um pouco sobre si. Assistam.